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Brecha legal oculta doadores de R$ 66 mi para campanhas
Doações de empresas não são identificadas se feitas aos partidos em vez de aos candidatos
Dos recursos recebidos por Humberto Costa (PT), que concorreu ao governo de Pernambuco, 68% são de doadores desconhecidos
RUBENS VALENTE
LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Graças a uma brecha na lei
eleitoral, os partidos esconderam os verdadeiros doadores
de R$ 66,2 milhões que abasteceram as campanhas em todo o
país nas últimas eleições.
O valor supera as contribuições realizadas por empreiteiras e por outros setores da economia que puderam ser identificados em levantamento feito
pela Folha.
As doações ocultas ocorrem
quando empresas, em vez de
encaminhar recursos diretamente para os candidatos, o fazem para os partidos, que os repassam aos políticos.
Desta forma, é o partido, e
não a empresa, que aparece como doador na prestação de
contas de cada um dos candidatos beneficiados.
O diretório nacional do PT
foi o campeão na prática das
contribuições ocultas -destinou R$ 8.875.976,00 (12% do
total) para campanhas a cargos
diversos em 19 Estados diferentes do país.
O principal beneficiado foi o
candidato derrotado ao governo de Pernambuco Humberto
Costa, ex-ministro da Saúde.
Ele recebeu R$ 3,65 milhões,
cerca de 41% do total que o diretório nacional mandou para
os Estados. Como o candidato
declarou receita total de R$
5,32 milhões, o eleitor ficou
sem saber de onde vieram 68%
dos recursos captados pela
campanha do candidato.
A Folha procurou o ex-ministro, mas foi informada pela
assessoria de imprensa do petista de que ele está de férias e
não poderia ser localizado.
Entre os petistas mais aquinhoados, abaixo de Costa aparece o ex-presidente nacional
da sigla, o candidato a deputado federal Ricardo Berzoini
(SP), que recebeu R$ 499,7 mil.
A candidata derrotada ao Senado pelo Paraná, Gleise Hoffmann (PR), mulher do ministro do Planejamento, Paulo
Bernardo (PT-PR), obteve R$
430 mil do diretório nacional.
Omissão da lei
Em entrevista à Folha há
duas semanas, o tesoureiro nacional do PT, Paulo Ferreira,
afirmou que o dinheiro repassado pelo diretório nessas eleições se refere a doações recebidas de empresários já com a indicação de quem deveria ser o
verdadeiro beneficiário.
Assim, não teria ocorrido
privilégio a Costa, Berzoini e
outros candidatos -seriam
eles os reais destinatários das
contribuições feitas ao PT.
Graças à omissão da lei, os
nomes dos doadores não constam das prestações de contas
protocoladas no TSE (Tribunal
Superior Eleitoral) e só deverão ser informados à Justiça
em abril de 2007, prazo legal
para os partidos apresentarem
seus balanços do ano de 2006.
O diretório nacional do PFL
distribuiu R$ 5,78 milhões a
candidatos diversos, principalmente para o candidato vitorioso ao governo do Distrito
Federal, José Roberto Arruda,
que ficou com R$ 3,57 milhões
(62% do total). É, assim, ignorada a origem de 44% do valor
que Arruda declarou ter captado (total de R$ 8,05 milhões).
O comitê único do PFL de
Santa Catarina, Estado do presidente nacional da sigla, senador Jorge Bornhausen, foi o segundo maior destino dos recursos, com R$ 535 mil.
O diretório nacional do
PSDB distribuiu R$ 3,7 milhões sem origem identificada.
O maior destino, com R$ 850
mil, foi o comitê único do partido no Amazonas, terra do senador Arthur Virgílio (PSDB-MA), candidato derrotado ao
governo e líder da sigla no Senado. O comitê da campanha
de José Serra (PSDB-SP) veio
logo atrás, com R$ 729 mil.
Entre os diretórios regionais,
o PT também está à frente. O
regional de São Paulo repassou
R$ 5,32 milhões a diversos candidatos. Do total, a campanha
do deputado federal João Paulo Cunha recebeu R$ 681 mil.
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