São Paulo, terça-feira, 20 de agosto de 2002

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MARINHA MERCANTE

Irregularidade está no ressarcimento de fretes no Amazonas

PF apura nova fraude em navegação

KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

A Polícia Federal do Amazonas investiga mais uma fraude no Fundo da Marinha Mercante. Os desvios descobertos até agora chegam a R$ 60 milhões e foram constatados nos valores do ressarcimento de fretes feito pelo fundo. Os fraudadores seriam empresas que operam no setor de navegação de transporte fluvial de combustível em longas distâncias na Amazônia.
No domingo, a Folha revelou uma fraude milionária também envolvendo o FMM (Fundo da Marinha Mercante), só que no Pará. Em Belém, fraudadores arregimentam empresários e fazem propostas superfaturadas para a construção de navios. O rombo chega a US$ 100 milhões, segundo as primeiras investigações.
No Amazonas, a fraude é diferente e envolve o frete. Sediadas em Manaus, as empresas-são nove acusadas em sete inquéritos que tramitam em sigilo- simularam o transporte de gasolina e óleo diesel usando notas fiscais de transações para revendedores do interior do Acre, Amazonas e de Rondônia. Os nomes das empresas não foram revelados.
Para driblar a fiscalização e garantir o ressarcimento, as empresas pagavam inclusive o ICMS (Imposto de Circulação sobre Mercadorias e Serviços).
Com as notas fiscais, o FMM ressarce, pelo BNDES [agente financeiro", 40% sobre o valor do frete cobrado no transporte de combustível pelas empresas, conforme a lei nš 9.432 de 97. A legislação, a mesma que beneficia empresas de navegação no reparo de embarcações e aquisição de novas frotas, é um incentivo ao setor para desenvolvimento regional.
A pedido do Ministério dos Transportes, que administra o FMM, a PF montou uma megaoperação chamada de "Ouro Negro" e fez os agentes percorrerem, de avião, barcos e lanchas, 29 municípios dos três Estados.

Bloqueio
Antes da investigação, o FMM já havia detectado a fraude. Em fevereiro de 2000 começou a acompanhar um aumento de até 60% nos pedidos de ressarcimentos das empresas e bloqueou os saques no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que poderiam chegar a R$ 150 milhões. Mas precisava de provas incontestáveis.
As empresas, segundo relatório do delegado federal que coordenou a operação, Geovane Veras Pessoa, realizam o esquema desde 98. Segundo ele, o principal indício da simulação eram as notas fiscais que demonstravam discrepâncias entre o volume transportado, apresentado pela empresa, e os limites estabelecidos como parâmetro de consumo para a localidade pela ANP (Agência Nacional de Petróleo).
Em três meses de investigações os agentes federais encontraram pontos de revenda inexistentes e clandestinos. E cidades que sequer tinham veículos automotores. "Nós descobrimos através de documentos que tinham localidades com capacidade de tancagem de 8.000 a 10 mil litros e eram estocados 80 milhões", disse o diretor do Departamento de Marinha Mercante, Vitorino Donech.
Nessas localidades os moradores são ribeirinhos que têm como principal meio de transporte as voadeiras (uma canoa com motor de popa) e compram combustível em galões ou garrafas de plásticos de pequenos revendedores.
Uma empresa chegou a sofisticação de criar um município fictício chamado de Mário Lobão, no Acre. "Para Mário Lobão, a empresa chegou a transportar mensalmente 600 mil litros de combustível. Consultei no IBGE e no Incra e descobri que o município não existia", disse o delegado.


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