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JANIO DE FREITAS
A pista
A duvidosa história do míssil, surgida da interpretação
de um nome mal pronunciado
ao telefone por um preso, dá o
toque de sensacionalismo sempre necessário ao jornalismo do
gênero global, seja da TV ou impresso, mas não é o resultado
mais importante da escuta dos
celulares de traficantes presos
no Rio.
Há três semanas, aqui mesmo,
o artigo "A tarefa da força" ligava o crescimento da presença e
da ferocidade dos bandidos à facilidade com que passaram a
dispor de armamento sofisticado. "As fronteiras, vá lá, são peneiras incontroláveis, mas o armamento que entra é transportado, depositado e distribuído
nos centros urbanos e suas redondezas: por que não há, nunca, descoberta policial dessa atividade e desses depósitos, como
acontece com drogas?"
Embora a irrelevância atribuída a esta parte dos telefonemas gravados, nela estão algumas informações preciosas sobre a aquisição, pelos traficantes, de equipamentos especiais
de comunicação e armas sofisticadas. Há citação de pelo menos
um nome -Rubinho- de contrabandista. Está feita a identificação do seu ponto: age a partir da cidade de São Paulo, de
onde coordena as compras no
exterior, a entrada e a distribuição no Brasil. E, como ele diz,
tem contato no mundo inteiro"
e "é difícil [alguém" pedir uma
coisa e [ele" não arrumar".
Com a apreensão dos celulares
usados na penitenciária de Bangu 1, é possível, em princípio, até
mesmo a identificação do telefone utilizado pelo contrabandista na conversa em que combina
novos fornecimentos com um
dos traficantes. A Polícia Federal e a polícia paulista igualam-se, agora, na dívida de completar a identificação do contrabandista e prendê-lo. Mas não
só isso. Ele é apenas a ponta final de uma rede a ser destrinchada, cujos canais, ao que
consta há muito tempo, passam
por setores policiais e por burocracias alfandegárias.
A audácia da criminalidade
está ligada ao seu poderoso instrumental. As fontes desse fornecimento são, forçosamente,
muito menos numerosas que as
de drogas. Cortá-lo -e o tal Rubinho por certo não é único- é,
provavelmente, o caminho mais
curto para quebrar o poder do
crime ligado ao tráfico.
É indispensável uma palavra
de louvor à juíza Sônia Maria
Garcia Gomes Pinto e aos promotores Magno Reis, Valéria
Videira, Rogério Sá e Cláudia
Condak, pela maneira corajosa
como honram suas funções. Em
tempo: a ação da juíza e dos
promotores em nada se assemelha à da juíza Denise Frossard e
do então promotor e hoje deputado Antonio Carlos Biscaia, cuja ação foi essencialmente política.
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