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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA
Concessionárias driblam lei para doar a candidatos
Empresas que têm concessão do Estado, proibidas de financiar campanhas, doaram ao menos R$ 30 mi entre 2002 e 2004
Dinheiro de prestadoras de serviço público chega até campanhas políticas por empresas associadas; presidente do TSE vê fraude
RUBENS VALENTE
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Por uma brecha da lei, concessionárias do serviço público
das áreas de rodovias e telecomunicações doaram ao menos
R$ 30,2 milhões para partidos e
candidatos no país entre 2002 e
2004 -principalmente para o
PT e o PSDB.
A lei eleitoral proíbe candidatos e partidos de receber
qualquer tipo de doação de
concessionárias e permissionárias do serviço público.
Segundo levantamento feito
pela Folha, as donas da concessão fizeram doações por meio
de empresas controladoras, associadas ou controladas, ligadas à holding que detém autorização do governo de operar.
O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Marco
Aurélio de Mello, disse que a lei
está sendo burlada. "A rigor,
nós temos uma fraude. O espírito da lei é impedir promiscuidade entre público e privado",
afirmou o ministro, que analisou o assunto em tese, sem interpretar um caso concreto.
"É uma burla ao sistema",
disse o advogado eleitoral e
professor da Universidade de
Brasília Tarcísio Carvalho.
No entender do presidente
do TSE, campanhas e candidatos também deveriam recusar
doações de empresas de lixo
que têm contratos com o serviço público -o que as enquadra
como "permissionárias".
O número de doações dissimuladas seria então muito
maior. Segundo dados do TSE e
do site "Às Claras", da ONG
Transparência Brasil, apenas
duas empresas do setor, a Vega
Engenharia Ambiental e a
Qualix Serviços Ambientais,
doaram R$ 11,1 milhões nos
anos eleitorais de 2002 e 2004,
tanto para candidatos de partidos diversos como para as direções nacional e estadual de São
Paulo do PT e do PSDB.
A prática das doações dissimuladas, visível nas prestações
de conta das campanhas anteriores, também deverá ocorrer
nas deste ano. No último dia 1º,
o candidato à Presidência Geraldo Alckmin (PSDB-SP) se
reuniu em São Paulo com 16
executivos de teles. Antes de
sua chegada, o empresário
João Dória Júnior, colaborador
da campanha tucana, falou da
importância de contribuir para
a candidatura de Alckmin.
Como trata-se de concessionárias, João Dória recomendou que doações fossem feitas
por meio das controladoras ou
dos fornecedores das teles.
Pedágios
O caso das concessionárias
que exploram pedágios em rodovias federais e estaduais é o
financeiramente mais expressivo. Grandes e médias empreiteiras que detêm autorizações
do Estado e da União para operar aparecem como doadoras
oficiais de cerca de R$ 23 milhões nos últimos quatro anos.
A construtora OAS detém
32,87% das ações da CRT (Concessionária Rio Teresópolis),
responsável por 156 km de rodovias no Rio de Janeiro.
A empreiteira doou R$ 4,3
milhões para a direção do PT
em 2002, 2003 e 2004 e mais
R$ 2,72 milhões na campanha
de 2002 -incluindo R$ 550 mil
para o comitê do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva.
O Grupo CCR domina 1.452
km de rodovias sob responsabilidade de seis concessionárias,
incluindo a Nova Dutra, que liga São Paulo e Rio de Janeiro, e
a AutoBan, no interior paulista.
O grupo é comandado por
empreiteiras como a Andrade
Gutierrez, por meio da sua empresa AG Concessões, e a Camargo Corrêa. Nos milhares de
prestações de conta ao TSE,
não há doação eleitoral do CCR.
Mas as duas empreiteiras
doaram, juntas, R$ 2,7 milhões
a candidatos diversos nas eleições de 2002. A de Camargo
Corrêa foi feita por meio de outra empresa do grupo, a Cavo.
A empreiteira Carioca Christiani Nielsen, que detém 24%
das ações da concessionária
Viapar, exploradora de 546 km
de rodovias no Paraná, doou
R$ 1 milhão para campanhas
eleitorais de 2004, R$ 400 mil
para a direção do PT de São
Paulo em 2003 e mais R$ 400
mil para a campanha de Luiz
Inácio Lula da Silva em 2002.
Outra dona de 24% da mesma concessionária, a Queiroz
Galvão doou R$ 260 mil na
campanha eleitoral de 2002.
Na área das telecomunicações, aparecem doações no valor total de R$ 6,2 milhões.
A Star One, resultado de uma
parceria da Embratel com uma
empresa francesa, doou R$ 3,37
milhões em 2002, dos quais
R$ 750 mil ao comitê de Lula.
O TSE registra ainda R$ 410
mil em doações do shopping
Iguatemi, da família Jereissati,
dona da La Fonte, que tem participação na companhia Telemar Norte Leste. A Andrade
Gutierrez, dona da AG Telecom, volta a figurar na área das
teles, ao deter 10,28% das ações
da Telemar Participações.
O grupo Pirelli, dono de parte
da Olivetti (incorporada à Telecom Italia), doou ao menos R$
2,4 milhões em 2002 e 2004.
Na disputa municipal, a divisão
foi milimétrica: R$ 501 mil ao
PSDB e R$ 500 mil ao PT.
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