São Paulo, terça-feira, 20 de dezembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/FIM DE ANO

Em reunião ministerial, presidente faz balanço de 2005 e tenta unificar discurso para 2006

Lula evita abordar crise e pede comparação com gestão FHC

Sérgio Lima/Folha Imagem
Presidente Lula se reúne com ministros no último encontro conjunto do ano, no Palácio do Planalto


PEDRO DIAS LEITE
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na última reunião ministerial do ano mais difícil de seu governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou as diretrizes para o embate político do ano eleitoral de 2006: ordenou que todos os ministros "se apropriem" dos dados positivos do governo e espalhem, "na mídia, nos seus Estados, no Parlamento e onde mais forem instados" a comparação em todas as áreas com o governo Fernando Henrique Cardoso.
A determinação ficou clara nas palavras dos dois ministros escalados para passar à imprensa o resultado da reunião: enquanto Ciro Gomes (Integração Nacional) fazia questão de dizer que "é possível afirmar, com muita segurança, que o governo Lula tem desempenho muito melhor que o anterior em todos os segmentos", Jaques Wagner (Relações Institucionais) repetia que Lula quer que os ministros "dominem o conjunto das realizações do governo para que façam a sua defesa".
"Temos de nos esforçar para fazer muito mais, essa foi inclusive a palavra do presidente, mas temos a segurança de que o governo Lula tem melhor desempenho em todos os números em que pudéssemos ser desafiados, hoje ou em qualquer debate, em relação aos críticos", afirmou Ciro.
"Neste último ano, cada ministro, além de se dedicar à sua área, deve ter um protagonismo maior na defesa do conjunto da obra do governo (...). Todos nós temos orgulho daquilo que foi construído e que nos anima, nos dá energia para o desafio de mais este ano e, eventualmente, o desafio do processo eleitoral", disse Wagner.
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), disse que o modelo de reunião não dá resultado. "Esse governo acabou, não é tempo de grandes obras e se começar a gastar agora vai gastar atabalhoadamente", afirmou.
A reunião, a 12ª do governo Lula e a quarta deste ano, foi totalmente fechada à imprensa. Começou às 9h40 e só acabou às 20h40. No encontro anterior, em agosto, no auge da crise que balançou sua gestão, o pronunciamento do presidente foi transmitido ao vivo pela TV. Ontem à noite, ainda estava previsto um "jantar de confraternização" na Granja do Torto, com ministros, mulheres e maridos.
A preparação para a reunião de ontem começou no domingo à noite, quando Lula se reuniu na Granja do Torto com Wagner, Antônio Palocci (Fazenda), Luiz Dulci (Secretaria Geral) e Dilma Rousseff (Casa Civil). O presidente já sabia quem seriam os oradores, mas quis delimitar os debates, para evitar atritos sobre a área econômica, alvo de críticas dentro do seu próprio governo.
Apesar disso, as divergências econômicas novamente afloraram. Embora proteja Palocci e Henrique Meirelles (presidente do Banco Central), Lula deu o recado, segundo participantes, de que a estabilidade está "consolidada", e que o "compromisso agora é com o crescimento e a área social".

Eleições e reforma
Segundo Wagner e Ciro, Lula não pediu aos que desejem ser candidatos que deixem o governo antes do prazo legal (31 de março). "Teoricamente, o compromisso é de ficar até o final do governo. Esse assunto deve ser tratado pessoalmente com cada ministro pelo presidente", disse o ministro das Relações Institucionais.
Pelo relato, Lula tampouco falou diretamente das divergências públicas entre integrantes do primeiro escalão, como Dilma e Palocci: apenas pediu "unidade".
Wagner e Ciro negaram que a crise, que o ministro das Relações Institucionais insiste em chamar de "turbulência", tenha sido o fio-condutor do encontro. "Foi um balanço de 36 meses de gestão", afirmou Ciro.
Para ilustrar sua tese, Ciro falou que os jornalistas só querem saber de "futrica", enquanto tentava recitar dados positivos do governo, como o crescimento do valor de mercado da Petrobras de US$ 15 bilhões quando Lula assumiu para US$ 70 bilhões agora.
A reunião foi aberta por Lula, que depois passou a palavra a Dilma, para a ministra rapidamente explicar o formato da reunião. Cada um discorreu sobre sua área. Falaram Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), Ciro, Wagner, Roberto Rodrigues (Agricultura) e Márcio Thomaz Bastos (Justiça). Lula discursou por 40 minutos, e depois começaram os debates.
Nas apresentações, não surgiram projetos novos para 2006. A idéia é acelerar e consolidar a implementação dos que já estão em andamento, para apresentar realizações na disputa eleitoral.
Não teriam sido citadas metas para o ano que vem. Wagner, por exemplo, disse que "não se lembrava" se um número para o PIB foi mencionado. Ciro afirmou apenas que o crescimento será mais parecido com 2004 (de 4,9%) que com 2005 (estimativa de, no máximo, 3%).


Colaboraram SHEILA D'AMORIM e SILVIO NAVARRO, da Sucursal de Brasília

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