São Paulo, terça-feira, 20 de dezembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/FIM DE ANO

Luiz Furlan, Ciro Gomes e Luiz Marinho pedem mudanças para garantir crescimento do país; Palocci e Meirelles ficam isolados

Ministros criticam a política econômica

FERNANDO RODRIGUES
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A maioria dos ministros pressionou ontem o titular da Fazenda, Antonio Palocci, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, para que sejam realizadas correções na política econômica. Vários falaram abertamente a favor de alguma alteração que garanta o crescimento. Os críticos mais ferinos foram Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), Ciro Gomes (Integração Nacional) e Luiz Marinho (Trabalho).
Outros concordavam. Como o debate ministerial começou a esquentar, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva arbitrou dizendo que o ideal será retomar o tema no "início do ano".
Ficou subentendido para vários ministros que Lula deseja estimular algum mecanismo que garanta o crescimento econômico robusto em 2006, quando deve tentar a reeleição. Em dado momento da reunião, Furlan disse: "A fase do antibiótico já passou. Agora é a hora de dar vitamina". Ouviram-se risadas. Palocci ficou constrangido. Meirelles usou outra metáfora médica, dizendo que o "doente" está bem, mas ainda não está livre de uma recaída.
Não ficou clara a forma como Lula pretende retomar o debate sobre crescimento econômico no início de 2006. Mas ficou evidente para todos que o presidente não deseja outra surpresa como o resultado do PIB no terceiro trimestre deste ano, que registrou queda de 1,2%. "Como podemos ter certeza de que não haverá outra surpresa no ano que vem?", chegou a perguntar um ministro.
Dilma Rousseff (Casa Civil) coordenou a reunião ministerial e evitou entrar em colisão direta com Palocci -de quem divergiu publicamente neste mês. Mas toda vez que alguém fazia um intervenção a favor de uma inflexão desenvolvimentista, a ministra concordava.

Furlan
Furlan, que não é político, pediu mudança na política econômica. Disse que, sem maior queda dos juros, diminuição de impostos e aumento de investimentos, a economia crescerá entre 3% e 3,5% no ano que vem.
Palocci ficou quase isolado no encontro de ontem. Um de seus fiéis seguidores, o ministro Paulo Bernardo (Planejamento), passou grande parte da reunião calado. O titular da Fazenda considerou ter sido "cutucado" por Furlan. Tentou sempre defender a manutenção de sua política econômica e afirmou que "estão criadas as condições" para o crescimento do PIB em 2006 ser semelhante ao de 2004 (quando a taxa aumentou 4,9%) e diferente da de 2005 (expectativa de apenas 2,5%).
Alvo das observações de seus colegas, Palocci contou com a ajuda de Lula. O presidente apresentou dois volumes com recortes de jornais para mostrar como era improdutivo para o país a "briga de ministros pela imprensa".
Furlan foi o primeiro a ter a palavra na reunião após Dilma Rousseff falar rapidamente sobre o formato do encontro. O ministro fez um balanço positivo das exportações, dizendo que elas têm batido recorde após recorde, mas que haveria um limite para o crescimento. Leia-se: real muito valorizado em relação dólar.
Furlan exibiu um filme com dados de sua área e usou as previsões de crescimento da economia de órgãos do governo, como Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), para dizer que o Brasil, com atual política econômica, não cresceria "mais do que 3% ou 3,5%".
Segundo ele, é preciso dar "uma melhorada" em políticas desenvolvimentistas, diminuindo impostos de setores da economia. Furlan foi direto ao pedir uma mudança na política monetária. Defendeu queda mais rápida e significativa da taxa básica de juros, a Selic, hoje em 18% ao ano. "Sem isso, o crescimento será menor do que desejamos", disse, no relato de colegas à Folha.

Palocci
Ao defender sua política econômica, Palocci mencionou os três pilares dela: superávit primário de 4,25% do PIB, juros altos para combater a inflação e câmbio livre. Disse que o crescimento da economia em 2006 surpreenderá. Falou que os órgãos do governo citados por Furlan erraram ao prever a taxa de 2004, estimando um aumento menor do que os 4,9%. Daí ter mencionado que 2006 será semelhante a 2004.
Palocci atribui a queda de 1,2% do PIB no terceiro trimestre a dois fatores: política monetária e queda do índice de confiança do consumidor na economia. A política monetária, disse, recorre a juros altos para combater a inflação. É o preço a pagar, argumentou.
A queda do índice de confiança do consumidor na economia refletiu temores em relação ao desenlace da crise política, que continua em curso após seis meses de alta voltagem. Esse índice de confiança, afirmou Palocci, já estaria em recuperação. O ministro da Fazenda disse ainda que o IBGE fará uma revisão dos dados do desempenho da economia no terceiro trimestre que constatará uma queda menor do que a anunciada.


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