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Eleições 2006/Sabatina Folha
Para tucano, ajuste fiscal é divisor de águas com o PT
FOLHA - O sr. já falou em várias entrevistas sobre a questão fiscal. O
governo federal tem pouca margem
para investir. Além de vender o
AeroLula, o sr. sabe onde vai cortar?
ALCKMIN - Primeiro é importante mostrar as diferenças.
Aqui está uma importante:
meu adversário diz que não
precisa cortar gastos. Na visão
dele é impossível.
Ele aumentou, nos últimos
90 dias, quase 1% do PIB
-0,8% de gastos correntes.
Quem entrar no ano que vem já
entra com 1,2% de aumento no
PIB. Grande parte dos aumentos não foi dada em janeiro, foi
dada no meio do ano. Evidente
que, se você não vai cortar despesas, vão surgir receitas. A
carga tributária, que é de 38%,
vai a 39% em 2008, vai a 40% e
o Brasil não vai crescer.
FOLHA - E o senhor fará o quê exatamente?
ALCKMIN - Qual a receita atual?
Aumentar gasto, aumentar imposto e cortar investimento,
que se esgotou, inclusive. O
país não tem mais capacidade
de investir. Tem 3.000 obras
paradas. E meu adversário entende que a política fiscal não
está no centro do problema.
Eu vou fazer o contrário: vou
cortar gastos, para poder gradualmente ter uma redução da
carga tributária, juros mais baratos. Como a política fiscal é
frouxa, é ruim, pela má qualidade do gasto público, a política
monetária é muito dura.
Gasta muito, aí os juros têm
que ser altos e, a cada ponto na
taxa Selic, você gasta mais R$ 9
bilhões e prejudica a questão
fiscal. No ano passado, só de juros, foram R$ 156 bilhões. É o
maior programa de concentração de renda do mundo.
Esses juros absurdos mais o
fato de o Brasil não crescer empurram o câmbio para baixo, o
que mata o setor produtivo. Aí
o governo, para segurar o câmbio artificialmente, compra dólar e deixar lá fora. Ganha 5% e
para isso tem que emitir título
aqui dentro e paga 14%. Está
queimando dinheiro.
Como cortar? Já fizemos, o
Mario Covas e eu. Aqui em São
Paulo, o governo tinha 25% de
déficit orçamentário. No primeiro ano, foi para 3%.
A questão do AeroLula é que
você passa para todo o governo
a idéia: "Aqui não tem problema de gastação, pode gastar à
vontade". Aliás, o governo não
teve uma medida de controle
de gastos. Você precisa ter 34
ministérios? A questão fiscal,
para mim, é questão central.
Meu adversário não acredita
que exista o problema fiscal.
FOLHA - Economistas dizem que,
por mais que tenha efeito simbólico
reduzir ministérios e vender o avião,
não se faria uma economia substancial de gastos. Para fazer, seria preciso atacar questões como desvincular o aumento do salário mínimo
dos aumentos da Previdência. O sr.
cogitaria isso em seu mandato? O sr.
manteria o ritmo de aumento do salário mínimo do governo Lula?
ALCKMIN - Não. E sou totalmente contra [a desvinculação]. O governo do PT deu 1%
de aumento de ganho real nos
dois primeiros anos, e, neste
ano, deu 16%. No ano que vem,
vai pra 1% de novo. O compromisso não é com o pobre, é com
o poder. Isso está errado. Sou
contra desvincular o piso, porque o salário mínimo está desvinculado pela Constituição.
FOLHA - O senhor vai encaminhar
novas reformas [sobre a questão]?
ALCKMIN - Claro que vou. Aliás,
somos coerentes. A PEC da
Previdência aprovada no Congresso foi com nossos votos. O
PT votou contra, quando era o
Fernando Henrique, nós do
PSDB votamos a favor. A PEC
foi aprovada e até hoje não foi
regulamentada. Quem quer ganhar acima de determinado valor, para novos funcionários vai
ser criado um fundo de pensão.
Vai poder aposentar com R$ 20
mil, mais vai ter que pagar.
FOLHA - O economista Yoshiaki
Nakano, quando citou a questão do
corte de gastos, viu o mundo cair sobre sua cabeça e foi até desautorizado pelo sr. Qual a divergência? Nakano defendeu em um seminário,
não em evento de sua campanha, o
corte de algo em torno de 3% do PIB.
ALCKMIN - Meu compromisso é
com redução de pobreza, crescimento e emprego. O Brasil
não vai crescer se continuar
com essa receita de política fiscal ruim. Não pára mais de
crescer a carga tributária, juros
altos em razão disso e o câmbio
do jeito que está. Vamos mudar
isso, não é cortar por cortar.
É cortar para a ineficiência
do governo não anular a eficiência das empresas. O governo não gera emprego, quem gera emprego é a indústria, a agricultura, o comércio, o serviço.
O governo faz o contrário, invasão de terra, insegurança jurídica, submissão na questão da
Bolívia, desrespeito às agências
reguladoras, aumento de imposto, juros estratosféricos.
O Nakano tem toda a razão.
Qual o cenário que temos que
perseguir? O Brasil arrecada
38% da riqueza que a sociedade
gera, o governo se apropria dela, o povo trabalha de janeiro a
maio para sustentar o governo,
e gasta mais 4% extras. Ele tem
superávit primário, mas tem
déficit nominal de quase 4%.
FOLHA - A dívida pública cresceu
no governo FHC e continuou crescendo no governo Lula. Até o crescimento do país sob FHC ficou praticamente igual ao da gestão Lula.
ALCKMIN - Quanto ao aumento
da carga tributária no governo
FHC, com inflação de 60% ao
ano se escondiam todos os esqueletos possíveis e imaginários. O governo ganhava com a
inflação. Quando estabilizou a
moeda, teve que fazer conta,
ver que havia desequilíbrio.
Na campanha, o Lula dizia
que a carga tributária estava alta e prometeu reduzir, mas
conseguiu a proeza de aumentar ainda mais o que já era alto.
O governo FHC assumiu as dívidas de todos os Estados e capitais brasileiros. Em relação
ao crescimento, o cenário mundial à época era diferente.
FOLHA - Não é verdade, governador, o Brasil sempre cresceu menos
que o mundo, inclusive na era FHC.
ALCKMIN - Mas proporcionalmente piorou muito. O FHC
enfrentou quatro crises, Argentina, México, Ásia, Rússia. Hoje, puxado por China, EUA, os
emergentes crescem 7,1%. É o
melhor cenário da economia
mundial dos últimos tempos.
PERGUNTA DO LEITOR -
Ao assumir o segundo
mandato em SP o sr. dizia que a segurança era
um dos maiores problemas do Estado. Assume alguma responsabilidade pelo PCC ter ganhado força?
ALCKMIN - O problema de segurança é no Brasil inteiro. Dos 27
Estados, qual é a ordem de São
Paulo no índice de crimes violentos? Somos o 22º, 18,3 [homicídios] por 100 mil habitantes. Houve esses ataques [do
PCC] porque foram mapeados
todos os membros de organização e foram isolados numa penitenciária. Reagiram, o governo foi firme, controlou a situação. E o governo federal tem toda a responsabilidade. Por trás
disso, está a droga, que entra
pela fronteira, onde está a polícia de fronteira.
FOLHA - E sobre arquivar os pedidos de 69 CPIs sobre seu governo?
ALCKMIN - CPIs são importantes, mas não devem ser objeto
de luta política. Essa questão do
número de CPIs, tem CPI para
todo o gosto. Se a Assembléia
quiser fazer, não há problema.
Meus secretários passaram os
anos indo lá, prestando contas.
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