|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Procuradoria acusa Valério de ter pago juiz para ajudar PSDB
Denúncia também acusa dois sócios do ex-publicitário e executivos do Banco Rural
O valerioduto tucano foi o
embrião do que viria a ser o
mensalão do PT; Valério já
tinha sido denunciado por
desvio de recursos em 2007
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
O Ministério Público Federal
em Belo Horizonte denunciou
novamente Marcos Valério
Fernandes de Souza por causa
do valerioduto tucano, esquema implantado em 1998 pelo
empresário para beneficiar a
candidatura de Eduardo Azeredo (hoje senador) ao governo
de Minas Gerais pelo PSDB.
Dois sócios de Valério e 24
diretores ou ex-diretores do
Banco Rural também foram denunciados pela Procuradoria.
O valerioduto tucano foi o
embrião do que viria a ser o
mensalão do PT, descoberto
em 2005. Valério, Azeredo, o
ex-ministro Walfrido dos Mares Guia e mais 12 pessoas já foram denunciadas pela Procuradoria ao Supremo Tribunal Federal em novembro de 2007.
Todas elas exerciam cargos públicos ou, no caso de Valério e
de seus sócios, tinham contratos com o governo de Minas.
Na denúncia anterior, sobre
a qual o STF ainda não se manifestou, o procurador-geral da
República, Antonio Fernando
Souza, alegou ter ocorrido desvio de pelo menos R$ 3,5 milhões de recursos públicos para
a campanha de Azeredo. Os denunciados foram acusados de
peculato e lavagem de dinheiro.
Na nova denúncia, resultado
de novas investigações sobre o
esquema de 1998 -sobretudo
os crimes financeiros e de pessoas sem foro privilegiado-,
Valério é acusado de lavagem
de dinheiro e corrupção ativa
por ter pago seu atual sócio Rogério Tolentino, então juiz do
Tribunal Regional Eleitoral de
Minas, para votar numa corte
da Justiça Eleitoral favoravelmente à coligação do PSDB.
Tolentino, que foi denunciado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, está preso
em São Paulo com Valério por
suposto envolvimento com crimes fiscais. Conforme a denúncia, ele teria recebido R$ 302
mil para favorecer a coligação.
O dinheiro era depositado diretamente na conta de Tolentino
e na conta pessoal de sua mulher. Quem depositava era a
SMPB, empresa de Valério.
"Além do dinheiro depositado nas contas, foi apurado que
as decisões favoráveis aos candidatos eram sistematicamente proferidas logo após os depósitos serem feitos. Algumas vezes eram decisões isoladas,
contra a vontade da maioria da
corte", afirma a denúncia.
Valério e Cristiano Paz, um
de seus sócios na extinta
SMPB, foram denunciados
também por prestar informação falsa ao Banco Central, que
verificou movimentação financeira suspeita na conta da
SMPB, em 1999. O negócio envolveria empréstimo de R$ 7
milhões tomado no Rural para
a campanha de Azeredo.
Ao responder ao BC sobre essa movimentação na conta da
SMPB, os sócios informaram se
tratar de aumento de capital da
agência, o que não foi confirmado pela Junta Comercial.
Prestar informações falsas pode custar seis anos de reclusão.
Por esse tipo de envolvimento e por outros empréstimos
que, de acordo com o texto da
denúncia, teriam movimentado cerca de R$ 20 milhões, foram denunciados dirigentes e
ex-dirigentes do Rural, totalizando 24 pessoas, entre os
quais a presidente Kátia Rabelo
e mais quatro atuais diretores.
A Procuradoria diz que o Rural foi peça-chave no valerioduto tucano. Fazia empréstimos
sem as garantias previstas em
lei e, depois, recursos sem identificação "eram empregados
para quitar os empréstimos,
em complicadas manobras que,
não raro, combinavam mecanismos fraudulentos".
A Procuradoria alega ainda
que o Rural, além de violar as
normas do BC, impediu a identificação da origem e destino
dos valores provenientes de
crimes contra a administração
pública e contra o sistema financeiro nacional, o que configura lavagem de dinheiro.
Texto Anterior: Para teles, pode existir mercado paralelo de dados Próximo Texto: Outro lado: Advogados dizem desconhecer o teor da denúncia Índice
|