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São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 2003

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Para Jorge Bornhausen, governo assumiu uma posição ""antiamericanista", que pode prejudicar o país

PFL critica Lula por se esquivar da Alca

RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na véspera do encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o presidente do Estados Unidos, George W. Bush, em Washington, o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), reafirmou ontem suas críticas à posição do governo brasileiro em relação às negociações para a criação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
De acordo com Bornhausen, ao se colocar ""de forma fortuita contra a Alca", o governo brasileiro está assumindo uma posição ""antiamericanista", que é ""atrasada" e pode trazer consequências negativas para o país.
Na última quarta-feira, durante viagem a Assunção (Paraguai) para encontro do Mercosul, Lula voltou a usar a palavra "anexação", associada a acordos comerciais, mas sem citar a Alca ou os EUA (na época da campanha eleitoral, Lula usou o termo "anexação" para se referir à Alca).
Durante sua estada no Paraguai, Lula declarou que "o processo de integração da União Européia é o que teve mais sucesso, em primeiro lugar porque não houve um processo de anexação. Os países pobres receberam ajuda para seu desenvolvimento".
Leia a seguir trechos da entrevista de Bornhausen à Folha:
 

Folha- Em que o governo brasileiro está errando em relação à Alca?
Jorge Bornhausen -
O governo, em vez de colocar suas posições muito claras, tem procurado se colocar de forma fortuita contra a Alca. O governo tem uma posição antiamericanista, que é uma posição atrasada. Em vez de defender os pontos brasileiros de forma muito clara, o governo se refugia, deixa de apresentar argumentos e se coloca, de forma fortuita, contra a Alca. Isso terá consequências.

Folha - Quais as consequências que o senhor prevê?
Bornhausen -
Do jeito que as coisas estão sendo conduzidas, o Brasil corre o risco de ficar afastado da Alca, o que tratará alto prejuízo para o país.

Folha- Como o governo brasileiro deveria agir?
Bornhausen -
Deveria, em primeiro lugar, colocar os empresários brasileiros discutindo o problema da Alca, porque o processo todo está vinculado a ações comerciais. [Não há] Ninguém melhor que os empresários brasileiros para representar o Brasil. No meu entendimento, o governo brasileiro está colocando uma posição "itamaratyana", em vez de olhar os pontos positivos e negativos do comércio do Brasil. É um equívoco, uma posição atrasada e dúbia. E revela a dualidade da política brasileira: de um lado, no Palácio do Planalto, o Marco Aurélio Garcia [assessor especial da Presidência], e, de outro, o ministro das Relações Exteriores [Celso Amorim]. Garcia dizendo tudo que há de atrasado e o Itamaraty buscando recuperar o prejuízo.

Folha - Por que o sr. discorda da prioridade dada pelo governo brasileiro ao Mercosul?
Bornhausen -
Esse guarda-chuva do Mercosul é absolutamente desprovido de qualquer relação lógica com o processo da Alca, porque o Brasil tem condições de decidir os seus problemas de ordem internacional sem precisar arrastar os países do Mercosul para uma solução, já que esses países estão sem absolutas condições para um diálogo mais forte com os Estados Unidos.
O Brasil tem condições de assumir uma posição com coragem, em vez de se colocar sob um guarda-chuva frágil, de países que não têm a menor condição de ajudar, como a Argentina, o Paraguai e o Uruguai.

Folha - Por que o sr. acha que o governo brasileiro assume essa posição?
Bornhausen -
É um antiamericanismo atrasado, feito por um assessor do Palácio do Planalto, o Marco Aurélio Garcia, que chegou ao máximo de comparar o encontro dos presidentes Lula e Bush com o encontro de Mao Tse-Tung com o de Richard Nixon [em 1972].

Folha - Como o senhor vê a idéia do governo de retirar da Alca alguns temas de interesse do país em resposta à decisão dos EUA de deixar para discussão na OMC (Organização Mundial do Comércio) os incentivos agrícolas, tema que interessa ao Brasil?
Bornhausen -
Acho que o ponto é que o Brasil deveria discutir dentro da Alca todos os seus interesses com força, exigindo que os Estados Unidos também coloquem as suas posições. Jogando para outro órgão a definição, elas não existirão. É falta de coragem do governo brasileiro de apresentar seus pontos de vista.



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