São Paulo, segunda-feira, 20 de setembro de 2004

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TODA MÍDIA

O barro e a água

NELSON DE SÁ

O governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, cujo candidato enfrenta um petista no Recife, reclamou da presença de Lula. Dele, no site Agência Nordeste:
- O presidente está vindo nos últimos dias que antecedem o primeiro turno. Então, resolvi deixá-lo à vontade com os seus correligionários.
Nem foi recebê-lo.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, também reclamou, ontem. Dele, segundo a Globo On Line:
- Não há problema no fato de declarar apoio a um candidato. Fazer isso pelo horário eleitoral é normal. O que não é bom para o Brasil é misturar o público com o privado.
Para Alckmin, foi o que fez Lula, ao pedir votos na inauguração. E disse mais:
- Você nunca vai ver o governador aqui, num evento com obra paga por dinheiro público, dizer "vote em fulano".
Os dois governadores nem precisavam questionar os acessos eleitorais de Lula.
Foi o tempo, primeiro, que tratou de expor a inauguração na Radial Leste, em São Paulo. Depois de semanas, choveu demais e veio enchente.
Ontem, lia-se na internet da manifestação dos moradores, queimando pneus. Um deles disse que foi a primeira vez, em décadas, que "o barro e a água" invadiram sua casa.
Segundo, em Pernambuco o próprio Lula expôs a ação eleitoreira, posando com seu candidato, tijolo na mão, um acintoso pedreiro de mentirinha.
 
A Globo fez um registro mínimo sobre Lula, aliás negativo, no SPTV de anteontem:
- Lula inaugurou a obra e, apesar de ter dito que não participaria da campanha, pediu voto para Marta Suplicy.
Destaque para o discurso inusitadamente populista de Lula, só nos sites do governo, partido e campanha -e alguns outros, próximos do petismo.
 
Foi a largada, pelo jeito. Para hoje, segundo a Folha On Line, está programado o ministro da Educação, Tarso Genro.
Ele e Marta "vistoriam obras da Faculdade de Saúde Pública, na zona leste". É de esperar mais governo pela frente.

UM CINEASTA EM HOLLYWOOD


"Variety" anuncia seu especial sobre Salles


Começou com uma entrevista à revista do "New York Times" o lançamento de "Diários de Motocicleta" nos EUA, onde estréia amanhã. Pelo especial que anuncia a hollywoodiana "Variety" e pela entrevista, a cobertura americana se dedicará menos ao ícone Che Guevara do que ao "easy rider" Walter Salles, diretor do filme.
"Easy rider" foi o título no "NYT", para descrever não Che, mas o cineasta e sua biografia. Perguntas e respostas trataram de pontos pouco conhecidos, como viver o maio de 68 em Paris, onde morou com o pai diplomata. Outro trecho falou de um conselho de Fellini, logo aceito, para trocar os documentários para TV pelo cinema.
O "NYT" perguntou também sobre o fato de, com seu próximo filme, que está em finalização, "Dark Water", Salles ter desembarcado em Hollywood. E ele:
- Não tão rápido. Meu filme seguinte [após "Dark Water"] é uma pequena produção sobre quatro irmãos na periferia de São Paulo. Quando se é um diretor latino-americano, você pode ser curioso e olhar, mas tenha sempre a certeza de ter a passagem de volta.

Mais campanha
Lula fez campanha por aqui e viajou a Nova York, para outra campanha, hoje -a de um fome zero mundial.
Era manchete ontem no site do "Le Monde", que citava o presidente Jacques Chirac e Lula como líderes. Era destaque também no "El País", de onde sai um terceiro líder da campanha, José Zapatero. E no Chile do socialista Ricardo Lagos.
De quebra, o "L'Osservatore Romano" defendia a conferência -e o Vaticano divulgava, pelo porta-voz Joaquín Navarro Vals, que o papa envia seu secretário de estado para se juntar aos anunciados "mais de 50 chefes de estado", hoje.
Como se vê, em âmbito politicamente correto, a campanha parece que vai bem.

Bush, não
Mas aí vem a agência Reuters e acrescenta em seu despacho sobre a conferência do fome zero mundial, em destaque:
- Mas o presidente George W. Bush que estará em Nova York na terça, não vai.
Bush abre amanhã a Assembléia Geral, com tema que adiantou anteontem:
- A comunidade internacional deve se mostrar à altura do momento histórico. E os EUA estão prontos para conduzi-la.

Sem cadeira
E tem mais campanha de Lula em Nova York, com poucas perspectivas, agora pela vaga no Conselho de Segurança.
O "Financial Times" noticiou a "pressão" brasileira e outros, do "El País" ao "La Nación", detalharam como é tarefa difícil para Brasil e os demais.
Pelo que se lia ontem, deve sair uma reforma do Conselho, mas sem os ansiados novos assentos permanentes. Por aqui, Argentina, México e Chile são contra, o que tira de Lula o argumento de liderar a América Latina.


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