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ESTADOS
Ministério Público estuda ação contra governadora Rosinha Matheus, que, procurada, não respondeu às acusações ontem
Procuradora diz que Rio gasta pouco na saúde
MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO
O governo do Estado do Rio de
Janeiro deixou de aplicar R$ 700
milhões em saúde nos últimos
três anos. O levantamento foi feito
pelo Ministério Público Federal,
que estuda entrar com uma ação
civil pública, nos próximos dias,
contra a governadora Rosinha
Matheus (PMDB).
O dinheiro é referente ao percentual orçamentário mínimo para o setor, previsto na emenda
constitucional número 29, de
2000, que o Estado deixou de
cumprir.
Pela emenda, o governo deveria
ter aplicado 8% do orçamento de
2001 em serviços de saúde. Segundo o TCE (Tribunal de Contas do
Estado), foram gastos apenas 5%
do total. Em 2002, o gasto foi de
8,6%, quando deveria ter sido de
9%. Relatório do TCE relativo ao
primeiro semestre deste ano mostra que Rosinha só aplicou 3,32%,
"percentual bastante inferior
àquele fixado para o ano pela
Constituição, de 10%".
"O Estado do Rio está burlando
a vontade constitucional", afirmou a procuradora federal Mônica Campos de Ré, co-autora do levantamento realizado também
pela procuradora Silvana Batini.
Segundo Mônica Campos de
Ré, o artigo 34 da emenda 29 prevê até o pedido de intervenção no
Estado caso os percentuais mínimos constitucionais não estejam
sendo cumpridos. "Estamos estudando a melhor maneira de reaver esse dinheiro que deixou de
ser aplicado na saúde."
Para evitar que o erro detectado
pelo Ministério Público Federal
nos últimos três anos se repita no
ano que vem, as procuradoras enviaram ontem à governadora
uma recomendação de emenda à
proposta orçamentária de 2004,
destinando à saúde uma verba
complementar de R$ 256,56 milhões. Caso a sugestão não seja
aceita, o Estado descumprirá novamente o percentual constitucional mínimo, que para o ano
que vem é de 12%.
"Conceito amplo"
Segundo as procuradoras, Rosinha incluiu indevidamente no orçamento da saúde de 2004 recursos do Fundo Estadual de Combate à Pobreza e do SUS (Sistema
Único de Saúde), no valor de R$ 1
bilhão. O orçamento é de R$ 11,19
bilhões, dos quais R$ 1,34 bilhão
(12%) devem ser destinados à
saúde. Excluindo os gastos com o
fundo e os repasses do SUS, a área
só receberá R$ 1,087 bilhão -R$
256,56 milhões a menos do que o
mínimo constitucional previsto
pela emenda 29.
Na ação civil pública, as procuradoras também pretendem alegar a suposta inconstitucionalidade da lei estadual 4.167/2003, que
autorizou os gastos com obras assistenciais como despesas de saúde. Para elas, a lei, aprovada em
outubro, desrespeita a Constituição e a resolução 322 do Conselho
Nacional de Saúde, que criou as
diretrizes para a aplicação da
emenda 29.
Segundo as procuradoras, por
causa da lei estadual, foram incluídos como gastos de saúde
programas assistenciais estranhos à área. Elas citam como
exemplo o Cheque Saúde Cidadão (R$ 6,3 milhões), o Programa
Estadual de Acesso à Alimentação
(R$ 162,5 milhões), o Programa
de Despoluição da Baía de Guanabara (R$ 58,1 milhões) e as despesas com contratos de financiamento do Programa de Saneamento (R$ 181,5 milhões).
"Se prevalecer esse conceito
amplo de saúde, até a recuperação
de estradas, em última análise,
previne doenças ortopédicas",
disse Batini. Se estes programas
forem retirados da rubrica da saúde, o valor destinado para a área
em 2004 cai para apenas R$ 665
milhões -percentual bem abaixo do previsto em lei.
Para garantir a constitucionalidade dos programas assistenciais
na rubrica de saúde, a governadora entrou, no fim de setembro,
com uma ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) no STF (Supremo Tribunal Federal).
Rosinha questiona dois pontos
da resolução 322 do Conselho Nacional de Saúde. Um deles é o que
proíbe a aplicação de recursos do
Fundo de Pobreza em obras de saneamento (como é o caso do Programa de Despoluição da Baía de
Guanabara).
O outro é o que não permite a
inclusão de receitas oriundas de
operações de crédito no cálculo
do percentual mínimo constitucional (por exemplo, os contratos
de financiamento do Programa
de Saneamento).
A Folha procurou a assessoria
da governadora Rosinha, mas, até
a conclusão desta edição, ela não
havia respondido às acusações do
Ministério Público.
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