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ELEIÇÕES 2006 / FINANCIAMENTO
Múltis resistem a doar para campanhas
Para afastar arrecadadores, empresas estrangeiras argumentam que legislação de seu país de origem não permite contribuição
Jantares com empresários ocorrem discretamente, sem divulgação na agenda de Lula e Alckmin; doações devem ser pulverizadas
DA REPORTAGEM LOCAL
Sob o argumento de que obedecem à orientação da matriz,
as multinacionais -inclusive
redes de hotéis- são as mais resistentes ao assédio de arrecadadores nessas eleições. Integrantes do comando das campanha de Geraldo Alckmin e
Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência contam que os executivos alegam que a legislação
em seus países de origem não
permite contribuição financeira em disputa eleitoral.
"Tenho falado que, para participarem de qualquer atividade do país, eles respeitam a legislação do país. Por isso, gostaria que fizessem uma reavaliação da orientação das matrizes,
que a legislação brasileira é essa. E que a gente mereceria um
pouquinho mais de consideração e respeito. Imagine se todas
as empresas pensassem assim,
não haveria financiamento legal de campanha", relata o tesoureiro da campanha de Lula,
José de Filippi Júnior, gaguejando ao responder se há propostas de doação informal, o
chamado caixa dois.
Em tempos de mensalão, a
relutância das multinacionais é
só um reflexo do momento em
que as empresas encontraram
na crise um pretexto ideal para
tentar escapar nessas eleições.
Segundo encarregados de arrecadação e empresários, não são
raras as propostas de doação
via caixa dois.
Excluídos da agenda oficial
dos candidatos, os jantares e
encontros ganham um ar de
clandestinidade. Alckmin, por
exemplo, tem se reunido com
empresários pelo menos uma
vez por semana, nas noites de
segunda-feira.
Já tomou café da manhã com
executivos das teles, se reuniu
na Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) e jantou com
representantes dos setores sucro-alcooleiro, de alimentos,
multinacionais e comércio varejista.
Na casa do presidente da rede Riachuelo, o jantar promovido pelo Instituto de Desenvolvimento Varejista reuniu grandes empresas do setor, do Mac
Donald's a lojas de departamento. Filho do empresário
Abílio Diniz, João Paulo Diniz
está organizando um outro jantar para Alckmin, que deverá
acontecer até o fim do mês.
O encontro com o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva só não
foi agendado porque o IDV não
aceitou a proposta de reunião
conjunta com a Associação
Brasileira dos Atacadistas.
Sob a coordenação do empresário Adhemar Cesar Ribeiro
-cunhado do candidato- o comando de campanha de Alckmin montou um escritório exclusivamente para o funcionamento de seu comitê financeiro. Os tucanos dividiram tarefas entre os encarregados de arrecadação de fundos.
Nos encontros, não é Alckmin quem pede a contribuição.
Mas um de seus emissários. Na
reunião com executivos da área
de telecomunicação, a abordagem aconteceu antes que o presidenciável tivesse chegado.
Segundo aliados de Lula e
Alckmin não são raros os casos
em que empresários associam a
contribuição à liberação de recursos por obras executadas
pelos governos federal e do Estado de São Paulo.
Temendo exposição e retaliação de quem venha a ganhar
a eleição, as empresas devem
endossar a tendência de pulverização das doações. Nos encontros, os empresários acenam com a possibilidade de colaboração, mas o dinheiro só sai
mais tarde e depende de um fator: a perspectiva de vitória.
(CATIA SEABRA)
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