São Paulo, terça-feira, 20 de agosto de 2002

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MILITARES

Concorrentes suspeitam de acordo com grupo sueco, empresa dos EUA e a companhia aérea; Quintão fala hoje

Licitação da FAB pode envolver a Varig

IGOR GIELOW
COORDENADOR DA AGÊNCIA FOLHA

Um pacote que envolveria a capitalização da Varig é a nova especulação sobre a licitação para a compra de novos caças para a FAB (Força Aérea Brasileira). A concorrência, de preço mínimo de US$ 700 milhões, visa substituir com 12 aviões a frota de Mirage, que será aposentada em 2005.
Para fazer frente à torrente de contra-informação no mercado, o Ministério da Defesa marcou entrevista para hoje em que o ministro Geraldo Quintão e o brigadeiro Carlos Almeida Baptista, comandante da Aeronáutica, falarão sobre a concorrência.
Para integrantes de dois dos cinco consórcios que oferecem os caças, o pacote envolvendo a Varig estaria sendo articulado pela área econômica do governo -leia-se Ministério do Desenvolvimento. Oficialmente, o ministro Sergio Amaral não fala sobre o assunto.
A equação é complexa e envolve o Gripen, avião sueco que surgiu como favorito após uma reunião do Alto Comando da FAB com Baptista, na semana passada.
O consórcio que o oferece é composto pela BAe (British Aerospace, britânica) e pela Saab (sueca). Essa última é controlada pela holding Investor, do grupo Wallenberg, o maior conglomerado de empresas suecas -Volvo, Ericsson, Electrolux e SKF são algumas de suas integrantes.
O grupo Wallenberg, segundo o acordo que estaria sendo costurado, aportaria até US$ 500 milhões de capital na Varig -que ontem anunciou exatamente um plano para facilitar esse tipo de operação. O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) daria uma contrapartida.
Com isso, além de boa parte do controle da companhia aérea brasileira, o grupo Wallenberg também veria seus caças Gripen sendo adotados pela FAB.
Essa operação teria como beneficiária a General Electric, uma das maiores credoras da Varig, que tem a receber quase US$ 1 bilhão entre dívidas e contratos de leasing. Isso porque a GE é a fabricante de 50% das turbinas do Gripen. Nominalmente, o motor RM12 é feito pela sueca Volvo, mas ele apenas é uma versão do motor GE404 da empresa americana feita sob licença e com metade das peças feitas nos EUA.
Ainda assim, a conta não fecha totalmente, e é esse o nó na cabeça dos concorrentes do consórcio que vende o Gripen hoje.

EUA
O esquema seria bem-visto pelos EUA, porque uma de suas maiores empresas aeronáuticas seria favorecida. Como o caça norte-americano na licitação, o F-16 (Lockheed Martin), estaria desfavorecido, haveria uma compensação. Além disso, boa parte dos sistemas do Gripen é americana.
Segundo a revista "IstoÉ", o secretário do Tesouro dos EUA, Paul O'Neill, teria pressionado por uma decisão do gênero. O objetivo seria resguardar interesses norte-americanos -e, de quebra, alijando os franceses da Dassault (com o Mirage 2000BR) e os russos da Rosoboronexoport (Sukhoi Su-35) de um novo mercado.
Ambos os consórcios se aliaram a empresas brasileiras, a Embraer no caso dos franceses e a Avibrás, no caso russo. Já o consórcio Gripen assinou, em 6 de junho, acordo com a VEM, a empresa de logística da Varig. O objetivo: fornecer manutenção de, entre outras coisas, turbinas do Gripen. Acordo semelhante foi feito com a Lockheed e com outra concorrente russa, a RAC (MiG-29).
O ministro Quintão e o brigadeiro Baptista deverão jogar luz sobre essas e outras dúvidas, como o fato de o avião sueco, tido nas avaliações técnicas da FAB como um bom aparelho, mas inadequado para o Brasil por ter pouco raio de ação, ser agora o favorito.



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