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JANIO DE FREITAS
O futuro para trás
"Se não aproveitarmos
a oportunidade extraordinária que esse momento nos oferece" - e vai por aí a frase que,
em discurso na sexta-feira, Lula
repetiu pela enésima vez. Já era
tempo, no terceiro ano de governo, de dar à questão um pouco
mais de sentido e honestidade:
"Estamos aproveitando a oportunidade extraordinária que esse
momento nos oferece?"
O Brasil, com o seu potencial incomparável, estar crescendo tão
menos do que a média desta pobre América Latina equivale a
uma traição ao presente e ao futuro da Nação. No mundo todo,
os países necessitados de mais desenvolvimento aproveitam as
condições extraordinariamente
favoráveis da economia internacional e, ano após ano, crescem
7%, 8%, 9%. O Brasil espera crescer, neste ano, uns 3%, se chegar a
isso. Mesmo que chegue, continuará na rabeira dos que menos
crescem e, no entanto, mais precisam de crescimento. No seu caso,
até para evitar a possível explosão
social que a disseminação da violência prenuncia, para o tempo
de nossos filhos e netos.
O Brasil que está na rabeira do
crescimento é o país que, comparado ao restante do mundo, produz os maiores lucros bancários,
os juros mais altos e a maior contenção, pelo governo, de verbas
disponíveis para incentivar o
crescimento econômico e atenuar
as péssimas condições de vida da
maior parte de sua população.
Mas o Brasil está se degradando
mais a cada dia. Por mais comedidos que sejam os jornais, tevês,
revistas e rádios, sempre mais interessados na Bolsa do que na
realidade nacional, a cada dia se
sabe que as represas do país estão
sob risco, as estradas estão em
ruínas, escolas inutilizáveis, serviços de saúde em situação de tanta
indigência quanto a de seus pacientes, não há investimento, não
há melhoria nenhuma induzida
pela administração pública -e
as verbas respectivas, previstas no
Orçamento aprovado e existentes
de fato no caixa governamental,
não são liberadas.
Uma observação que me foi feita há pouco: "O governo está a
um ano do seu fim, e até hoje Lula
só fala em relação ao futuro, "estamos criando as condições para
o crescimento", "se continuarmos
nesse rumo (da política econômica) vamos ter as condições para
crescer", e sempre assim". É o mesmo que faz Antonio Palocci. Como fez agora no Senado, na resposta à divergência exposta pela
ministra Dilma Rousseff: "Se as
despesas correntes crescerem
abaixo do PIB por dez anos, vamos ter crescimento econômico
consistente".
Ou seja, se o governo contiver o
gasto até com sua própria existência, a ponto de nem acompanhar proporcionalmente a produção nacional, depois de DEZ
ANOS haverá algum "crescimento consistente". Não ocorre que o
mais lógico e óbvio, além de mais
necessário, é promover o crescimento do PIB, da produção nacional generalizada, com o conseqüente efeito de maior arrecadação pelo governo e, portanto, disponibilidade para maiores e melhores gastos? A ideologia do financeirismo anticrescimento recusa a lógica e o óbvio, mas não
perde o ar doutoral. Como se viu,
há quatro dias, no ensinamento
incluído por uma jornalista em
sua visão do "Panorama Econômico": "O único desenvolvimento
possível é o que se faz sob as bases
de uma moeda estável". Crescimento "sob as bases", e não sobre
como é próprio das, é desenvolver
para baixo, para níveis ainda piores. Não basta a degradação
atual.
Os dois grandes êxitos que Lula
e Palocci atribuem à política econômica são a contenção de gastos
(o "superávit acima da meta" em
quase 50%) e as exportações. O
primeiro não é êxito, é a evidência da corrosiva contenção de
gastos até muito além do que a
própria política de contenção pretendia. Os fatores do grande aumento de exportações são o crescimento do comércio mundial e,
faça-se justiça, as iniciativas do
empresariado brasileiro do chamado agronegócio. A quantidade
de grãos e carnes, por exemplo,
que o Brasil tem exportado, não
se tornou possível de um ano para
o outro, só porque Lula e Palocci
chegaram ao governo.
O crescimento será no futuro,
mas Palocci teve uma boa notícia
imediata para dar no Senado, como fruto da sua política econômica: "a dívida está descendente".
Dispensemos 2003, que o governo
teria consumido para superar a
"herança maldita". Em janeiro de
2004, a dívida mobiliária do governo estava em R$ 737,3 bilhões.
Por efeito da política de juros gigantes e da emissão de títulos por
eles remunerados, a dívida fechou
setembro de 2005 em R$ 933,2 bilhões. "Descendente", então, só
para senadores dispostos a digerir
tudo o que venha do poder de liberar verbas de parlamentares.
Para nós outros, Palocci e Lula
vão ter a glória de levar a dívida a
um trilhão.
Há dez anos o presente do Brasil é despachado para o futuro impreciso. Nos três últimos anos, "o
momento oferece oportunidade
extraordinárias", mas o futuro do
Brasil é empurrado para trás. Será para isto que Lula, "por lapso",
fala em "disputar, sim, as eleições"?
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