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PT obedece a Lula e enterra os processos contra Sarney
Planalto garantiu os votos que absolveram o presidente do Senado no Conselho de Ética
PMDB acena trégua e engaveta acusações contra líder tucano; "hoje é o dia em que o PT abraçou Sarney e Collor", diz Pedro Simon
VALDO CRUZ
ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após intervenção direta do
Palácio do Planalto na bancada
do PT, os senadores petistas
deram ontem os votos necessários para arquivar todos os processos contra o presidente da
Casa, José Sarney (PMDB-AP),
no Conselho de Ética.
Com apoio dos três petistas
-Ideli Salvatti (SC), Delcídio
Amaral (MS) e João Pedro
(AM)-, os 11 processos contra
Sarney foram mantidos arquivados pelo placar de 9 a 6 em
duas votações. Entre as acusações contra ele estava a de usar
o cargo para cometer irregularidades como a nomeação e
exoneração de parentes por
atos secretos.
Muitos senadores votaram
fora do microfone, visivelmente constrangidos. "Por todos os
acontecimentos, isso foi desconfortável", disse Delcídio.
Em seguida, não só com o
apoio do PT mas também do
PMDB, foi arquivado, em definitivo e por unanimidade, o
processo contra o líder do
PSDB, Arthur Virgílio (AM).
O PMDB foi o autor da representação contra o tucano e,
mesmo assim, deu seus três votos para arquivá-la. Entre as denúncias estava a de que ele
manteve funcionário fantasma
no seu gabinete.
O enquadramento petista foi
decidido na manhã de ontem,
antes da sessão do conselho,
durante reunião na sede provisória do governo Lula com o
chefe de gabinete do presidente, Gilberto Carvalho.
A posição dos petistas no
Conselho de Ética transformou
o PT em alvo das críticas e expôs publicamente o racha do
partido no Senado por conta da
interferência presidencial.
"Hoje é o dia em que o PT
abraçou Sarney e Collor, e a
Marina [Silva] saiu", resumiu o
Pedro Simon (PMDB-RS). "O
PT arrebentou hoje sua história", afirmou o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).
As críticas não ficaram restritas à oposição. Vieram até
dos próprios senadores do PT,
como Flávio Arns (PT-PR), que
anunciou que deixará o partido.
Líder do governo no Congresso, Ideli Salvatti ouviu a tudo
calada diante da determinação
do presidente Lula de salvar
Sarney, transmitida mais cedo
por Gilberto Carvalho.
Na reunião, o chefe de gabinete presidencial voltou a recorrer ao argumento de que, se
o PT não votasse com Sarney,
haveria o risco de um rompimento com o PMDB, criando
dificuldades para a governabilidade e atrapalhando a aliança
para eleger a ministra Dilma
Rousseff sucessora de Lula.
Estavam presentes o presidente do PT, Ricardo Berzoini,
Mercadante e os três representantes do partido no conselho.
Ao final da reunião, ficou combinado que a senha para o voto
dos petistas seria uma nota de
Berzoini dizendo que o Conselho de Ética não tinha isenção
para julgar Sarney e Virgílio.
"A forma como as denúncias
concentram-se no presidente
do Senado não deixa dúvidas de
que, mais que apurar e reformar, a pretensão é incidir nas
relações entre partidos, que
apoiam o governo ou que podem constituir alianças para as
eleições nacionais e estaduais
do próximo ano", diz a nota.
Principal interessado, Sarney acompanhou a sessão de
seu gabinete. Comentou com
assessores que a nota refletia o
seu pensamento sobre a crise.
Após a sessão, Sarney se reuniu com aliados. Do líder do
PMDB, Renan Calheiros, ouviu
que ele espera que a oposição
entenda a votação unânime a
favor de Arthur Virgílio como
uma trégua. Caso contrário, a
tropa de choque governista retomaria a guerra.
Questionado se a crise estava
superada, Sarney disse que espera que a Casa volte à normalidade. "Acho que todos estamos [satisfeitos] porque ultrapassamos uma fase", disse.
A oposição prometia ontem
recorrer no plenário do Senado
da decisão do Conselho de Ética de arquivar as 11 denúncias
contra Sarney. A Consultoria
da Casa, no entanto, já elaborou parecer no qual informa
que não cabe recurso, pois a
questão se esgota no Conselho.
Apesar do arquivamento das
denúncias contra Sarney no Senado, outras investigações continuam. O Ministério Público
Federal do Distrito Federal
apura de quem eram as ordens
para que os atos administrativos não fossem publicados.
Já o Ministério Público Federal no Maranhão investiga a
Fundação José Sarney em razão da suspeita de que ao menos R$ 500 mil dos recursos repassados pela Petrobras à entidade tenham sido desviados
para empresas fantasmas e empresas da família do senador
-outro fato que o Senado optou por não investigar.
Colaborou a Folha Online
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