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Arma, bebida e tabaco elegem 65 deputados
Indústrias de bebidas doaram recursos para quase 10% dos candidatos vitoriosos na disputa por uma vaga na Câmara
Ex-ministro da Fazenda no governo Lula, Antônio Palocci foi o que mais recebeu recursos dos bancos, com R$ 250 mil
DA REPORTAGEM LOCAL
Empresas de bebidas, de armas e munições e de tabaco
ajudaram a eleger, com doações
financeiras que realizaram nas
últimas eleições, 65 deputados
federais (12% do Congresso
Nacional) dos principais partidos e 30 deputados estaduais.
Juntas, as empresas desses
setores -sensíveis a eventuais
mudanças na legislação acerca
de restrição de uso e consumo- injetaram R$ 13 milhões
nas campanhas. A maior parte
veio das indústrias de cerveja e
refrigerantes, como as concorrentes AmBev (Companhia de
Bebidas das Américas) e Primo
Schincariol, que fizeram contribuições de R$ 10,6 milhões e
elegeram 41 parlamentares (veja quadro nesta página).
Na Câmara, o maior beneficiário do setor foi o deputado
federal João Paulo Cunha (PT-SP), com R$ 400 mil.
A Ambev, maior indústria de
bebidas da América Latina,
com receita líquida de R$ 15,9
bilhões e dona de marcas como
Brahma, Skol e Antarctica, destinou R$ 5,1 milhões, principalmente por meio da empresa
controlada Fratelli Vita (R$ 4,8
milhões).
As cervejarias também ajudaram na vitória de seis governadores de Estado: José Serra
(PSDB-SP), Aécio Neves
(PSDB-MG), Marcelo Déda
(PT-SE), José Roberto Arruda
(PFL-DF), Teotônio Vilela
(PSDB-AL) e Eduardo Braga
(PMDB-AM).
As doações das indústrias de
armamentos vieram da Taurus,
sediada no Rio Grande do Sul, e
da CBC (Companhia Brasileira
de Cartuchos), com fábrica no
interior de São Paulo. Elas beneficiaram candidatos de vários partidos, como Miguel
Rossetto (PT-RS), ministro do
Desenvolvimento Agrário do
governo Lula, que recebeu R$
100 mil da CBC para sua campanha derrotada ao Senado.
As doações das indústrias de
tabaco vieram de empresas
multinacionais com sede no
Rio Grande do Sul, maior produtor de fumo do país.
Campeões
As planilhas das prestações
de conta que os partidos devem
preencher e entregar ao TSE
(Tribunal Superior Eleitoral)
não prevêem a indicação do setor da economia das empresas
ou das pessoa doadoras.
Levantamento feito pela Folha indicou um total de pelo
menos R$ 58,6 milhões em
doações feitas por empreiteiras, R$ 31,9 milhões provenientes de siderúrgicas e mineradoras, R$ 27,8 milhões de bancos
e R$ 11,6 milhões de indústrias
de celulose e papel.
O ex-ministro da Fazenda
Antônio Palocci (PT-SP) foi o
candidato à Câmara dos Deputados que mais recebeu dos
bancos, com R$ 250 mil (Unibanco e Itaú). Em sua gestão
(2003-2006), o setor bateu recordes históricos de lucro.
Outro ex-ministro de Lula,
Ciro Gomes (PSB-CE) foi o
campeão entre as siderúrgicas,
com R$ 800 mil. Ele foi ministro da Integração Nacional.
Entre os candidatos a deputado apoiados por empreiteiras, a deputada federal Thelma
Oliveira (PSDB-MT), viúva do
ex-governador Dante de Oliveira, foi a que mais recebeu recursos, com R$ 660 mil da Amper Construções Elétricas
Ltda., que pertence ao irmão de
Dante, Armando.
A coletora de lixo Leão Leão
Ltda., investigada pelo Ministério Público de São Paulo por supostas irregularidades em contratos públicos, contribuiu com
R$ 100 mil para Duarte Nogueira (PSDB-SP), ex-secretário de Estado da Agricultura.
A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) colaborou
com R$ 400 mil. Ajudou a eleger senador, com R$ 50 mil, o
ex-governador Marconi Perillo
(PSDB-GO).
(LEANDRO BEGUOCI e RUBENS VALENTE)
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