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JANIO DE FREITAS
Às armas
O país que há duas para três décadas, pelo menos, lidera o armamentismo na América Latina é o próprio Brasil
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A CAMPANHA de um grupo de
armamentistas no Brasil utiliza Hugo Chávez como um
pretexto fácil, que dispensa esforços
para mobilizar os meios de comunicação brasileiros, mas o país que há
duas para três décadas, pelo menos,
lidera o armamentismo na América
Latina é o próprio Brasil.
Nem com suas recentes compras
de armas a Venezuela se aproxima
do arsenal brasileiro e dos ininterruptos investimentos para ampliá-lo, inclusive, com já eficiente produção própria. Em equipamento, o
Chile sempre comprador e a Colômbia ajudada pelos Estados Unidos,
com armas e homens, têm o bastante para causar imensa inveja ao coronel Chávez.
O Brasil é o único possuidor, na região, de indústria de aviões de ataque. Data da ditadura o acordo de
cooperação feito com a Itália para a
produção, com a Embraer, do caça a
jato então chamado de AMX. Mais
recentemente, foi introduzido na linha de produção militar, com êxito
até no exterior, o turbo de ataque
Tucano. Outros modelos militares
estão em estudo, como um grande
jato, o C-390, do gênero "transporte
tático".
Se algum outro país latino-americano estuda, em sigilo, a produção
de foguetes, o Brasil já está na fase
prática, sob responsabilidade da Aeronáutica. O domínio desse conhecimento é a base dos denominados
projéteis balísticos com ogivas nucleares.
O Brasil é o único, na região, dedicado a construir submarinos, capacidade originada de um acordo de
transferência tecnológica da Alemanha. Nesse item do armamentismo,
o Brasil se situa ainda mais à frente
dos vizinhos com o submarino nuclear, projeto cujo estágio está sob
sigilo. Ainda na construção naval, a
engenharia e os estaleiros do Brasil
têm capacidade superior à de todos
os demais na América Latina, embora não para navios de grande porte.
Por falar neles, o Brasil é o possuidor de um porta-aviões, o "São Paulo", comprado pelo governo Fernando Henrique. Chamava-se "Foch"
na esquadra francesa, que decidiu
vendê-lo e, se não o conseguisse, encostá-lo desativado, por ter o custo
de manutenção excessivamente alto. Para a pobre França, bem entendido, não para o rico Brasil.
Lá atrás, chilenos e peruanos puxaram a compra de caças a jato, mas
o Brasil logo os seguiu, com as esquadrilhas do francês Mirage e dos
americanos da linha F, uns e outros
submetidos a atualizações. Os Mirage, já no governo Lula, foram entregues a processos de renovação, pelo
combinado Dassault-Embraer, que
os equiparam aos mais modernos da
fábrica francesa. Essa operação foi
adotada porque o fabricante russo
Sukhoi, que produz o que é considerado melhor caça da atualidade, ultrapassou todos os obstáculos criados contra a sua vitória na concorrência para a compra de nova esquadrilha pelo Brasil. No final, foram
feitas exigências de importações
russas de produtos brasileiros; depois, parte da fabricação pelos russos no Brasil, até chegar o que parecia impensável: cessão do conhecimento tecnológico. A Sukhoi aceitou.
Mas não levou: Lula & cia. queriam os novos Mirage, representados por sua amiga Embraer, e o governo dos Estados Unidos, logo batidos os seus F-16, não queria a transação com os russos. Daí a solução
de modernizar os Mirage antigos,
para sustar a concorrência que os
russos venciam. Outra concorrência
já está em estudo, o que dobrará a
quantidade de caças do Brasil em relação ao que era dado como necessário, quando da concorrência impossibilitada.
Sem falar no projeto de arma nuclear, que está por aí. Diante dele e
dos demais, a atacada corrida armamentista da Venezuela consiste na
compra de 24 caças russos, o SU-30
do desgosto norte-americano; mil
fuzis russos AK-103 e alguns navios
leves de construção espanhola. Já o
Chile, do qual nada se diz, para pesar
de argentinos e bolivianos, aumenta
ainda mais sua esquadrilha de caças,
com F-16 americanos, e comprou na
Alemanha 130 tanques -estes, como instrumentos também de invasão, muito mais ameaçadores para a
vizinhança do que os aviões.
No armado Brasil, a campanha
dos armamentistas é só um mau negócio. Mau, é claro, para o país.
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