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Para Jorge Bornhausen, governo assumiu uma posição ""antiamericanista", que pode prejudicar o país
PFL critica Lula por se esquivar da Alca
RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na véspera do encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
com o presidente do Estados Unidos, George W. Bush, em Washington, o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC),
reafirmou ontem suas críticas à
posição do governo brasileiro em
relação às negociações para a criação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
De acordo com Bornhausen, ao
se colocar ""de forma fortuita contra a Alca", o governo brasileiro
está assumindo uma posição ""antiamericanista", que é ""atrasada"
e pode trazer consequências negativas para o país.
Na última quarta-feira, durante
viagem a Assunção (Paraguai) para encontro do Mercosul, Lula
voltou a usar a palavra "anexação", associada a acordos comerciais, mas sem citar a Alca ou os
EUA (na época da campanha eleitoral, Lula usou o termo "anexação" para se referir à Alca).
Durante sua estada no Paraguai,
Lula declarou que "o processo de
integração da União Européia é o
que teve mais sucesso, em primeiro lugar porque não houve um
processo de anexação. Os países
pobres receberam ajuda para seu
desenvolvimento".
Leia a seguir trechos da entrevista de Bornhausen à Folha:
Folha- Em que o governo brasileiro está errando em relação à Alca?
Jorge Bornhausen - O governo,
em vez de colocar suas posições
muito claras, tem procurado se
colocar de forma fortuita contra a
Alca. O governo tem uma posição
antiamericanista, que é uma posição atrasada. Em vez de defender
os pontos brasileiros de forma
muito clara, o governo se refugia,
deixa de apresentar argumentos e
se coloca, de forma fortuita, contra a Alca. Isso terá consequências.
Folha - Quais as consequências
que o senhor prevê?
Bornhausen - Do jeito que as coisas estão sendo conduzidas, o
Brasil corre o risco de ficar afastado da Alca, o que tratará alto prejuízo para o país.
Folha- Como o governo brasileiro
deveria agir?
Bornhausen - Deveria, em primeiro lugar, colocar os empresários brasileiros discutindo o problema da Alca, porque o processo
todo está vinculado a ações comerciais. [Não há] Ninguém melhor que os empresários brasileiros para representar o Brasil. No
meu entendimento, o governo
brasileiro está colocando uma posição "itamaratyana", em vez de
olhar os pontos positivos e negativos do comércio do Brasil. É um
equívoco, uma posição atrasada e
dúbia. E revela a dualidade da política brasileira: de um lado, no
Palácio do Planalto, o Marco Aurélio Garcia [assessor especial da
Presidência], e, de outro, o ministro das Relações Exteriores [Celso
Amorim]. Garcia dizendo tudo
que há de atrasado e o Itamaraty
buscando recuperar o prejuízo.
Folha - Por que o sr. discorda da
prioridade dada pelo governo brasileiro ao Mercosul?
Bornhausen - Esse guarda-chuva
do Mercosul é absolutamente
desprovido de qualquer relação
lógica com o processo da Alca,
porque o Brasil tem condições de
decidir os seus problemas de ordem internacional sem precisar
arrastar os países do Mercosul para uma solução, já que esses países
estão sem absolutas condições
para um diálogo mais forte com
os Estados Unidos.
O Brasil tem condições de assumir uma posição com coragem,
em vez de se colocar sob um guarda-chuva frágil, de países que não
têm a menor condição de ajudar,
como a Argentina, o Paraguai e o
Uruguai.
Folha - Por que o sr. acha que o
governo brasileiro assume essa posição?
Bornhausen - É um antiamericanismo atrasado, feito por um assessor do Palácio do Planalto, o
Marco Aurélio Garcia, que chegou ao máximo de comparar o
encontro dos presidentes Lula e
Bush com o encontro de Mao
Tse-Tung com o de Richard Nixon [em 1972].
Folha - Como o senhor vê a idéia
do governo de retirar da Alca alguns temas de interesse do país em
resposta à decisão dos EUA de deixar para discussão na OMC (Organização Mundial do Comércio) os incentivos agrícolas, tema que interessa ao Brasil?
Bornhausen - Acho que o ponto
é que o Brasil deveria discutir
dentro da Alca todos os seus interesses com força, exigindo que os
Estados Unidos também coloquem as suas posições. Jogando
para outro órgão a definição, elas
não existirão. É falta de coragem
do governo brasileiro de apresentar seus pontos de vista.
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