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Cresce pressão no Senado para Renan deixar o cargo
Até PMDB já acha inviável a permanência do parlamentar na presidência da Casa
Polícia entrega ao conselho resultado de perícia, que é inconclusiva; Wellington Salgado foi escolhido como o novo relator do processo
Leonardo Wen/Folha Imagem
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O presidente do Senado, Renan Calheiros, chega a seu gabinete |
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em desabafo no fim do dia de
ontem, o próprio presidente do
Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), duvidava do êxito
da articulação para encerrar
hoje no Conselho de Ética o
processo a respeito da origem
de recursos para quitação de
despesas pessoais.
A Folha apurou que a cúpula
do PMDB também acha inviável liquidar o caso hoje e que isso tornará insustentável a permanência de Renan na presidência do Senado. Emissários
de Renan não tiveram sucesso
em tentar arregimentar apoio
do PSDB e do DEM para encerrar o processo hoje.
José Sarney (PMDB-AP), um
aliado importante de Renan,
também teme pelo desfecho do
caso. Ontem, procurava uma
saída que pudesse incluir o envio das investigações ao STF
(Supremo Tribunal Federal),
retirando o foco do Senado.
Ao longo do dia de ontem, senadores do PT, do PSB, do
PDT, do PSDB e do DEM defenderam o aprofundamento
da perícia nos documentos
apresentados por Renan.
Tucanos e democratas cogitam pedir formalmente no
conselho hoje a extensão da investigação a respeito do presidente do Senado.
A PF entregou ontem à noite
o resultado da perícia feita nos
documentos apresentados pelo
presidente do Senado. A Folha
apurou que a perícia confirmou a veracidade dos documentos, mas ressalvou que isso
não possibilita comprovar se o
gado foi ou não negociado. Isso
fragiliza a defesa do senador e
complica sua situação.
Responsáveis pela análise
técnica disseram que seria preciso mais uns dez dias de trabalho da PF para uma averiguação completa.
O presidente do Conselho de
Ética, Sibá Machado (PT-AC),
distribuiria ontem laudo da perícia aos integrantes do órgão,
que disseram depender disso
para orientar sua posição.
Apenas o PMDB queria o arquivamento.
Lula
A Folha apurou que o Planalto já trabalha com o cenário
de queda de Renan. Articuladores do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva avaliavam até a
semana passada que Renan
continuaria no posto. Agora, o
quadro complicou.
O assunto chegou pela primeira vez ao plenário da Casa,
onde o senador Pedro Simon
(PMDB-RS), pediu o afastamento de Renan da presidência do Senado.
"Eu acho que esse é o momento que Sua Excelência, por
conta própria, deveria renunciar ao seu mandato de presidente do Senado", afirmou.
O senador Eduardo Suplicy
(PT-SP) apoiou a idéia: "Estivesse eu na circunstância do
presidente Renan Calheiros
poderia afastar-me pelo tempo
necessário para inteiramente
esclarecer isso".
Jefferson Péres (PDT-AM)
afirmou: "Ele deveria ter se licenciado temporariamente da
presidência. Na última reunião
do conselho ele interferiu dando telefonemas e convidando
os conselheiros para ir em seu
gabinete. Ele precisa guardar
distanciamento".
O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) afirmou que
"ele deveria ter se afastado desde o início". "Quanto mais perdura na presidência, mais difícil fica a situação dele."
Reunião de cúpula
Integrantes da cúpula do
PMDB estiveram reunidos ontem com Renan. À noite, estava
previsto novo encontro, na residência oficial do presidente
do Senado. O partido decidiu
não discutir publicamente o assunto e cancelou reunião da
Executiva Nacional que estava
marcada para essa semana.
Na reunião, estavam presentes o líder na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), os senadores Sarney e o líder do governo, Romero Jucá (RR). Na
tarde de ontem Sarney chegou
a sondar em plenário integrantes do Conselho de Ética para
medir a temperatura política.
Nos bastidores, já há até discussão sobre substitutos. No
cenário de queda de Renan,
peemedebistas dizem que Sarney e Roseana Sarney (PMDB-MA) seriam possíveis candidatos com apoio do governo.
Sarney e Roseana, porém,
têm sido discretos desde o surgimento da operação Navalha,
que derrubou Silas Rondeau do
Ministério das Minas e Energia. Uma eleição para presidir o
Senado poderia colocá-los em
exposição no noticiário.
Ao ser questionado pela imprensa se pretendia se afastar
da presidência, Renan foi lacônico: "Jamais". Aos aliados, ele
disse que isso seria interpretado como um atestado de culpa e
que perderia força na condução
do processo no conselho.
Nos bastidores, porém, Renan demonstra abatimento.
Senadores e deputados que
conversaram com ele ontem
disseram que já não demonstrava a mesma disposição da
semana passada.
Em outra frente, o deputado
Fernando Gabeira (PV-RJ)
percorreu ontem gabinetes de
senadores buscando apoio para
uma campanha intitulada "Fora, Renan".
"De um lado tem os caminhos legais e de outro tem a
pressão da sociedade", disse.
Relator
Na noite de ontem, a liderança do PMDB no Senado divulgou que o relator substituto será Wellington Salgado (PMDB-MG), um dos maiores defensores de Renan Calheiros e que
diz ser favorável ao arquivamento sumário.
A informação, no entanto,
não havia sido confirmada pelos integrantes do conselho.
A pedido de Renan, o então
relator Epitácio Cafeteira
(PTB-MA) não entregou o cargo, apenas se afastou. Assim é
nomeado um relator "ad hoc",
ou seja, substituto, que só pode
complementar o relatório, sem
mudar a conclusão. Cafeteira
pediu o arquivamento do caso.
O PSDB e o DEM marcaram
reunião para fechar hoje posição após analisar a perícia, mas
não vêem clima para arquivamento. "A Casa não quer saber
somente se as notas fiscais são
reais, mas se fizeram parte de
uma operação real. Queremos
uma perícia suficiente para um
voto confortável", disse o líder
do DEM, senador José Agripino (RN).
(KENNEDY ALENCAR, FERNANDO RODRIGUES, FERNANDA KRAKOVICS E ANDREZA MATAIS)
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