São Paulo, quarta-feira, 20 de setembro de 2006

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comentário

2006 não é 1954; Freud não é Gregório

MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO

Gregório Fortunato chefiava a guarda pessoal de Getúlio Vargas em 1954. Freud Godoy integrou até anteontem o cargo de assessor especial da Secretaria Particular da Presidência -trabalhou na segurança de Lula.
Gregório e Freud aprontaram -cada a seu jeito, e no caso do segundo de modo ainda pouco claro. As semelhanças não vão muito além daí.
Robinho é craque e vestiu a camisa santista. Pelé também. Supor que a história de um mimetiza a de outro é como pensar que a seleção trouxe o hexa da Alemanha. O PTB de João Lyra, de Alagoas, não é o de João Goulart em 1954.
Há 52 anos as ditas elites excitavam-se na conspiração para derrubar Getúlio. Hoje os bancos estabelecem recordes, o empresariado desenrola o tapete ao candidato Lula, e cofres fornidos irrigam a reeleição. A elite está feliz.
Getúlio enfrentou uma oposição sedenta e golpista: o Brasil não conheceu incendiário como Carlos Lacerda. Já os adversários de Lula até outro dia temiam citar na TV escândalos da quadra recente.
Raros oponentes sugeriram impeachment dele. E impeachment pode ser golpe, mas também saída constitucional, como Collor descobriu. O país é outro: se ainda se matam políticos, a compra de dossiê substitui a eliminação física encomendada por Gregório contra Lacerda.
Também contrasta a cozinha palaciana: se é evidente a proximidade de Freud Godoy com Lula, ela não se compara à fidelidade do "Anjo Negro" com Getúlio. "Pegar" Gregório era "pegar" Getúlio. Com Freud e Lula não é, necessariamente, assim.
O Brasil mudou: meio século atrás as Forças Armadas se uniram para apear o presidente eleito pelo povo. Gregório foi torturado para falar. Alguém imagina Freud no pau-de-arara? O país melhorou. Lula se esforça para incorporar Getúlio. Mas a roupagem lhe cai mal.
Getúlio deu um tiro no peito quando caminhara para a esquerda -a seu modo peculiar. Lula diz que nunca foi de esquerda.


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