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Pode haver injustiças em indenizações no Araguaia, diz União
Presidente da Comissão de Anistia admite existência de eventuais falhas por falta de provas das histórias narradas por camponeses
Comissão anunciou nesta semana aprovação de 44 pedidos de indenização a moradores por maus-tratos sofridos no regime militar
SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A SÃO DOMINGOS DO ARAGUAIA (PA)
Presidente da Comissão de
Anistia do Ministério da Justiça, Paulo Abrão Júnior admitiu
ontem a possibilidade de haver
injustiças em relação ao pagamento de indenizações a supostos perseguidos pelo regime
militar durante a guerrilha do
Araguaia. Da mesma forma,
disse ele à Folha, pode haver
perseguidos que tiveram negado os pedidos de indenização
por não conseguirem provar à
comissão maus-tratos sofridos.
"Muitas injustiças podem estar sendo cometidas, em ambas
as situações", afirmou Abrão
Júnior, advogado e professor
universitário que está em São
Domingos do Araguaia (540
km ao sul de Belém), um dos
focos da guerrilha organizada
na selva amazônica pelo então
clandestino PC do B.
O objetivo da estada da comissão em São Domingos do Araguaia é tomar novos depoimentos e anunciar as primeiras indenizações a camponeses que alegam ter sido prejudicados por
forças do governo que, no início
dos anos 70, combateram guerrilheiros na região do Araguaia
(sudeste do Pará, sul do Maranhão e norte do Tocantins). Calcula-se em cerca de 70 os guerrilheiros mortos e desaparecidos.
Conclusão
Após dois anos de estudos sobre 304 casos relatados por
moradores, a comissão só concluiu a respeito de 84 -44 pedidos de indenização foram aprovados; 40, negados, conforme
anúncio em praça pública feito
anteontem por Abrão Júnior e
pelo ministro Tarso Genro
(Justiça). No total, serão pagos
cerca de R$ 4,9 milhões.
A demora é creditada por
Abrão Júnior à dificuldade de
comprovação documental das
histórias narradas. A maioria
dos depoentes não apresenta
provas de que foram presos,
torturados, tiveram terras confiscadas, lavouras queimadas e
empregos perdidos.
Assim, para aprovar a indenização, a comissão se vale de depoimentos de pessoas que viveram os mesmos episódios, além
de livros, reportagens e relatos
tomados desde o início da década pelo Ministério Público Federal e pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos
Deputados.
"Mesmo quando não há documentação, ao cruzarmos os
depoimentos pode surgir o que
chamamos de presunção da veracidade. Nesses casos, quando
a comissão se sente convencida, a indenização é concedida."
Abrão Júnior admite que pode haver falhas nesse processo,
daí a suspeita de que injustiças
podem estar sendo cometidas.
Os camponeses que tiveram
os pedidos rejeitados podem
recorrer à comissão, que ontem
tomou cerca de 110 novos depoimentos.
Caso haja nova negativa, os
que se sentirem prejudicados
podem ir à Justiça. O vice-presidente da Associação dos Torturados da Guerrilha do Araguaia, Sezostrys da Costa, disse
que ações judiciais estão sendo
estudadas pela entidade.
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