São Paulo, quinta-feira, 20 de outubro de 2005

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Pedido de cassação deve ser aprovado

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O parecer do deputado Júlio Delgado (PSB-MG) que pede a cassação do mandato de José Dirceu (PT-SP) sob a acusação de envolvimento com o "mensalão" deve ser aprovado na votação que o Conselho de Ética da Câmara realiza amanhã. Pelo menos 10 dos 14 integrantes titulares do conselho manifestaram a intenção de votar contra Dirceu.
O único consolo de Dirceu é que a votação não deve ser unânime, como ocorreu com Roberto Jefferson (PTB), cassado no mês passado. Os outros quatro integrantes titulares do conselho não quiseram antecipar seus votos, mas a tendência é que a única petista do conselho, Ângela Guadagnin (SP), apóie Dirceu.
O presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP), que só vota em caso de empate, também sinalizou a aliados a intenção de apoiar o relatório de Delgado.
"O delito dele é político. Estou convencido de que ele foi o coordenador político da governabilidade necessária", afirmou Nelson Trad (PMDB-MS), um dos que já assumiu abertamente seu voto.
Júlio Delgado pede a cassação de Dirceu sob o argumento, entre outros, de que o ex-ministro da Casa Civil "tinha poderes para se o autor intelectual de todo este esquema [do "mensalão'] ou, pelo menos, para impedir que tais práticas prosperassem". Segundo ele, a cassação de Dirceu é o meio de restaurar a "dignidade e a credibilidade da Câmara".
"O relatório é juridicamente bem fundamentado e consegue desconstruir totalmente a tese da defesa dele [Dirceu], de que não havia provas. O relator mostra um conjunto de evidências que apontam para uma relação intrínseca entre Delúbio Soares [ex-tesoureiro do PT], Dirceu e Marcos Valério [operador do caixa dois do PT]", afirmou Carlos Sampaio (PSDB-SP), apesar de se dizer ainda indeciso sobre seu voto.
Dirceu nega ter envolvimento com o esquema montado pelo PT e por Valério para repassar dinheiro a políticos governistas.
Após a aprovação no Conselho de Ética, o parecer contra Dirceu segue para votação secreta no plenário, o que pode ocorrer na semana que vem.
Se pelo menos 257 dos 513 deputados apoiarem o relatório de Delgado, Dirceu será o segundo deputado a ser cassado devido ao "mensalão" -o outro foi Jefferson, autor das denúncias.

"Amargurado"
O deputado Pedro Henry (PP-MT) afirmou ontem em depoimento ao conselho, onde enfrenta processo de cassação de mandato por envolvimento no escândalo do "mensalão", estar "amargurado" por "ter sido colocado em um pacote" e por ter de enfrentar um processo "carente de provas".
A defesa de Henry, que foi líder da bancada do PP antes de José Janene (PR), se resumiu em afirmar que as investigações das CPIs dos Correios e do Mensalão e da Polícia Federal não encontraram provas de seu envolvimento no esquema do "mensalão", conforme denunciou Jefferson.
"Após 136 dias da malfadada entrevista de Roberto Jefferson à Folha, que originou essa seqüência de fatos que culminaram para me trazer a este Conselho de Ética, com as investigações das CPIs, da Polícia Federal e da própria imprensa, não surgiram fatos novos além daquela entrevista", disse, atribuindo os ataques a uma disputa pessoal com Jefferson.
Henry rebateu ainda as acusações de que teria pressionado o líder do PTB, José Múcio (PE), a aceitar o "mensalão", e de que mandava o ex-assessor de Janene, João Cláudio Genu, sacar dinheiro das contas de Marcos Valério. (RANIER BRAGON E FÁBIO ZANINI)


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