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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/FIM DE ANO
Luiz Furlan, Ciro Gomes e Luiz Marinho pedem mudanças para garantir crescimento do país; Palocci e Meirelles ficam isolados
Ministros criticam a política econômica
FERNANDO RODRIGUES
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A maioria dos ministros pressionou ontem o titular da Fazenda, Antonio Palocci, e o presidente do Banco Central, Henrique
Meirelles, para que sejam realizadas correções na política econômica. Vários falaram abertamente a favor de alguma alteração que
garanta o crescimento. Os críticos
mais ferinos foram Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), Ciro Gomes (Integração Nacional) e
Luiz Marinho (Trabalho).
Outros concordavam. Como o
debate ministerial começou a esquentar, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva arbitrou dizendo
que o ideal será retomar o tema
no "início do ano".
Ficou subentendido para vários
ministros que Lula deseja estimular algum mecanismo que garanta
o crescimento econômico robusto em 2006, quando deve tentar a
reeleição. Em dado momento da
reunião, Furlan disse: "A fase do
antibiótico já passou. Agora é a
hora de dar vitamina". Ouviram-se risadas. Palocci ficou constrangido. Meirelles usou outra metáfora médica, dizendo que o
"doente" está bem, mas ainda não
está livre de uma recaída.
Não ficou clara a forma como
Lula pretende retomar o debate
sobre crescimento econômico no
início de 2006. Mas ficou evidente
para todos que o presidente não
deseja outra surpresa como o resultado do PIB no terceiro trimestre deste ano, que registrou queda
de 1,2%. "Como podemos ter certeza de que não haverá outra surpresa no ano que vem?", chegou a
perguntar um ministro.
Dilma Rousseff (Casa Civil)
coordenou a reunião ministerial e
evitou entrar em colisão direta
com Palocci -de quem divergiu
publicamente neste mês. Mas toda vez que alguém fazia um intervenção a favor de uma inflexão
desenvolvimentista, a ministra
concordava.
Furlan
Furlan, que não é político, pediu
mudança na política econômica.
Disse que, sem maior queda dos
juros, diminuição de impostos e
aumento de investimentos, a economia crescerá entre 3% e 3,5%
no ano que vem.
Palocci ficou quase isolado no
encontro de ontem. Um de seus
fiéis seguidores, o ministro Paulo
Bernardo (Planejamento), passou
grande parte da reunião calado. O
titular da Fazenda considerou ter
sido "cutucado" por Furlan. Tentou sempre defender a manutenção de sua política econômica e
afirmou que "estão criadas as
condições" para o crescimento do
PIB em 2006 ser semelhante ao de
2004 (quando a taxa aumentou
4,9%) e diferente da de 2005 (expectativa de apenas 2,5%).
Alvo das observações de seus
colegas, Palocci contou com a ajuda de Lula. O presidente apresentou dois volumes com recortes de
jornais para mostrar como era
improdutivo para o país a "briga
de ministros pela imprensa".
Furlan foi o primeiro a ter a palavra na reunião após Dilma
Rousseff falar rapidamente sobre
o formato do encontro. O ministro fez um balanço positivo das
exportações, dizendo que elas
têm batido recorde após recorde,
mas que haveria um limite para o
crescimento. Leia-se: real muito
valorizado em relação dólar.
Furlan exibiu um filme com dados de sua área e usou as previsões de crescimento da economia
de órgãos do governo, como Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada) e IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística),
para dizer que o Brasil, com atual
política econômica, não cresceria
"mais do que 3% ou 3,5%".
Segundo ele, é preciso dar "uma
melhorada" em políticas desenvolvimentistas, diminuindo impostos de setores da economia.
Furlan foi direto ao pedir uma
mudança na política monetária.
Defendeu queda mais rápida e
significativa da taxa básica de juros, a Selic, hoje em 18% ao ano.
"Sem isso, o crescimento será menor do que desejamos", disse, no
relato de colegas à Folha.
Palocci
Ao defender sua política econômica, Palocci mencionou os três
pilares dela: superávit primário de
4,25% do PIB, juros altos para
combater a inflação e câmbio livre. Disse que o crescimento da
economia em 2006 surpreenderá.
Falou que os órgãos do governo
citados por Furlan erraram ao
prever a taxa de 2004, estimando
um aumento menor do que os
4,9%. Daí ter mencionado que
2006 será semelhante a 2004.
Palocci atribui a queda de 1,2%
do PIB no terceiro trimestre a dois
fatores: política monetária e queda do índice de confiança do consumidor na economia. A política
monetária, disse, recorre a juros
altos para combater a inflação. É o
preço a pagar, argumentou.
A queda do índice de confiança
do consumidor na economia refletiu temores em relação ao desenlace da crise política, que continua em curso após seis meses de
alta voltagem. Esse índice de confiança, afirmou Palocci, já estaria
em recuperação. O ministro da
Fazenda disse ainda que o IBGE
fará uma revisão dos dados do desempenho da economia no terceiro trimestre que constatará uma queda menor do que a anunciada.
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