São Paulo, domingo, 20 de outubro de 2002

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CONGRESSO

42% dos deputados e senadores que foram mal avaliados por levantamento do Datafolha obtiveram novo mandato

32 parlamentares "fracos" são reeleitos

RANIER BRAGON
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Desempenho parlamentar nem sempre se reflete na urnas. Nas últimas eleições, 32 deputados federais e senadores de todo o país que exerceram uma atividade congressual considerada fraca nos últimos quatro anos conseguiram, mesmo assim, reeleger-se.
Representam 42% de um grupo de 77 congressistas (83% desses tentaram novo mandato) que tiveram um desempenho parlamentar "fraco" ou "muito fraco" em Brasília, de acordo com avaliação feita pelo Datafolha e publicada pela Folha no último dia 27.
Entre esses políticos está o ex-ministro Affonso Camargo (PSDB-PR), que, a despeito de ter obtido o conceito "atuação fraca" no Datafolha (veja nesta página os critérios de avaliação utilizados), foi reeleito com a maior votação de seu Estado: 141.870 votos.
Outro caso de destaque é o do deputado federal Vittorio Medioli (PSDB-MG), reeleito como o deputado mais votado de seu partido no Estado, apesar de sua atuação congressual ser considerada "muito fraca" pelo Datafolha.
De acordo com o cientista político José Monroe Eisenberg, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, "existe uma dissociação muito grande entre a avaliação do trabalho parlamentar e o resultado das urnas".
Eisenberg afirma acreditar que o acompanhamento do trabalho dos congressistas é feito de forma "superficial e panorâmica" pelo eleitorado. "As pessoas acompanham o Parlamento, os partidos, os líderes da bancada. Elas têm uma visão geral da atividade congressual e não a visão do seu candidato", diz.
Segundo o cientista político, dois fatores que pesam muito mais do que o trabalho em Brasília são o desempenho global do partido nas eleições e a atuação do congressista nos seus redutos eleitorais.
"A maior parte do eleitorado vai reeleger deputados que, independentemente da sua participação na Câmara, nas comissões, foram capazes de mobilizar recursos para a sua região. É uma forma de fazer política, distrital, que não tem nada de irracional ou estranho", afirmou.
Eisenberg ressalta que há casos isolados de "consagração" pela atuação no Congresso. Esse seria o caso, segundo ele, do deputado federal Aldo Rebelo (PC do B-SP), entre outros. Rebelo presidiu a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investigou irregularidades no futebol brasileiro.

Atuantes
No grupo de 324 deputados e senadores que foram avaliados pelo Datafolha como "atuantes" ou "muito atuantes", 180 (56%) conseguiram se reeleger, sendo que 78% do grupo eram candidatos a um novo mandato no Congresso.
O número leva à constatação de que 73 congressistas, embora tenham exercido uma atividade parlamentar muito bem avaliada, não conseguiram se reeleger.
Esses são os casos, por exemplo, do líder do governo no Senado, Artur da Távola (PSDB-RJ), considerado "atuante", mas que ficou em quinto na disputa no Rio de Janeiro, e do deputado federal Régis Cavalcante (PPS-AL), o único classificado como "muito atuante" em seu Estado, mas que ficou mais de 13 mil votos atrás do último deputado federal eleito por Alagoas.
Na opinião do professor universitário Bruno Burgarelli, mestre em Direito Constitucional pela Universidade Federal de Minas Gerais, os números acima mostram que, embora a consciência eleitoral esteja longe do ideal, a maior publicidade do trabalho parlamentar estaria influenciando o eleitor na hora do voto.
"Iniciativas como a TV Câmara, a TV Senado, aliadas ao acompanhamento feito pela imprensa, têm, com certeza, auxiliado o eleitor na hora de definir o seu voto", afirmou Burgarelli.


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