|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Mais contidos na TV, Lula e Alckmin disputam números
Corrupção fica em segundo plano em debate dominado por economia e saúde
Tema que dominou embate anterior entre candidatos
ontem só foi abordado mais longamente no 1º bloco, determinado por sorteio
RODRIGO RÖTZSCH
DA REDAÇÃO
O tom agressivo e a discussão
sobre corrupção que marcaram
o primeiro debate entre Luiz
Inácio Lula da Silva e Geraldo
Alckmin foram substituídos
ontem, no segundo confronto
entre os presidenciáveis, pela
citação quase professoral de
uma profusão de números a
respeito de indicadores sociais
e econômicos. Estrela do encontro anterior, a corrupção virou coadjuvante e em vários
momentos sumiu de cena.
"Os números fluem na boca
das pessoas com muita facilidade e cada um pode falar o número que quiser", disse o presidente em suas considerações finais. Antes, porém, ele havia recorrido tanto a eles que em um
momento agradeceu a Alckmin
por lhe dar a oportunidade de
repetir dados sobre a saúde em
seu governo.
O debate no SBT teve quatro
blocos. Dois deles foram abertos para que os candidatos perguntassem um ao outro sobre o
tema que escolhessem. Alckmin, que no debate anterior enfatizara do início ao fim os escândalos do governo Lula -em
particular a pergunta "de onde
veio o dinheiro?", do caso do
dossiê-, escolheu duas vezes
economia e duas vezes saúde
como temas de suas questões.
A atitude incisiva adotada
pelo tucano no último debate
também foi temperada. Ele
tentou ser didático, falando várias vezes com "você aí de casa"
e tentando frisar que ele e Lula
eram candidatos "diferentes".
O presidente, por sua vez, foi
irônico em alguns momentos e
disse que Alckmin não respondia às perguntas. Eixos do debate, a saúde e a economia viram os candidatos desfiarem
um rosário de números: Lula
tentando provar que o Brasil
está melhor hoje do que antes, e
Alckmin, o contrário.
"A saúde vai muito mal, ela
piorou no atual governo, nós
retrocedemos", disse o tucano.
"Para mim não está bom, eu como médico tenho a obrigação
de melhorar", completou.
"Não está bom para o Alckmin porque ele não usa a saúde
pública. Estamos longe de ter a
saúde pública que desejamos
para nós e para nossos filhos,
mas o que fizemos no nosso governo jamais foi feito neste
país", rebateu Lula, em meio a
números de lado a lado.
O mesmo roteiro se repetiu
na economia. Alckmin citou reportagem da revista britânica
"The Economist" que mostra
que o Brasil ocupava o último
lugar entre os emergentes. Senha para Lula acusá-lo de "colonizado intelectualmente" e
dizer que o Brasil só poderia ser
comparado ao próprio Brasil.
Lula salientou que havia criado as bases para crescer e que
tinha conseguido aliar crescimento a distribuição de renda.
"Ele acha que está bom o Brasil
crescer 2%. Nós somos diferentes, a minha receita vai ser outra", rebateu Alckmin.
Corrupção
O tema da corrupção praticamente só apareceu no primeiro
bloco do programa. Alckmin,
instado a fazer uma pergunta
sobre o tema pelo sorteio, listou escândalos do governo Lula
-caso Waldomiro Diniz, mensalão, o Land Rover recebido de
presente pelo ex-secretário geral do PT Silvio Pereira- e terminou com a compra do dossiê,
para insistir na pergunta sobre
a origem do R$ 1,7 milhão
apreendido. "Trinta e quatro
dias depois, a sociedade brasileira merece explicações."
"Essa campanha vai acabar
sendo a campanha de uma nota
só", respondeu Lula, para então
usar a sua resposta única para
os questionamentos éticos: que
se mais escândalos de corrupção surgiram, é porque o governo investiga como nunca antes.
O tucano aproveitou a deixa:
"Primeiro, não é uma questão
de uma nota só. São 1 milhão e
700 mil notas". Enumerou os
petistas e ex-petistas envolvidos no caso. Em seguida, a mediadora Ana Paula Padrão sorteou o tema "saúde" para Lula,
dando o tom do debate.
Alckmin só voltou a falar de
corrupção em meio a uma discussão sobre corte de gastos
-citou estudo segundo o qual o
país gasta por ano US$ 3,5 bilhões com corrupção- e nas
considerações finais, em uma
só frase: "Sob o ponto de vista
ético, um descalabro".
O tema das privatizações,
que o PT conseguiu impor à
campanha, foi objeto de uma
pergunta de Lula, que quis saber -"sem que a gente fique
nervoso"- qual a visão de Alckmin sobre privatização.
O tucano teceu elogios à privatização da telefonia e disse:
"Não tem nenhum problema
privatizar se for preciso. O que
não pode é mentir", para reafirmar que não vai privatizar Petrobras, Caixa Econômica,
Banco do Brasil e Correios
-em relação às duas últimas, já
havia feito um aceno no início
do debate, dizendo que são instituições sérias que foram maculadas por escândalos do PT.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Mônica Bergamo Índice
|