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PF desmoralizou Abin, diz general em carta a Tarso
Jorge Felix afirma que apreensão de equipamentos afeta imagem da agência no exterior
Acordo feito para que a Abin acompanhasse a perícia dos computadores desmoronou após veto do juiz que havia autorizado a operação da PF
FELIPE SELIGMAN
LUCAS FERRAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Jorge Felix, afirmou em carta destinada ao ministro da Justiça, Tarso Genro,
que o cumprimento pela Polícia Federal de mandados de
busca e apreensão na Abin
(Agência Brasileira de Inteligência) "causou profunda estranheza" e "indignação" e que
o fato "desmoraliza" o órgão
perante outros países.
Na carta, Felix usa um tom
duro para reclamar a Tarso,
responsável pela Polícia Federal, que só foi informado da
ação "quase duas horas após a
chegada" de policiais federais
na Abin e que o vazamento da
investigação "revela falta de
cuidado na condução de um inquérito sigiloso, comportamento incompatível com a seriedade do tema envolvendo
uma agência que trabalha em
benefício do Estado e do Presidente da República".
A Folha teve acesso a correspondências, algumas sigilosas,
trocadas por Tarso Genro e
Jorge Felix, além de ofícios encaminhados aos diretores da
Abin, Wilson Trezza, e da PF,
Luiz Fernando Corrêa. As cartas são reveladoras do grau de
animosidade entre a Abin e a
PF que se seguiu após a
apreensão feita pela polícia.
A ação, ocorrida no dia 5 e
autorizada pela 7ª Vara Federal
Criminal de São Paulo, foi solicitada pelo delegado Amaro
Vieira Ferreira, responsável
pela inquérito da Corregedoria
da PF que apura o vazamento
de dados da Satiagraha.
Além da Abin, a PF cumpriu
mandados de busca e apreensão na casa de investigadores
da Satiagraha, como o delegado
Protógenes Queiroz, que coordenou a operação.
Conforme escreveu Felix a
Tarso no dia 11, a apreensão
dos equipamentos "poderiam
ter sido solicitados administrativamente e que certamente
seriam atendidos de imediato".
Além de um furgão na sede da
Abin, os policiais recolheram
computadores no Centro de
Operações do Rio.
Felix diz na carta que a ação
da PF "inviabiliza ações em
curso", "expõe nomes, valores
recebidos e dados de informantes, que podem até mesmo colocar suas integridades físicas
em risco", além de impossibilitar a continuação do trabalho
com eles e tornar "extremamente difícil o recrutamento
de novos" agentes.
O chefe do GSI expõe ainda
ao ministro da Justiça que a
busca "desmoraliza" a Abin
junto a outros países, "que provavelmente restringirão o intercâmbio de informações estratégicas com o Brasil".
"Trata-se de um trabalho desenvolvido pessoalmente por
mim, e pelos diretores-gerais
da Abin, junto a países de vital
interesse estratégico para o Estado brasileiro, durante seis
anos, que considero ter ficado
muito prejudicado", disse.
A correspondência selou
acordo entre os ministros -até
então, Felix aventava acionar a
AGU (Advocacia Geral da
União) para, judicialmente,
resguardar o sigilo das informações. Tarso concordou com
a solicitação de Felix de que
uma equipe da Abin acompanhasse a perícia da PF nos documentos apreendidos.
Dessa forma, avaliou o ministro, se resolveria politicamente uma questão sensível e
que desgastava tanto o chefe do
GSI como o ministro da Justiça. Corrêa e Trezza, na troca de
ofícios, apenas ratificam a decisão dos superiores.
Trezza, diretor da Abin em
exercício, informa à Polícia Federal que quatro servidores foram destacados para acompanhar o trabalho. O delegado
Amaro Ferreira informa ao
chefe da PF que todo o material
recolhido na Abin ficaria lacrado, à espera dos agentes da
agência de inteligência.
Na semana passada, porém,
o acordo ruiu após decisão do
juiz Ali Mazloum, o mesmo que
cedeu os mandados de busca e
apreensão, que considera crime compartilhar dados sigilosos, como ocorreu entre PF e
Abin. Ele proibiu a Abin de participar da perícia. Só então a
AGU foi oficialmente acionada,
elaborando um pedido de reconsideração encaminhado a
Mazloum.
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