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MILITARES
Concorrentes suspeitam de acordo com grupo sueco, empresa dos EUA e a companhia aérea; Quintão fala hoje
Licitação da FAB pode envolver a Varig
IGOR GIELOW
COORDENADOR DA AGÊNCIA FOLHA
Um pacote que envolveria a capitalização da Varig é a nova especulação sobre a licitação para a
compra de novos caças para a
FAB (Força Aérea Brasileira). A
concorrência, de preço mínimo
de US$ 700 milhões, visa substituir com 12 aviões a frota de Mirage, que será aposentada em 2005.
Para fazer frente à torrente de
contra-informação no mercado, o
Ministério da Defesa marcou entrevista para hoje em que o ministro Geraldo Quintão e o brigadeiro Carlos Almeida Baptista, comandante da Aeronáutica, falarão sobre a concorrência.
Para integrantes de dois dos cinco consórcios que oferecem os caças, o pacote envolvendo a Varig
estaria sendo articulado pela área
econômica do governo -leia-se
Ministério do Desenvolvimento.
Oficialmente, o ministro Sergio
Amaral não fala sobre o assunto.
A equação é complexa e envolve
o Gripen, avião sueco que surgiu
como favorito após uma reunião
do Alto Comando da FAB com
Baptista, na semana passada.
O consórcio que o oferece é
composto pela BAe (British Aerospace, britânica) e pela Saab
(sueca). Essa última é controlada
pela holding Investor, do grupo
Wallenberg, o maior conglomerado de empresas suecas -Volvo, Ericsson, Electrolux e SKF são
algumas de suas integrantes.
O grupo Wallenberg, segundo o
acordo que estaria sendo costurado, aportaria até US$ 500 milhões
de capital na Varig -que ontem
anunciou exatamente um plano
para facilitar esse tipo de operação. O BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico
e Social) daria uma contrapartida.
Com isso, além de boa parte do
controle da companhia aérea brasileira, o grupo Wallenberg também veria seus caças Gripen sendo adotados pela FAB.
Essa operação teria como beneficiária a General Electric, uma
das maiores credoras da Varig,
que tem a receber quase US$ 1 bilhão entre dívidas e contratos de
leasing. Isso porque a GE é a fabricante de 50% das turbinas do Gripen. Nominalmente, o motor
RM12 é feito pela sueca Volvo,
mas ele apenas é uma versão do
motor GE404 da empresa americana feita sob licença e com metade das peças feitas nos EUA.
Ainda assim, a conta não fecha
totalmente, e é esse o nó na cabeça
dos concorrentes do consórcio
que vende o Gripen hoje.
EUA
O esquema seria bem-visto pelos EUA, porque uma de suas
maiores empresas aeronáuticas
seria favorecida. Como o caça
norte-americano na licitação, o F-16 (Lockheed Martin), estaria desfavorecido, haveria uma compensação. Além disso, boa parte dos
sistemas do Gripen é americana.
Segundo a revista "IstoÉ", o secretário do Tesouro dos EUA,
Paul O'Neill, teria pressionado
por uma decisão do gênero. O objetivo seria resguardar interesses
norte-americanos -e, de quebra,
alijando os franceses da Dassault
(com o Mirage 2000BR) e os russos da Rosoboronexoport (Sukhoi Su-35) de um novo mercado.
Ambos os consórcios se aliaram
a empresas brasileiras, a Embraer
no caso dos franceses e a Avibrás,
no caso russo. Já o consórcio Gripen assinou, em 6 de junho, acordo com a VEM, a empresa de logística da Varig. O objetivo: fornecer manutenção de, entre outras
coisas, turbinas do Gripen. Acordo semelhante foi feito com a Lockheed e com outra concorrente
russa, a RAC (MiG-29).
O ministro Quintão e o brigadeiro Baptista deverão jogar luz
sobre essas e outras dúvidas, como o fato de o avião sueco, tido
nas avaliações técnicas da FAB como um bom aparelho, mas inadequado para o Brasil por ter pouco
raio de ação, ser agora o favorito.
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