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DEPOIS DAS URNAS
Resultados do PT determinarão posição de partidos em relação a Lula
Eleição define rearranjo partidário
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O desempenho do PT nas eleições municipais, sobretudo na capital paulista, determinará a viabilidade e o eventual tamanho de
um rearranjo partidário das forças de apoio e oposição ao governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Essa avaliação foi obtida pela
Folha em conversas reservadas
com membros do governo e das
cúpulas do PT, do PMDB, do PFL
e do PSDB.
A eleição paulistana, na qual a
prefeita Marta Suplicy (PT) enfrenta dura disputa contra o tucano José Serra, é simbólica, crê o
Palácio do Planalto. Daí Lula ter
entrado pessoalmente na campanha pró-reeleição de Marta.
Mesmo que tenha um bom desempenho nas capitais e aumente
o número de prefeituras, uma vitória do PT ficará manchada por
uma eventual derrota de Marta.
O PSDB, partido com o qual o
PFL tem se alinhado, teria os dois
maiores orçamentos da União,
depois do governo federal, na
mão: o Estado de São Paulo e a
prefeitura da capital. É uma expectativa de poder, ainda mais
com a eventual vitória de Serra,
que perdeu a eleição presidencial
para Lula dois anos atrás.
Por mais que se relativize o peso
da federalização das eleições municipais no julgamento do governo federal, o resultado dos principais partidos é um sinalizador para o futuro.
Foi assim em 2000, quando o PT
venceu em capitais, conquistou
São Paulo e consolidou a guinada
ao centro do partido para eleger
Lula presidente dois anos depois
contra Serra, o candidato de um
presidente, o tucano Fernando
Henrique Cardoso, que se elegera
duas vezes no primeiro turno.
Na segunda-feira passada, um
jantar do presidente Lula com sete senadores da oposição desencadeou uma série de conversas de
bastidor entre governistas e oposicionistas a respeito de eventual
rearranjo partidário, especialmente no Senado, Casa na qual
Lula tem maioria instável.
ACM e o "G-10"
Em minoria no PFL, partido que
tem feito dura oposição ao governo, o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) articulou com o
ministro da Casa Civil, José Dirceu, o jantar dos oposicionistas
com o presidente.
Na véspera, pensou em cancelar
o encontro, mas viu que a repercussão seria pior. Após o jantar,
Lula avaliou que cometera um erro. Devia ter esperado para fazê-lo
depois do primeiro turno das eleições, em 3 de outubro, ou depois
do segundo turno, no dia 25 do
mesmo mês.
A versão oficial foi uma conversa sobre maioria no Senado, mas
ACM e companhia querem a
prioridade na indicação de cargos
federais em seus Estados.
Dirceu chama de "G-10" o grupo liderado por ACM e a senadora Roseana Sarney (PFL-MA), filha do presidente do Senado, José
Sarney (PMDB-AP). Além de
ACM e Roseana, compõem o "G-10" o tucano Eduardo Siqueira
Campos (TO) e os pefelistas Edison Lobão (MA), Paulo Octávio
(DF), Romeu Tuma (SP), Rodolpho Tourinho (BA), César Borges
(BA), Jonas Pinheiro (MT) e João
Ribeiro (TO).
Se o PT eleger Marta e transmitir a imagem de que houve um julgamento positivo da gestão Lula,
a principal alternativa para ACM
e parte do G-10 será migrar para
um partido da base do governo.
Fala-se no PP de Paulo Maluf,
antigo inimigo do PT que não
poupa elogios a Lula. ACM diz
que poderia levar até 30 deputados para o PP.
Novo partido?
Dificilmente prosperará a articulação para a criação de um novo partido, dizem reservadamente alguns dirigentes políticos.
O motivo: o cálculo do tempo
no horário eleitoral gratuito para
as próximas eleições, em 2006, daria à legenda uns poucos segundos de TV e rádio.
ACM já falou com Dirceu que,
se o governo realmente quiser
bancar um novo partido, teria de
mudar a legislação para permitir
que os deputados da nova legenda
carreguem o tempo. O cálculo do
tempo é baseado na representação na Câmara.
Com esse complicador e diante
do cenário de derrota de Marta,
tenderia a ser mais vantajoso para
ACM, segundo avaliação do próprio cacique em conversas reservadas, continuar a ser um dissidente pró-Lula no PFL.
Base frágil
Também perderia força a tese
de reeleição, pois comprar uma
briga com o PMDB tenderia a fragilizar ainda mais a base do governo Senado.
Na Casa, o governo tem o apoio
oficial de seis partidos (PT,
PMDB, PTB, PPS, PSB e PL) -totalizando 47 senadores de um total de 81. No entanto, em votações
complicadas, essa base é frágil,
tornando o governo dependente
de votos de dissidentes dos 34 senadores de quatro partidos de
oposição (PSDB, PFL, PDT e o
ainda não-oficial P-Sol).
Em junho, o governo sofreu sua
maior derrota no Senado com a
rejeição da medida provisória que
elevava o salário mínimo para R$
260. A Câmara, onde a maioria de
Lula é sólida, reverteu o quadro.
Com um apoio bem amarrado
do "G-10", seja em legendas governistas seja nos atuais partidos
de oposição, Lula avalia que poderia enfrentar com mais tranqüilidade votações complicadas no
Senado. A mais importante será
aprovar o projeto das PPPs (Parcerias Público-Privadas).
Reunião com PMDB
Se o PT conseguir sair forte das
urnas, haverá reflexo positivo na
articulação para tentar aprovar a
emenda constitucional que permitiria a reeleição de Sarney e do
presidente da Câmara, João Paulo
Cunha (PT-SP).
Caso contrário, essa articulação
sofrerá um revés porque há divisão no PMDB. Na semana que
vem, ao retornar de viagem que
fará a Nova York, o presidente
pretende se reunir com dirigentes
peemedebistas, entre eles o líder
do partido no Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para tentar
costurar um acordo a favor da
reeleição. Se falhar, ele próprio
prevê guerra na sua base.
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