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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CPI DOS BINGOS
Suposta testemunha diz ter presenciado conversa em que foi acertado assassinato de prefeito; depoimento pode mudar investigação
Morte de Toninho foi tramada, diz sushiman
MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPINAS
O senador Eduardo Suplicy
(PT), membro da CPI dos Bingos,
procura na região de Campinas
(SP) um garçom de codinome
"Jack" que afirma ter presenciado
-escondido- três reuniões em
uma casa de bingo de Campinas,
nas quais teria sido tramado o assassinato do prefeito Antonio da
Costa Santos, o Toninho do PT.
Toninho foi assassinado em 10
de setembro de 2001, na saída do
Shopping Iguatemi, ao ser atingido por um tiro que entrou pelo
ombro, atravessou o coração e o
pulmão e saiu pelas costas. O Ministério Público e o DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção a Pessoa) sustentam a tese
de que Toninho foi morto por
acaso, porque seu veículo estava
atrapalhando a fuga da quadrilha
do seqüestrador Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho.
O depoimento de "Jack" pode
mudar os rumos da investigação
sobre a morte do prefeito. A sua
versão já foi ouvida pelo Ministério Público e pela polícia. A Folha
conversou com ele nas duas últimas semanas, na condição de não
revelar o local do encontro, e ele
reafirmou o seu depoimento.
"Jack" não quis dar entrevista.
Diz estar com medo de ser assassinado. Mas ele já havia confirmado sua versão à Justiça, à Promotoria e à Polícia Civil. "Jack" diz
não ser garçom, e sim sushiman.
"O depoimento dele é importante. Pedirei na próxima semana
que ele seja ouvido", disse Suplicy. A família de Toninho diz
que as informações dadas não foram investigadas devidamente.
Segundo os depoimentos de
"Jack" à Justiça e aos promotores
entre 2002 e 2003, as reuniões no
bingo ocorreram nos dias 3, 4 e 5
de setembro de 2001. O depoimento contradiz a versão do Ministério Público e da polícia de
que Toninho morreu porque
atrapalhou a fuga de Andinho.
A viúva Roseana Garcia e a
ONG "Quem matou Toninho?"
discordam da versão oficial. Para
a viúva, o assassinato teve motivação política, por Toninho ter contrariado interesses de "grupos poderosos". Garcia apontou falhas
na investigação em depoimento
na CPI dos Bingos, há duas semanas. Ela disse que o depoimento
de "Jack" foi desqualificado pela
Promotoria e pela Polícia Civil.
Bingo
"Jack" disse ter presenciado as
reuniões na madrugada, atrás de
uma mesa em um mezanino do
bingo. Ele diz que, com a autorização de um segurança, pernoitava eventualmente no local.
Para um dos promotores do caso, Ricardo Silvares, o depoimento é importante, mas contradiz
outras apurações. "O depoimento
dele não foi desqualificado. Nós
[promotores] é que pedimos para
que ele fosse ouvido em juízo. Ele
inclusive citou nomes de quem
estaria presente na reunião. Mas
esse é um depoimento. Existem
outros depoimentos. E isso precisa ser analisado no contexto dos
autos", disse Silvares, que ouviu
"Jack" em 2002.
"Jack" contou a versão pela primeira vez em meados de 2002 em
uma sala na Prefeitura de Amparo
(SP) na presença do irmão de Toninho, Paulo Roberto da Costa
Santos, além de petistas locais e
integrantes da administração -
até hoje governada pelo PT.
Depois disso, o irmão do prefeito conta ter levado a testemunha a
São Paulo ao então advogado da
família de Toninho e hoje ministro da Justiça, Márcio Thomaz
Bastos. A história foi relatada novamente. De lá, "Jack" foi encaminhado ao Ministério Público e
confirmou sua versão.
Outro a conhecer a versão da
testemunha foi o delegado Luiz
Fernando Lopes Teixeira, do
DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), de São
Paulo, responsável pelo inquérito.
Procurado pela Folha, via assessoria de imprensa da Secretaria de
Segurança Pública do Estado, Teixeira informou que "Jack" foi ouvido duas vezes pelo DHPP, na
presença da Promotoria, e que o
depoimento dele foi "desqualificado" por contradizer outras informações que estão nos autos.
Em nota, a secretaria informou
na sexta-feira que "o DHPP investigou a morte do prefeito de Campinas, Antonio da Costa Santos,
reconstituiu o crime e concluiu
que a quadrilha de Wanderson
Newton de Paula Lima, o Andinho, foi autora do homicídio".
O ministro da Justiça foi procurado por meio de sua assessoria
de imprensa, mas não se pronunciou sobre o assunto até a noite de
sexta-feira. Dora Cavalcanti, que
na época era sócia de Márcio Thomaz Bastos e hoje é advogada da
família no caso Toninho, não soube confirmar se "Jack" esteve
mesmo no escritório.
"Não posso afirmar se ele esteve
com Bastos. Mas eu acompanhei
um depoimento dele aos promotores, em Campinas. O que é relevante nessa história é o fato de ele
nunca ter pedido nada e ser tão
insistente. Ele descreveu a reunião
com detalhes", disse Cavalcanti.
No processo, a testemunha descreve a fisionomia das pessoas
que ele diz ter visto na reunião. Ele
diz que os membros da reunião se
tratavam entre si como "presidente", "delegado", "coronel" e
"secretário", e um outro integrante tinha sotaque português.
Um dos integrantes, segundo
ele, seria um traficante de drogas.
Outro aparentava ser segurança
de um dos presentes. Participaram da suposta reunião entre sete
e nove pessoas. "Jack" diz que o
grupo demonstrou claramente
que se sentia prejudicado com a
política adotada por Toninho.
Ouvidos pelo Ministério Público e pela Justiça, representantes
do Bingo Taquaral -onde teria
ocorrido a reunião- negaram a
versão e disseram que "Jack"
nunca trabalhou no local.
O processo do caso Toninho
continua em fase de instrução
-ou seja, ainda está aberto para
novas diligências e depoimentos.
Dopado
No dia 12 de dezembro de 2002,
quando daria o seu primeiro depoimento à Justiça, "Jack" afirmou ter sido seqüestrado e dopado por um membro do PT de
Amparo chamado Nilton Amancio, para que ele não prestasse depoimento.
Em depoimento posterior à Justiça, "Jack" afirmou que, no dia
em estava marcada a primeira
"oitiva", ele foi apanhado às 5h40
em um hotel de Campinas e levado para o pronto-socorro de Amparo. Depois diz ter acordado no
município de Americana (SP).
O depoimento de "Jack" à Justiça foi remarcado dias depois e ele
confirmou a versão da reunião ao
juiz José Henrique Rodrigues
Torres, da Vara do Júri.
Amancio negou que tenha tentado evitar o primeiro depoimento da testemunha à Justiça. "Isso
nunca ocorreu. Eu o levei uma vez
ao pronto-socorro de Amparo,
mas foi porque ele pediu. Ele estava passando mal, suava frio e não
foi no dia do depoimento dele na
Justiça", disse Amancio.
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