São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 2006

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Eleições 2006/Sabatina Folha

Para tucano, ajuste fiscal é divisor de águas com o PT

FOLHA - O sr. já falou em várias entrevistas sobre a questão fiscal. O governo federal tem pouca margem para investir. Além de vender o AeroLula, o sr. sabe onde vai cortar?
ALCKMIN -
Primeiro é importante mostrar as diferenças. Aqui está uma importante: meu adversário diz que não precisa cortar gastos. Na visão dele é impossível. Ele aumentou, nos últimos 90 dias, quase 1% do PIB -0,8% de gastos correntes. Quem entrar no ano que vem já entra com 1,2% de aumento no PIB. Grande parte dos aumentos não foi dada em janeiro, foi dada no meio do ano. Evidente que, se você não vai cortar despesas, vão surgir receitas. A carga tributária, que é de 38%, vai a 39% em 2008, vai a 40% e o Brasil não vai crescer.

FOLHA - E o senhor fará o quê exatamente?
ALCKMIN -
Qual a receita atual? Aumentar gasto, aumentar imposto e cortar investimento, que se esgotou, inclusive. O país não tem mais capacidade de investir. Tem 3.000 obras paradas. E meu adversário entende que a política fiscal não está no centro do problema. Eu vou fazer o contrário: vou cortar gastos, para poder gradualmente ter uma redução da carga tributária, juros mais baratos. Como a política fiscal é frouxa, é ruim, pela má qualidade do gasto público, a política monetária é muito dura. Gasta muito, aí os juros têm que ser altos e, a cada ponto na taxa Selic, você gasta mais R$ 9 bilhões e prejudica a questão fiscal. No ano passado, só de juros, foram R$ 156 bilhões. É o maior programa de concentração de renda do mundo. Esses juros absurdos mais o fato de o Brasil não crescer empurram o câmbio para baixo, o que mata o setor produtivo. Aí o governo, para segurar o câmbio artificialmente, compra dólar e deixar lá fora. Ganha 5% e para isso tem que emitir título aqui dentro e paga 14%. Está queimando dinheiro.
Como cortar? Já fizemos, o Mario Covas e eu. Aqui em São Paulo, o governo tinha 25% de déficit orçamentário. No primeiro ano, foi para 3%. A questão do AeroLula é que você passa para todo o governo a idéia: "Aqui não tem problema de gastação, pode gastar à vontade". Aliás, o governo não teve uma medida de controle de gastos. Você precisa ter 34 ministérios? A questão fiscal, para mim, é questão central. Meu adversário não acredita que exista o problema fiscal.

FOLHA - Economistas dizem que, por mais que tenha efeito simbólico reduzir ministérios e vender o avião, não se faria uma economia substancial de gastos. Para fazer, seria preciso atacar questões como desvincular o aumento do salário mínimo dos aumentos da Previdência. O sr. cogitaria isso em seu mandato? O sr. manteria o ritmo de aumento do salário mínimo do governo Lula?
ALCKMIN -
Não. E sou totalmente contra [a desvinculação]. O governo do PT deu 1% de aumento de ganho real nos dois primeiros anos, e, neste ano, deu 16%. No ano que vem, vai pra 1% de novo. O compromisso não é com o pobre, é com o poder. Isso está errado. Sou contra desvincular o piso, porque o salário mínimo está desvinculado pela Constituição.

FOLHA - O senhor vai encaminhar novas reformas [sobre a questão]?
ALCKMIN -
Claro que vou. Aliás, somos coerentes. A PEC da Previdência aprovada no Congresso foi com nossos votos. O PT votou contra, quando era o Fernando Henrique, nós do PSDB votamos a favor. A PEC foi aprovada e até hoje não foi regulamentada. Quem quer ganhar acima de determinado valor, para novos funcionários vai ser criado um fundo de pensão. Vai poder aposentar com R$ 20 mil, mais vai ter que pagar.

FOLHA - O economista Yoshiaki Nakano, quando citou a questão do corte de gastos, viu o mundo cair sobre sua cabeça e foi até desautorizado pelo sr. Qual a divergência? Nakano defendeu em um seminário, não em evento de sua campanha, o corte de algo em torno de 3% do PIB.
ALCKMIN -
Meu compromisso é com redução de pobreza, crescimento e emprego. O Brasil não vai crescer se continuar com essa receita de política fiscal ruim. Não pára mais de crescer a carga tributária, juros altos em razão disso e o câmbio do jeito que está. Vamos mudar isso, não é cortar por cortar. É cortar para a ineficiência do governo não anular a eficiência das empresas. O governo não gera emprego, quem gera emprego é a indústria, a agricultura, o comércio, o serviço. O governo faz o contrário, invasão de terra, insegurança jurídica, submissão na questão da Bolívia, desrespeito às agências reguladoras, aumento de imposto, juros estratosféricos. O Nakano tem toda a razão. Qual o cenário que temos que perseguir? O Brasil arrecada 38% da riqueza que a sociedade gera, o governo se apropria dela, o povo trabalha de janeiro a maio para sustentar o governo, e gasta mais 4% extras. Ele tem superávit primário, mas tem déficit nominal de quase 4%.

FOLHA - A dívida pública cresceu no governo FHC e continuou crescendo no governo Lula. Até o crescimento do país sob FHC ficou praticamente igual ao da gestão Lula.
ALCKMIN -
Quanto ao aumento da carga tributária no governo FHC, com inflação de 60% ao ano se escondiam todos os esqueletos possíveis e imaginários. O governo ganhava com a inflação. Quando estabilizou a moeda, teve que fazer conta, ver que havia desequilíbrio. Na campanha, o Lula dizia que a carga tributária estava alta e prometeu reduzir, mas conseguiu a proeza de aumentar ainda mais o que já era alto. O governo FHC assumiu as dívidas de todos os Estados e capitais brasileiros. Em relação ao crescimento, o cenário mundial à época era diferente.

FOLHA - Não é verdade, governador, o Brasil sempre cresceu menos que o mundo, inclusive na era FHC.
ALCKMIN -
Mas proporcionalmente piorou muito. O FHC enfrentou quatro crises, Argentina, México, Ásia, Rússia. Hoje, puxado por China, EUA, os emergentes crescem 7,1%. É o melhor cenário da economia mundial dos últimos tempos.

PERGUNTA DO LEITOR - Ao assumir o segundo mandato em SP o sr. dizia que a segurança era um dos maiores problemas do Estado. Assume alguma responsabilidade pelo PCC ter ganhado força?
ALCKMIN -
O problema de segurança é no Brasil inteiro. Dos 27 Estados, qual é a ordem de São Paulo no índice de crimes violentos? Somos o 22º, 18,3 [homicídios] por 100 mil habitantes. Houve esses ataques [do PCC] porque foram mapeados todos os membros de organização e foram isolados numa penitenciária. Reagiram, o governo foi firme, controlou a situação. E o governo federal tem toda a responsabilidade. Por trás disso, está a droga, que entra pela fronteira, onde está a polícia de fronteira.

FOLHA - E sobre arquivar os pedidos de 69 CPIs sobre seu governo?
ALCKMIN -
CPIs são importantes, mas não devem ser objeto de luta política. Essa questão do número de CPIs, tem CPI para todo o gosto. Se a Assembléia quiser fazer, não há problema. Meus secretários passaram os anos indo lá, prestando contas.


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