São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 2008

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ELEIÇÕES 2008 / SÃO PAULO

ENTREVISTA

PAULO MALUF


Se falarem de trânsito, vão fazer campanha para Maluf

Pepista diz que leva vantagem por ter "imagem de maior construtor" do Estado

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Valendo-se da imagem de construtor, o pré-candidato do PP, ex-prefeito Paulo Maluf, 76, promete: "em dois anos, resolvo os pontos graves de congestionamento de São Paulo".
Antes da entrevista, o deputado, que tem 8% de intenções de voto segundo a pesquisa Datafolha de maio, diz discordar dos que pregam restrições a carros de passeio. "Sabe o que a pessoa quer em primeiro lugar? Pensava que fosse casa. Mas é carro. Porque carro é liberdade."

 

FOLHA - O sr. estuda a adoção do slogan "Anda, São Paulo". Vai explorar o trânsito na campanha?
PAULO MALUF
- Se o trânsito é o mote para campanha, todos estão fazendo campanha para Paulo Maluf. Para prefeito, sou o mais credenciado. Tenho a imagem de maior construtor do Estado de São Paulo.

FOLHA - Em 2004, o sr. teve 11,9% dos votos, seu pior desempenho, mesmo com essa imagem...
MALUF
- Primeiro, o trânsito não era o problema da campanha de 2004. Segundo, em 1988, Serra foi o quinto na disputa. Em 1996, mesmo apoiado por presidente e governador, não foi ao segundo turno. Cada eleição é uma eleição. Se Serra tivesse desistido, hoje não era governador. Se Lula tivesse desistido, hoje não era presidente. O fato de ter tido vitórias e derrotas não me esmorece.

FOLHA - O sr. não teme que seja uma tendência?
MALUF
- Pergunte à Marta [Suplicy] por que, com a máquina e com a Presidência a favor dela, não foi reeleita. Não a culpo. Temos aí três candidatos com boas tendências. A Marta tem competência, é decidida. Se a campanha fosse para construir 30 CEUs, quem sabe ela estava mais caracterizada que eu?

FOLHA - O sr. não gosta das obras viárias da Marta?
MALUF
- Não as conheço. Os dois tuneizinhos que a Marta fez... Não quero criticar, mas são os dois únicos túneis que terminam num semáforo. O Alckmin é muito bom quadro. Mas não conheço obras dele na capital. O [Gilberto] Kassab está fazendo uma bela administração. Mas acredito que, em quantidade de obras a serviço da cidade, tenho preferência.

FOLHA - As obras que propõe não contrariam a tendência de investimento no transporte coletivo?
MALUF
- Não. Quem começou o metrô de São Paulo foram os prefeitos Faria lima e Paulo Maluf. Quando alguém diz que precisa construir metrô, digo: tem que imitar o Paulo Maluf.

FOLHA - Qual comportamento o presidente Lula deve ter em SP?
MALUF
- Não sei. Digo que acho que vou ganhar a eleição. Este momento é de um construtor. Fiz o Minhocão em 13 meses. Nenhuma das minhas pontes demorou mais que um ano e meio. Hoje, quando vejo uma obra demorar oito anos, me pergunto: cadê a Folha?

FOLHA - A que atribui o alto índice de rejeição?
MALUF
- Há um ano e meio estou fora da mídia e, com todo o respeito à liberdade de imprensa, de todos os discursos antológicos que fiz na Câmara, não li uma linha na Folha. Entendo que a Folha, o [jornal O] "Estado" [de S. Paulo] e a [revista] "Veja", para vender, tenham que só publicar o negativo. Na campanha, terei, em 45 dias, dois minutos e meio no almoço e no jantar mais as inserções. Tenho rejeição? Acredito que a pesquisa seja verdadeira. Tenho de me esforçar para ver onde está a injustiça e tentar corrigi-la.

FOLHA - É uma tentativa de limpar a biografia?
MALUF
- Minha biografia foi feita pelas obras que fiz. Minha biografia não é a Folha que vai fazer. São meus 41 anos de trabalho. Depois que eu morrer, a Folha vai dizer que sou bonzinho, que vou fazer muita falta. Washington Luís foi prefeito, governador, presidente, foi preso e deportado. Getúlio Vargas, se não tivesse se suicidado, seria preso. Juscelino foi preso, deportado, exilado. Jânio Quadros foi preso 90 dias em Mato Grosso. Quem mais foi preso?

FOLHA - O sr.
MALUF
- O Lula não foi? Fui, por uma injustiça. O STF corrigiu. Vida pública é isso. Tem amigos pelas obras que fez. Tem adversários porque representa ameaça e a imprensa, que quer vender jornais à sua custa.

FOLHA - Na campanha, teme que usem os processos contra o sr.?
MALUF
- Tenho 41 anos de vida pública sem uma condenação. Quem me julga é a Justiça.

FOLHA - Ainda acha que o PSDB está por trás de denúncias contra o sr.?
MALUF
- Não. O Ministério Público está lá vendo os problemas dos tucanos com a Alstom. O Ministério Público é feito de gente muito correta. Acontece que, como eles têm muito espaço na mídia, alguns têm vontade de aparecer. Atacaram Covas, Alckmin, Marta, Lula.

FOLHA - Se associarem o sr. a Celso Pitta, vai lembrar que Kassab foi secretário de Pitta?
MALUF
- Não. Errei. A posteriori. Quando indiquei o Pitta, foi na maior boa-fé. Ele não foi bom prefeito, a culpa é dele.

FOLHA - O sr. está conversando com Duda Mendonça?
MALUF
- Duda é um gênio. Em 1994, eu era prefeito, o Duda me trouxe um Romanée-Conti 71. Eu, que sou razoavelmente inteligente, perguntei: "Que favor quer que te faça?" Ele disse: "Quero que me libere para fazer a campanha do Lula". O Lula ainda era aquele barbudo expropriador. Disse: "Só quando o Lula se distanciar dessas idéias de Fidel Castro". Em 2002, eu disse: "Lula está maduro. Você está liberado". Já disse que, do jeito que o PT defende banqueiro, me sinto comunista.


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