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FOLCLORE POLÍTICO
Fechar e abrir
AUGUSTO MARZAGÃO
Certos livreiros das cidades de
Nova York, México, Lisboa,
Paris, Madri e outras capitais estrangeiras têm mais familiaridade com o maranhense José Sarney
do que muito livreiro no Brasil. É
que eles recebem com bastante
frequência o freguês que, além de
comprador certo, incorpora o
charme adicional de ser um escritor de sucesso (com imortalidade
garantida pela Academia Brasileira de Letras), um político proeminente no Brasil e ex-presidente.
Tudo isso constitui um somatório
de boas razões para o atendimento especial que Sarney merece não
só nas livrarias mais famosas como também em nichos de obras
antigas e usadas só conhecidos
dos que realmente amam esses
santuários da intelectualidade.
O escritor Sarney não raro demora duas horas numa livraria,
em busca de um alvo já escolhido
ou à caça de alguma obra especial
que lhe venha aos olhos aleatoriamente. Costuma pedir vários livros de uma só vez e quando ainda para ele desconhecidos faz um
julgamento sumário de sua qualidade ou do seu interesse apenas
folheando-os, aplica a sua técnica
de leitura dinâmica. Outras vantagens ajudam o autor de "O Dono do Mar" e "Saraminda" a
cumprir uma carreira de poeta e
prosador que nem as piores turbulências do período presidencial
interromperam: por exemplo,
uma "memória de elefante" e
uma capacidade de organização
que tange os limites da mania.
É a propósito do turismo livreiro que se conta uma boa história
do folclore sarneysiano. No final
de uma sexta-feira estava o senador pelo Amapá na famosa livraria Bertrano de Lisboa e, ao verificar que não teria mais tempo
naquele dia para terminar o seu
trabalho de busca, perguntou ao
funcionário que o atendia: "Os senhores fecham amanhã, sábado?"
"Não, não fechamos, Excelência."
Satisfeito, Sarney passou a despedir-se do rapaz, dizendo: "Ótimo,
então voltarei aqui amanhã para
completar a minha compra". O
gerente da livraria, também presente, intervêm no assunto: "Lamento muito, Excelência, mas
não trabalhamos no sábado".
Sarney se surpreende: "Como?
Se acabo de ser informado que
amanhã os senhores não fecham". Resposta conclusiva e definitiva do chefe da casa: "Sim, é
verdade. Mas não fechamos porque não abrimos..."
AUGUSTO MARZAGÃO, jornalista, autor do livro "Memorial do Presente", ex-secretário particular dos presidentes Jânio Quadros e José Sarney e ex-secretário de Comunicação Institucional de Itamar Franco, escreve às sextas-feiras nesta seção
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