São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 2006

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Eleições 2006/Sabatina Folha

Alckmin reconhece erro tucano ao discutir privatizações com o PT

Em entrevista à Folha, candidato do PSDB afirma que petistas mentem e defende a política de vender empresas públicas

Dezenove pontos atrás do petista Luiz Inácio Lula da Silva e a nove dias do segundo turno, Geraldo Alckmin reconheceu ontem que sua campanha errou ao entrar no debate das privatizações proposto por seu adversário. "Nós acabamos embarcando nesse barco não pelo mérito, mas pela mentira", disse Alckmin. Sabatinado pela Folha, em São Paulo, o candidato do PSDB ao Planalto defendeu a venda de empresas públicas.
A dianteira do petista e o curto espaço de tempo até a eleição, no entanto, parecem não ter tirado o ânimo do tucano, que ainda acredita em uma virada. Alckmin procurou delimitar as diferenças entre ele e Lula, especialmente no aspecto fiscal e na gestão da máquina pública. Segundo ele, seu adversário inchou o Estado e é contra um corte radical de gastos, medida defendida ontem pelo ex-governador.
Questionado sobre casos de corrupção e desvios éticos nos governos tucanos, Alckmin preferiu atacar o PT, dizendo que o partido busca hoje igualar a todos. Por duas horas, o tucano respondeu aos colunistas Clóvis Rossi e Mônica Bergamo e aos editores Fernando de Barros e Silva (Brasil) e Renata Lo Prete ("Painel"), além das perguntas da platéia, que aplaudiu várias críticas de Alckmin ao governo Lula.

FOLHA - Qual é a razão, na sua visão, para esse imenso salto na diferença na pesquisa Datafolha dos sete pontos, que foi a diferença na urna, para os 20 pontos?
GERALDO ALCKMIN -
Tivemos um desempenho importante no primeiro turno. Essa eleição teve poucos candidatos a presidente, em razão da verticalização. Os grandes partidos praticamente não tiveram candidatos e nós tivemos 41,5%. No dia 18 de setembro, portanto a 12, 13 dias da eleição, mais ou menos nesta época, o Datafolha me dava 21 pontos atrás do Lula. Na hora que abriu as urnas a diferença era de sete pontos.

FOLHA - Mas o que tinha para ser dito, foi dito no primeiro turno. Não se trata de uma nova eleição. É difícil acreditar que o eleitor mude assim subitamente de opinião, depois de todo o primeiro turno.
ALCKMIN -
O segundo turno é uma outra eleição. Você zera tudo e começa de novo. Não tenho dúvidas de que nós teremos grandes oscilações até domingo que vem. Aliás, todas as eleições têm mostrado isso. Os institutos de pesquisa são sérios, mas há uma volatilidade que é difícil de ser captada. Não contesto a parte científica. Faço a análise do efeito que tem, primeiro, junto à mídia. No primeiro turno, diziam que a eleição estava encerrada, porque a pesquisa tem um fator. Eu acordo cedinho, ligo a televisão e fica de 3 em 3 minutos: "20 pontos de diferença". Aí vem um analista político, "olha, acabou, nem mais um terremoto pode mudar". Não é bem um balde de água fria, é uma cachoeira de água fria. Mas a eleição não está definida.

FOLHA - O discurso do governo, a seu respeito, acusando que o senhor vai privatizar estatais, cortar gastos etc está tendo eficiência em levar para o Lula o voto da Heloísa Helena e do Cristovam Buarque?
ALCKMIN -
Acho que esse eleitorado ainda não está bem definido. Essa questão da privatização, eu acho que está errada. Aliás, acho até que nós erramos, no seguinte sentido: o que eu fiquei indignado é com a mentira. Mentira. Na questão da privatização, é óbvio, que o foi feito está correto, é óbvio que não passa pela cabeça de ninguém, não está no meu programa privatizar Banco do Brasil, Nossa Caixa, Petrobras e Correio. Nós acabamos embarcando nesse barco não pelo mérito, mas pela mentira. É uma mentira reiterada. Foi montada no, Palácio do Planalto, a "Mentirobras".

FOLHA - Vocês se deixaram pautar por essa questão?
ALCKMIN -
Nós simplesmente reagimos à mentira. Não há nada que se sustente sobre a mentira. E não é nem de terceiros... Eu ouvi na rádio CBN a entrevista do candidato Lula. Foi ele mesmo falando. Pra que isso? Não se faz campanha assim.

