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ORÇAMENTO
Quantia equivale à expectativa de arrecadação com aumento de tributos submetido ao Congresso
Precatórios somam R$ 3,1 bi em 2000
MARTA SALOMON
da Sucursal de Brasília
Personagens de escândalo recente de pagamento de propina e
de uma CPI, os precatórios -dívidas resultantes de decisões judiciais- consumirão R$ 3,1 bilhões
do Orçamento da União de 2000.
É um recorde que compromete
o equivalente a quase todo o dinheiro que o governo espera arrecadar com o último aumento de
tributos que submeteu ao Congresso -a prorrogação das alíquotas de 27,5% do Imposto de
Renda e de 12% da Contribuição
Social sobre o Lucro Líquido.
Nas últimas semanas, os precatórios têm sido objeto de uma pesada ação de lobby no Congresso.
Por pouco não se tornaram
moeda aceita no processo de privatização e na concessão de serviços públicos.
""Seria ótimo", comentou o presidente do Sinicon (Sindicato Nacional da Indústria da Construção
Pesada), Luiz Fernando Santos
Reis, beneficiário, em nome de 31
empreiteiras, do maior precatório
a ser pago pela União em 2000.
A proposta de conversão dos
precatórios em moeda de privatização caiu da emenda constitucional que fixa novas regras para
essas dívidas e foi aprovada em
primeiro turno na Câmara. Mas já
existe um acordo para aprovar a
emissão de títulos públicos com
prazo de até dez anos para o pagamento de precatórios da União,
dos Estados e dos municípios.
A emissão dos títulos -autorizada pela Constituição de 1988-
foi objeto da CPI do Senado que
investigou operações irregulares
da Prefeitura de São Paulo e dos
governos de Alagoas, Pernambuco e Santa Catarina.
Os novos títulos, além de poderem ser negociados no mercado,
poderão ser usados no pagamento de tributos, como defendem os
credores. A equipe econômica até
tentou, mas não conseguiu evitar.
Tão grande quanto o interesse
dos credores e de seus advogados
foi a pressão de governadores e
prefeitos para parcelarem suas dívidas. Não há cálculos precisos
sobre o montante de precatórios
não pagos nos Estados e municípios. Estima-se que o governo de
São Paulo deva aproximadamente R$ 5 bilhões.
Na negociação da nova mudança constitucional, foi deixada de
lado a proposta que previa a revisão de precatórios com valores
elevados. Eles não são raros no
projeto de lei orçamentária da
União para o próximo ano.
Lista
A União foi condenada a pagar
no ano 2000 mais de 73 mil precatórios, de causas trabalhistas a desapropriações milionárias. Deles,
265 são superiores a R$ 1 milhão,
constatou levantamento feito pelo gabinete do deputado Agnelo
Queiroz (PC do B-DF).
Na lista dos credores, estão, por
exemplo, os fazendeiros que tiveram mil bois confiscados pelo governo Sarney, na crise de abastecimento do Plano Cruzado.
Eles alegaram que os bois foram
abatidos antes do prazo ideal de
engorda. A diferença entre o que
receberam, mais juros e correção,
vai render aos fazendeiros cerca
de R$ 1,5 milhão.
Há ainda situações surrealistas,
como a de Maria Francisca da Silva, que pediu a devolução do empréstimo compulsório pago na
compra de um carro. Seu nome
entrou no Orçamento como beneficiária de um precatório de
mais de R$ 1 milhão, suficiente
para devolver o compulsório cobrado de quase 500 carros como o
dela. O erro foi detectado no Congresso e será corrigido.
Esses valores ainda são pequenos perto do precatório de R$
379,9 milhões que beneficiará um
grupo de empreiteiras que reclamaram o pagamento de correção
monetária e juros por atrasos no
pagamento de obras contratadas
pelo DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagens)
-leia quadro ao lado.
A indenização por um imóvel
desapropriado no bairro do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro,
renderá ao espólio de Joanna Figueira de Mello R$ 155,9 milhões.
""Tudo o que o governo pretende arrecadar com loterias neste
ano não dá para pagar a conta dos
precatórios. A defesa do governo
nesses processos deveria ser mais
eficiente para barrar malandragens e pagar apenas quem foi
realmente lesado", defende Agnelo Queiroz.
A AGU (Advocacia Geral da
União), órgão que começou a
funcionar em 1995, alega que já
conseguiu economizar R$ 9 bilhões contestando o valor fixado
em ações contra a União.
Segundo a AGU, há atualmente
mais de 1 milhão de processos
correndo na Justiça contra a
União.
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