São Paulo, sábado, 20 de junho de 2009

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Pode haver injustiças em indenizações no Araguaia, diz União

Presidente da Comissão de Anistia admite existência de eventuais falhas por falta de provas das histórias narradas por camponeses

Comissão anunciou nesta semana aprovação de 44 pedidos de indenização a moradores por maus-tratos sofridos no regime militar

SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A SÃO DOMINGOS DO ARAGUAIA (PA)

Presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Paulo Abrão Júnior admitiu ontem a possibilidade de haver injustiças em relação ao pagamento de indenizações a supostos perseguidos pelo regime militar durante a guerrilha do Araguaia. Da mesma forma, disse ele à Folha, pode haver perseguidos que tiveram negado os pedidos de indenização por não conseguirem provar à comissão maus-tratos sofridos.
"Muitas injustiças podem estar sendo cometidas, em ambas as situações", afirmou Abrão Júnior, advogado e professor universitário que está em São Domingos do Araguaia (540 km ao sul de Belém), um dos focos da guerrilha organizada na selva amazônica pelo então clandestino PC do B.
O objetivo da estada da comissão em São Domingos do Araguaia é tomar novos depoimentos e anunciar as primeiras indenizações a camponeses que alegam ter sido prejudicados por forças do governo que, no início dos anos 70, combateram guerrilheiros na região do Araguaia (sudeste do Pará, sul do Maranhão e norte do Tocantins). Calcula-se em cerca de 70 os guerrilheiros mortos e desaparecidos.

Conclusão
Após dois anos de estudos sobre 304 casos relatados por moradores, a comissão só concluiu a respeito de 84 -44 pedidos de indenização foram aprovados; 40, negados, conforme anúncio em praça pública feito anteontem por Abrão Júnior e pelo ministro Tarso Genro (Justiça). No total, serão pagos cerca de R$ 4,9 milhões.
A demora é creditada por Abrão Júnior à dificuldade de comprovação documental das histórias narradas. A maioria dos depoentes não apresenta provas de que foram presos, torturados, tiveram terras confiscadas, lavouras queimadas e empregos perdidos.
Assim, para aprovar a indenização, a comissão se vale de depoimentos de pessoas que viveram os mesmos episódios, além de livros, reportagens e relatos tomados desde o início da década pelo Ministério Público Federal e pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.
"Mesmo quando não há documentação, ao cruzarmos os depoimentos pode surgir o que chamamos de presunção da veracidade. Nesses casos, quando a comissão se sente convencida, a indenização é concedida."
Abrão Júnior admite que pode haver falhas nesse processo, daí a suspeita de que injustiças podem estar sendo cometidas.
Os camponeses que tiveram os pedidos rejeitados podem recorrer à comissão, que ontem tomou cerca de 110 novos depoimentos.
Caso haja nova negativa, os que se sentirem prejudicados podem ir à Justiça. O vice-presidente da Associação dos Torturados da Guerrilha do Araguaia, Sezostrys da Costa, disse que ações judiciais estão sendo estudadas pela entidade.


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