FOLHA - Ao ficar na defensiva, não se discute, afinal, se você é privatista ou estatizante. Qual sua posição?
ALCKMIN -
Nossa posição é muito clara. Tem setores que foram privatizados e foi correto. Não tinha sentido o governo ter siderúrgica. Foi correto: privatizou a CSN. A Embraer teve um papel de Estado importante, depois superado. Ela tinha 4.000 funcionários, hoje tem 12 mil. Telefonia, quando houve a estatização, teve um significado. Isso passou. O reflexo é que teve R$ 100 bilhões de investimentos, hoje tem 90 milhões só de celular. Você universalizou praticamente o acesso. Isso foi positivo. A prioridade não vai ser privatizar, mas trazer a iniciativa privada para complementar o investimento público na ampliação de infra-estrutura e melhora da logística do pais. Aliás, a única PPP que saiu do papel foi aqui em São Paulo, foi a linha quatro do metrô. Na parceria público-privada, há um mix de investimentos. Entendo que a privatização cumpriu uma etapa. Agora, nossa prioridade não é vender ativo, é trazer o setor privado pra investir e parceria público-privada quando a engenharia financeira permitir.

FOLHA - Acha o setor financeiro é estratégico? Suscetível de privatização futuramente?
ALCKMIN -
Não é suscetível de privatização. Aliás, deixe que faça uma observação aqui: poucos Estados têm banco público -e São Paulo tem. Eu poderia ter privatizado a Nossa Caixa. Muita gente achou no governo que eu deveria ter privatizado, mas parti para outro modelo. Não vou privatizar, vou abrir capital, trazer o setor privado para participar. O Lula privatizou o banco do Ceará e o do Maranhão, que eram federais.

FOLHA - E o governo tucano privatizou o Banespa
ALCKMIN -
Porque era necessário. Na privatização de São Paulo, o Mario Covas fez o que tinha que fazer.

PERGUNTA DO LEITOR - Por que a a privatização da Vale foi positiva?
ALCKMIN -
Está aí um modelo de sucesso, uma das maiores empresas do mundo, uma grande empresa, investindo bilhões de reais no Brasil. Quer dizer, está ai um grande modelo e importante. E não é função do governo fazer essa atividade.

FOLHA - O que a oposição faz em função do caso do dossiê daqui até a eleição e depois da eleição?
ALCKMIN -
Tem que apurar, vamos ver, vamos buscar a verdade, aliás me permito uma observação. Hoje tem uma grosseria do ministro Tarso Genro, me comparando ao Pinochet, uma coisa desesperada, eu entrei na vida pública, no período da ditadura militar, pelo MDB. Aliás só entrei porque era da oposição ao regime militar. O que eu coloquei é que num possível segundo mandato do Lula, como ele não vai fazer reforma nenhuma, o Brasil vai perder quatro anos, já vai começar discutir 2010, para ver se tem alguma esperança no futuro. Tenho dito: não vamos perder tempo. O Brasil pode ir melhor, pode ir mais rápido, pode avançar mais, nesse sentido, distorceu e ainda foi grosseiro.

FOLHA - Na questão ética, queria citar episódios do FHC. Houve escândalos. Qual é a garantia que o eleitor vai ter de que isso não volta a se repetir num governo tucano?
ALCKMIN -
Uma coisa é você ter alguém que num governo grande possa ter cometido um erro e deva ser punido. Outra coisa é você ter uma questão quase que institucional, totalmente diferente. O mensalão é dinheiro na conta, envolvia uma rede. O que disse o procurador geral da União, uma uma quadrilha de quarenta ladrões, coisa gravíssima. Sou favorável sempre a que se verifique, agora e se houve erro, um não justifica outro.

FOLHA - A atitude protetora do PSDB em relação ao senador Eduardo Azeredo não dificultou o partido cobrar do PT explicações em relação a esse escândalo?
ALCKMIN -
O caso do Eduardo Azeredo, se é que teve, ele vai responder por isso. Agora não se pode misturar questões de campanha eleitoral com roubo de dinheiro público.

FOLHA - Minha pergunta foi de caráter político.
ALCKMIN -
Acho que ele próprio deveria ter saído.


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