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UM ANO DEPOIS
Ministério do Desenvolvimento Agrário só assentou 34 mil das 60 mil famílias prometidas pelo presidente Lula
Rossetto ignora números e se diz "satisfeito"
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar de não ter cumprido
metas, ter enfrentado críticas pelo
aparelhamento do Incra e ter assistido a um recorde de invasões e
aumento das mortes no campo, o
ministro do Desenvolvimento
Agrário, Miguel Rossetto, adotou
tom otimista e disse estar "satisfeito" ao fazer ontem o balanço de
seu primeiro ano de gestão.
"Estamos muito satisfeitos com
o modo como chegamos ao fim
de 2003. Terminamos o ano com
um desenho de programas muito
definido e claro para o ano que
vem", afirmou, em entrevista em
que fez elogios à política agrária.
O Incra (Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária)
estima ter assentado 34.514 famílias até ontem, inferior às 60 mil
prometidas pelo presidente Luiz
Inácio Lula da Silva em maio. O
ministro atribuiu a falha às "questões orçamentárias e fiscais do governo, conhecidas por todos".
Criticado pelo aparelhamento
do Incra nos Estados por representantes de movimentos sociais,
Rosseto, em setembro, mudou a
direção do órgão, retirando Marcelo Resende e nomeando Rolf
Hackbart, de caráter mais técnico
e ligado ao PT. "Para nós, a relação de um gestor com movimentos sociais não o desabona. Continuamos pautando uma conduta
na qual o que define um superintendente, um diretor, é a qualidade de sua gestão", disse.
Indagado se a troca de comando
havia auxiliado na condução da
política agrária, Rosseto foi lacônico. "O padrão de gestão do Incra agregou muita eficiência."
Rosseto prometeu para 2004 a
concretização de fatos positivos
cujos alicerces foram lançados
neste ano, segundo ele. Uma nova
linha de crédito voltada para jovens assentados pretende injetar
R$ 520 milhões em cooperativas.
"Estamos preparados para cumprir integralmente todas as metas
do Plano Nacional de Reforma
Agrária e criar mais de 2 milhões
de empregos no campo."
O PNRA prevê o assentamento
de 530 mil famílias até o fim do
governo Lula, em 2006.
Outros exemplos citados como
bons foram os R$ 2,4 bilhões em
crédito agrícola repassados pelo
Plano Safra e o plano de habitação
em assentamentos. A intensificação de programas como estes em
2004, segundo o ministro, servirá
para diminuir o número de invasões de terra e a quantidade de
mortes por confronto de fazendeiros com sem-terra. Neste ano,
houve 34 mortes.
Questionado se o número de famílias assentadas apresentado
por Rossetto é superior ao calculado pelo MST, Jaime Amorim, da
coordenação nacional do MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra), disse: "É bem
inferior, mas a gente não está sabendo agora com qual número
eles [do governo] trabalham. A
gente vai ter que pegar esses números e trabalhar. Amanhã à noite a gente já pode trabalhar melhor com vocês [da imprensa]".
Cadastro
O governo não tem informações
sobre 23,5% dos 850 milhões de
hectares do território brasileiro, o
equivalente a 200 milhões de hectares. Para resolver o problema,
que prejudica a cobrança de impostos sobre o uso do solo, terá
início em 2004 a elaboração do cadastro nacional de terras com auxílio de satélites, capazes de traçar
o perímetro das áreas. O cálculo
leva em conta os imóveis em áreas
urbanas, reservas indígenas, propriedades rurais, parques nacionais e estaduais etc.
Colaborou a Agência Folha
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