São Paulo, quarta-feira, 20 de junho de 2007

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Cresce pressão no Senado para Renan deixar o cargo

Até PMDB já acha inviável a permanência do parlamentar na presidência da Casa

Polícia entrega ao conselho resultado de perícia, que é inconclusiva; Wellington Salgado foi escolhido como o novo relator do processo


Leonardo Wen/Folha Imagem
O presidente do Senado, Renan Calheiros, chega a seu gabinete


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em desabafo no fim do dia de ontem, o próprio presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), duvidava do êxito da articulação para encerrar hoje no Conselho de Ética o processo a respeito da origem de recursos para quitação de despesas pessoais.
A Folha apurou que a cúpula do PMDB também acha inviável liquidar o caso hoje e que isso tornará insustentável a permanência de Renan na presidência do Senado. Emissários de Renan não tiveram sucesso em tentar arregimentar apoio do PSDB e do DEM para encerrar o processo hoje.
José Sarney (PMDB-AP), um aliado importante de Renan, também teme pelo desfecho do caso. Ontem, procurava uma saída que pudesse incluir o envio das investigações ao STF (Supremo Tribunal Federal), retirando o foco do Senado.
Ao longo do dia de ontem, senadores do PT, do PSB, do PDT, do PSDB e do DEM defenderam o aprofundamento da perícia nos documentos apresentados por Renan.
Tucanos e democratas cogitam pedir formalmente no conselho hoje a extensão da investigação a respeito do presidente do Senado.
A PF entregou ontem à noite o resultado da perícia feita nos documentos apresentados pelo presidente do Senado. A Folha apurou que a perícia confirmou a veracidade dos documentos, mas ressalvou que isso não possibilita comprovar se o gado foi ou não negociado. Isso fragiliza a defesa do senador e complica sua situação.
Responsáveis pela análise técnica disseram que seria preciso mais uns dez dias de trabalho da PF para uma averiguação completa.
O presidente do Conselho de Ética, Sibá Machado (PT-AC), distribuiria ontem laudo da perícia aos integrantes do órgão, que disseram depender disso para orientar sua posição.
Apenas o PMDB queria o arquivamento.

Lula
A Folha apurou que o Planalto já trabalha com o cenário de queda de Renan. Articuladores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva avaliavam até a semana passada que Renan continuaria no posto. Agora, o quadro complicou.
O assunto chegou pela primeira vez ao plenário da Casa, onde o senador Pedro Simon (PMDB-RS), pediu o afastamento de Renan da presidência do Senado.
"Eu acho que esse é o momento que Sua Excelência, por conta própria, deveria renunciar ao seu mandato de presidente do Senado", afirmou.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) apoiou a idéia: "Estivesse eu na circunstância do presidente Renan Calheiros poderia afastar-me pelo tempo necessário para inteiramente esclarecer isso".
Jefferson Péres (PDT-AM) afirmou: "Ele deveria ter se licenciado temporariamente da presidência. Na última reunião do conselho ele interferiu dando telefonemas e convidando os conselheiros para ir em seu gabinete. Ele precisa guardar distanciamento".
O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) afirmou que "ele deveria ter se afastado desde o início". "Quanto mais perdura na presidência, mais difícil fica a situação dele."

Reunião de cúpula
Integrantes da cúpula do PMDB estiveram reunidos ontem com Renan. À noite, estava previsto novo encontro, na residência oficial do presidente do Senado. O partido decidiu não discutir publicamente o assunto e cancelou reunião da Executiva Nacional que estava marcada para essa semana.
Na reunião, estavam presentes o líder na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), os senadores Sarney e o líder do governo, Romero Jucá (RR). Na tarde de ontem Sarney chegou a sondar em plenário integrantes do Conselho de Ética para medir a temperatura política.
Nos bastidores, já há até discussão sobre substitutos. No cenário de queda de Renan, peemedebistas dizem que Sarney e Roseana Sarney (PMDB-MA) seriam possíveis candidatos com apoio do governo.
Sarney e Roseana, porém, têm sido discretos desde o surgimento da operação Navalha, que derrubou Silas Rondeau do Ministério das Minas e Energia. Uma eleição para presidir o Senado poderia colocá-los em exposição no noticiário.
Ao ser questionado pela imprensa se pretendia se afastar da presidência, Renan foi lacônico: "Jamais". Aos aliados, ele disse que isso seria interpretado como um atestado de culpa e que perderia força na condução do processo no conselho.
Nos bastidores, porém, Renan demonstra abatimento. Senadores e deputados que conversaram com ele ontem disseram que já não demonstrava a mesma disposição da semana passada.
Em outra frente, o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) percorreu ontem gabinetes de senadores buscando apoio para uma campanha intitulada "Fora, Renan".
"De um lado tem os caminhos legais e de outro tem a pressão da sociedade", disse.

Relator
Na noite de ontem, a liderança do PMDB no Senado divulgou que o relator substituto será Wellington Salgado (PMDB-MG), um dos maiores defensores de Renan Calheiros e que diz ser favorável ao arquivamento sumário.
A informação, no entanto, não havia sido confirmada pelos integrantes do conselho.
A pedido de Renan, o então relator Epitácio Cafeteira (PTB-MA) não entregou o cargo, apenas se afastou. Assim é nomeado um relator "ad hoc", ou seja, substituto, que só pode complementar o relatório, sem mudar a conclusão. Cafeteira pediu o arquivamento do caso.
O PSDB e o DEM marcaram reunião para fechar hoje posição após analisar a perícia, mas não vêem clima para arquivamento. "A Casa não quer saber somente se as notas fiscais são reais, mas se fizeram parte de uma operação real. Queremos uma perícia suficiente para um voto confortável", disse o líder do DEM, senador José Agripino (RN). (KENNEDY ALENCAR, FERNANDO RODRIGUES, FERNANDA KRAKOVICS E ANDREZA MATAIS)

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