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JANIO DE FREITAS
À brasileira
Toda vez que há auditagem,
a norma é a comprovação do que se espera de obras do governo: corrupção grossa
PARECE ESCANDALOSO , mas não
é. As auditorias do Tribunal de
Contas da União constataram
que um terço das 231 obras do governo, no valor total de R$ 23 bilhões, está viciado por irregularidades, cujo nome apropriado é corrupção. Toda vez que há auditagem extensa, seja qual for o governo, a norma conclusiva é a comprovação do
que se espera das obras governamentais: corrupção grossa; apagar
parte do que foi descoberto e transferir o roubo para mais adiante; ministros tão indignados quanto enfortunados, dirigentes idem, e vamos esquecer o azar das descobertas
feitas.
Parece escandaloso, mas não é. Lá
estão, como destaques nas constatações do TCU, o Dnit e o Dnocs, Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transporte e Departamento Nacional de Obras Contra as
Secas. O primeiro é uma invenção
do reformismo neoliberal, porque o
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, o velho DNER, foi
roído pela corrupção até ao último
ossinho. O Dnit está sob o ministro
Alfredo Nascimento, que só teve
oportunidade de aparecer no noticiário, ultimamente, com a ajuda de
problemas judiciais.
Parece escandaloso, mas não é.
Trata-se apenas de norma que o
Dnocs, por sua vez, seja uma sigla
para meio século de corrupção, com
tantos escândalos que a opinião pública desistiu de escandalizar-se por
sua causa. Está sob controle do ministro da Integração Nacional, o deputado Geddel Vieira Lima de quem
diziam no Congresso, volta e meia,
"Geddel foi às compras" -e lá estava
mais um acréscimo patrimonial,
com preferência por fazendas, no rol
familiar do "anão" de ontem e hoje
ministro de Lula. O TCU constatou
"irregularidades" em 100% das
obras do Dnocs.
O governo Lula parece um escândalo contínuo. E é.
Por clarear
O valerioduto em Minas, objeto
do inquérito que a Polícia Federal
passa ao Ministério Público, não é
de mensalão, como muitos têm dito. É de caixa-dois, dinheiro intermediado por Marcos Valério para a
campanha encabeçada pela candidatura de Eduardo Azeredo, do
PSDB em aliança com o PTB, ao governo estadual em 98. A confusão
não está só nesse aspecto do primeiro capítulo do valerioduto.
Houve muitas artimanhas, por
interesses lobistas e com fins políticos, complicando o caso. O certo é
que o esquema do valerioduto esteve em ação, com o propósito de favorecer a aliança PSDB-PTB, mas
não se sabe se a PF chegou a investigar essa exploração dos fatos.
Nem se sabe ao certo quais foram
as responsabilidades reais, seja dos
beneficiados todos, seja dos operadores. É preciso esperar pelo crivo
da Procuradoria Geral da República nas apurações policiais.
Indigentes
Saudemos: "6 milhões saíram da
faixa da miséria", porque passaram
a receber alguma coisa "acima de
R$ 125 reais por mês". Eis o que é
esse limite superior da faixa de miséria: R$ 4,16 por dia, R$ 0,52 por
hora de trabalho. Pode-se imaginar
que trabalho, para quem aceita,
quer dizer, precisa ganhar R$ 0,52
por hora. Para comer, vestir, morar, pagar passagens -não digamos
que para viver.
É outra, mas está também abaixo
do nível de indigência, a mentalidade dos tecnocratas que estabelecem coisas como esses níveis sórdidos e sádicos que definem miséria e
pobreza.
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