São Paulo, terça-feira, 20 de agosto de 2002

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SÃO PAULO

Candidato do PMDB diz que ex-governador queria ocupar tempo na TV; substituto é deputado Lamartine Posella

Morais abandona disputa e acusa Quércia

Jorge Araújo/Folha Imagem
O escritor Fernando Morais em entrevista na qual anunciou sua renúncia à disputa pelo governo de SP


JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O PMDB paulista viveu ontem patética dissensão, com a decisão do escritor e jornalista Fernando Morais, 56, de retirar sua candidatura ao governo do Estado.
Para substituí-lo, e para não perder a oportunidade de utilizar desde o início o horário eleitoral gratuito, o partido designou o deputado federal e pastor evangélico Lamartine Posella, 41.
Morais acusou Orestes Quércia, presidente regional do PMDB e agora candidato ao Senado, de tentar se apoderar dos minutos de propaganda gratuita que a legislação reserva ao candidato a governador. O que, segundo Morais, reduziria sua candidatura ao estatuto de "humilhante figuração".
Em nota à imprensa, ele diz que "a remota ilusão de que eu pudesse me prestar a tal papel revela que o partido e seu presidente escolheram o candidato errado".
Quércia disse ontem, no início da noite, que o episódio não deixará cicatrizes no PMDB.
"Até o Lula, que sempre foi meu inimigo, quer que eu apareça ao lado dele. Era estranho que o Fernando Morais não quisesse falar de mim", afirmou ontem o candidato ao Senado.
Segundo a Justiça Eleitoral, três vezes por semana as emissoras de rádio e TV transmitirão 5 minutos e 16 segundos de propaganda do PMDB paulista para o governo do Estado. Os candidatos ao Senado recebem uma fatia bem menor, de 1 minuto e 18 segundos.
Pesquisa do Datafolha publicada ontem atribuía a Morais apenas 1% das intenções de voto. Orestes Quércia, mais bem posicionado, surgia em segundo lugar, com 26%, na disputa pelas duas cadeiras ao Senado.

Representatividade
O PMDB, que praticamente controlou a política do Estado entre 1983 e 1988, está hoje reduzido a uma representatividade eleitoral bastante singela.
São seus apenas 5 dos 54 vereadores paulistanos, 2 dos 94 deputados estaduais e 9 dos 70 federais. Tem 94 dos 645 prefeitos, mas geralmente em municípios de menor expressão regional.
O partido elegeu seu último governador em 1990, Luiz Antônio Fleury Filho.
Nas duas sucessões estaduais seguintes não chegou ao segundo turno, obtendo 8,6% dos votos em 1994, com a candidatura Barros Munhoz, e 3,67% em 1998, quando o próprio Quércia concorreu e teve Morais como vice.
A candidatura de Morais foi lançada na convenção regional de 28 de junho. Durou 52 dias.
Deputado estadual eleito em 1978 e reeleito em 1982, foi secretário da Cultura no governo de Quércia (1987-1990) e da Educação no governo Fleury (1991-1994). É autor de livros como "A Ilha", "Olga" e "Chatô", best-sellers no Brasil e republicados em tradução por 18 editoras estrangeiras.
O agora ex-candidato era apontado por seus adversários como mero "laranja", lançado apenas com o propósito de assegurar a Quércia uma boa fatia do horário eleitoral na mídia eletrônica.
Morais disse que seu desempenho no debate de há nove dias na TV Bandeirantes, quando polemizou com o governador Geraldo Alckmin (PSDB), fez com que ele próprio e sua equipe acreditassem na possibilidade de crescer eleitoralmente. Precisaria para isso, no entanto, usar todo o tempo de propaganda de que dispunha.
Na terça da semana passada, recebeu do publicitário Toni Cotrim, contratado por Quércia, o esboço dos três primeiros programas. Mesmo com Quércia legalmente impedido de aparecer, seus feitos como governador eram praticamente evocados durante todos os minutos do PMDB.
Quércia e Morais se falaram por telefone e se encontraram na sexta à noite num comício em Guarulhos. Combinaram conversar sobre o assunto no sábado.
O candidato ao Senado esteve à tarde, por pouco mais de uma hora, no apartamento do candidato a governador. A prioridade, disse Quércia na versão de Morais, seria eleger um senador. Todos os artifícios deveriam então ser utilizados, mesmo em detrimento do hipotético crescimento da candidatura ao governo do Estado.
Ao final do encontro, Morais se recusava a entregar seus minutos de TV, e Quércia sugeria nova conversa no dia seguinte.
Mas em lugar de procurar o candidato a governador, Quércia enviou quatro emissários de confiança com o recado de que o formato da propaganda eleitoral já estava decidido pelo partido.


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