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ECOS DO REGIME
Jornalistas que estiveram presos com Herzog no DOI-Codi, em São Paulo, questionam autenticidade de imagens
Amigos divergem sobre veracidade de fotos
VINICIUS TORRES FREIRE
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
FREDERICO VASCONCELOS
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Jornalistas presos com Vladimir Herzog em 1975 divergem sobre a autenticidade das fotos que
o retratariam antes de morrer na
sede do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações/
Centro de Operações de Defesa
Interna), em São Paulo.
"Tenho muitas dúvidas sobre a
autenticidade dessas fotos", diz o
jornalista Rodolfo Konder. Na
época da prisão, Konder era editor da revista "Visão". "Se as fotos
são dele, e acho que não são, não
foram tiradas lá dentro", afirma.
Para George Duque Estrada,
também preso no DOI-Codi, contudo, as fotos são de Herzog.
"Acredito que ele possa ter sido
fotografado quando estava para
colocar a roupa dos presos", disse.
Os jornalistas Paulo Markun e
Anthony de Christo questionam a
possibilidade de fotos daquele tipo serem tiradas no DOI-Codi,
embora, para Christo, duas das
fotos publicadas parecerem
"muito próximas do Vlado".
Markun diz haver "interrogações" sobre as fotos, mas afirma
confiar no reconhecimento feito
pela viúva de Herzog, Clarice, que
disse ter identificado o ex-marido
em uma das fotos publicadas.
"Não tiravam fotos de presos no
DOI-Codi", declara Konder, o
que não faria sentido numa organização clandestina do governo.
Estrado na foto
Christo diz que ninguém foi fotografado nu. "A gente só foi fotografada para identificação". Ele
não se recorda de ter visto no
DOI-Codi o estrado de cama no
qual Herzog aparece sentado, na
foto. "Não me lembro de nada parecido. Nem na sala de interrogatório nem na cela", diz.
Konder também chama a atenção para o fato de o rosto de Herzog não estar visível nas fotos.
"Ali, eu não vi o Vlado [como ele
era chamado pelos amigos]."
Markun diz que o personagem
das fotos se parece com Herzog,
mas acha as fotos "estranhas"
-incluindo o fato de ele aparecer
nu e com relógio. "Mas tem uma
que é incompreensível: aquela
que tem uma mulher ao lado dele.
Jamais poderia acontecer uma cena daquela no DOI-Codi."
Christo também desconfia dessa foto. "Aquele não me parece o
Vlado", diz. "Ele tinha uma testa
bem calva. Naquela foto, aparece
um tufo que ele não tinha."
O jornalista lembra que Herzog
tinha bastante pelos. Esse detalhe
não aparece com nitidez nas fotos
publicadas. "Sinto dificuldade em
testemunhar a partir da impressão de uma foto em jornal, depois
de tantos anos", diz.
Para ele, a publicação dessas fotos "é uma coisa inaudita". "É importante descobrir a origem dessas fotos. É um processo penoso,
sobretudo se forem verdadeiras.
Mas, por mais doloroso que seja,
tudo tem que ser investigado.
Certamente, tem mais coisa por
trás", declarou.
Duque Estrada diz não ter dúvida de que o homem nu das fotos é
Herzog, mas estranha que tais
imagens apareçam agora. "Parece
que se quer criar um conflito entre os militares e o poder atual. Há
um jogo que não está claro para
mim", afirma o jornalista.
As fotos publicadas pelo "Correio Brasiliense" não estavam no
processo em que o juiz Márcio
Moraes responsabilizou a União,
em 1978, pela prisão ilegal e morte
de Herzog. Na época, Moraes
mandou instaurar inquérito policial militar para apurar a responsabilidade pela prática de tortura
no DOI-Codi. O juiz desconhece o
desfecho dessa investigação.
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