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CONTAS PÚBLICAS
Ney Suassuna é suspeito de ter participado de esquema que desviou dinheiro da Companhia de Águas e Esgotos do Rio
Senador do PMDB é acusado de corrupção
JOSIAS DE SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Repousa sobre a mesa do procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, um relatório reservado que pede a abertura de ação penal contra Ney
Suassuna (PB), líder do PMDB no
Senado. Nele, Suassuna é acusado
de participar de um suposto "esquema de corrupção" para favorecer uma empresa privada.
A firma se chama Embrasc
(Empresa Brasileira de Assessoria
e Consultoria Ltda.). Tem sede
em Santos (SP). Dedica-se ao ramo do "saneamento fiscal". Ou
seja, ajuda empresas a resolverem
passivos tributários. Sua clientela,
segundo a Procuradoria da República, é composta majoritariamente de empresas públicas.
Em depoimento ao Ministério
Público Federal, Norma Boff dos
Santos, uma ex-diretora da Embrasc, contou que a empresa pagou suposto pedágio a Suassuna
em troca de contrato firmado
com a Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgoto do Rio),
em janeiro de 2000.
Desse contrato resultou um pagamento da Cedae (estatal do governo do Rio) à Embrasc no valor
de R$ 29,8 milhões. Corresponde
a uma comissão de 12% sobre o
montante que a estatal deixou de
pagar em tributos graças à assessoria que recebeu da Embrasc.
Mais da metade da comissão
(7% dos 12%, ou 58,3%) teriam sido entregues a um grupo de pessoas ligadas ao senador Suassuna,
disse no depoimento ao Ministério Público Norma Boff, a ex-diretora da Embrasc.
"Segundo o depoimento da testemunha Norma Boff dos Santos", anota o relatório do Ministério Público, "os valores repassados pela Embrasc para o senador
Ney Suassuna eram justificados
na contabilidade da empresa por
intermédio de fictícias aquisições
de ouro e emissão de notas frias".
O documento que propõe a
abertura de ação penal contra
Suassuna possui 38 páginas. Foram escritas por dois procuradores da República: José Alfredo de
Paula Silva e Raquel Branquinho.
Ficou pronto no último dia 5 de
outubro, dia em que foi enviado
ao procurador-geral.
Detentor de mandato parlamentar, Suassuna só pode ser
processado no STF (Supremo Tribunal Federal). Cabe ao procurador-geral formular a denúncia,
caso os argumentos dos dois colegas o convençam.
Ouvido pelo repórter, Ney Suassuna mostrou-se indignado. Acusa os procuradores de agir "com
motivação política". Diz que irá
espontaneamente ao Ministério
Público, nesta segunda-feira, para
"desmontar" o que chama de
"farsa" engendrada contra ele.
A investigação que agora envolve Suassuna começou em novembro de 2003. Foi originalmente
instaurada na Procuradoria da
República em Santos (SP). No ano
passado, o Ministério Público já
se mostrava convencido da participação do líder do PMDB no Senado no suposto esquema favorecimento ilícito.
Ao analisar os autos, porém, o
procurador-geral de então, Cláudio Fontelles, decidiu abrir vista
do processo para o acusado. Depois de analisar as explicações
oferecidas por Suassuna, Fontelles emitiu, em junho de 2004, um
ofício no qual considerou que não
havia "prova indiciária mínima
da participação do senador nas
supostas irregularidades".
Fontelles determinou que os autos fossem devolvidos à Procuradoria em Santos. As investigações
prosseguiram. Agora, os procuradores José Alfredo e Raquel Branquinho voltam à carga. Eles escreveram o seguinte no relatório enviado ao novo procurador-geral:
"Além de agregar provas novas,
não avaliadas na época, a investigação conseguiu comprovar (...)
que o senador Ney Suassuna, em
suas informações, lamentavelmente alterou a realidade de fatos
relevantes, induzindo em erro o
titular da ação penal perante o Supremo Tribunal Federal."
Josias de Souza escreve o blog "Josias
de Souza - Nos Bastidores do Poder" no
endereço www.folha.com.br/blogs/josiasdesouza
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