São Paulo, quinta-feira, 20 de setembro de 2007

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JANIO DE FREITAS

À brasileira

Toda vez que há auditagem, a norma é a comprovação do que se espera de obras do governo: corrupção grossa

PARECE ESCANDALOSO , mas não é. As auditorias do Tribunal de Contas da União constataram que um terço das 231 obras do governo, no valor total de R$ 23 bilhões, está viciado por irregularidades, cujo nome apropriado é corrupção. Toda vez que há auditagem extensa, seja qual for o governo, a norma conclusiva é a comprovação do que se espera das obras governamentais: corrupção grossa; apagar parte do que foi descoberto e transferir o roubo para mais adiante; ministros tão indignados quanto enfortunados, dirigentes idem, e vamos esquecer o azar das descobertas feitas.
Parece escandaloso, mas não é. Lá estão, como destaques nas constatações do TCU, o Dnit e o Dnocs, Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transporte e Departamento Nacional de Obras Contra as Secas. O primeiro é uma invenção do reformismo neoliberal, porque o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, o velho DNER, foi roído pela corrupção até ao último ossinho. O Dnit está sob o ministro Alfredo Nascimento, que só teve oportunidade de aparecer no noticiário, ultimamente, com a ajuda de problemas judiciais.
Parece escandaloso, mas não é. Trata-se apenas de norma que o Dnocs, por sua vez, seja uma sigla para meio século de corrupção, com tantos escândalos que a opinião pública desistiu de escandalizar-se por sua causa. Está sob controle do ministro da Integração Nacional, o deputado Geddel Vieira Lima de quem diziam no Congresso, volta e meia, "Geddel foi às compras" -e lá estava mais um acréscimo patrimonial, com preferência por fazendas, no rol familiar do "anão" de ontem e hoje ministro de Lula. O TCU constatou "irregularidades" em 100% das obras do Dnocs.
O governo Lula parece um escândalo contínuo. E é.

Por clarear
O valerioduto em Minas, objeto do inquérito que a Polícia Federal passa ao Ministério Público, não é de mensalão, como muitos têm dito. É de caixa-dois, dinheiro intermediado por Marcos Valério para a campanha encabeçada pela candidatura de Eduardo Azeredo, do PSDB em aliança com o PTB, ao governo estadual em 98. A confusão não está só nesse aspecto do primeiro capítulo do valerioduto.
Houve muitas artimanhas, por interesses lobistas e com fins políticos, complicando o caso. O certo é que o esquema do valerioduto esteve em ação, com o propósito de favorecer a aliança PSDB-PTB, mas não se sabe se a PF chegou a investigar essa exploração dos fatos. Nem se sabe ao certo quais foram as responsabilidades reais, seja dos beneficiados todos, seja dos operadores. É preciso esperar pelo crivo da Procuradoria Geral da República nas apurações policiais.

Indigentes
Saudemos: "6 milhões saíram da faixa da miséria", porque passaram a receber alguma coisa "acima de R$ 125 reais por mês". Eis o que é esse limite superior da faixa de miséria: R$ 4,16 por dia, R$ 0,52 por hora de trabalho. Pode-se imaginar que trabalho, para quem aceita, quer dizer, precisa ganhar R$ 0,52 por hora. Para comer, vestir, morar, pagar passagens -não digamos que para viver.
É outra, mas está também abaixo do nível de indigência, a mentalidade dos tecnocratas que estabelecem coisas como esses níveis sórdidos e sádicos que definem miséria e pobreza.


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