São Paulo, sábado, 20 de dezembro de 2008

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Lula diz que ainda testa Dilma e que não quer voltar em 2014

Presidente afirma que ministra é "gabaritada", mas que só isso não é suficiente

Lula critica a falta de acordo na disputa pelas Mesas da Câmara e do Senado e diz que é preciso evitar erro que "levou à eleição do Severino"

Sérgio Lima/Folha imagem
Garçom serve o presidente Lula durante tradicional café da manhã de final de ano com jornalistas, ontem, no Palácio do Planalto

SIMONE IGLESIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que ainda está testando politicamente a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) para escolhê-la como sua candidata em 2010. Segundo ele, a ministra é extremamente "gabaritada", mas falta a ela traquejo político.
Ao mesmo tempo em que trabalha para construir seu sucessor, Lula rejeitou a possibilidade de concorrer a cargos políticos. E aproveitou para cutucar seus antecessores: "Ex-presidente dará contribuição extraordinária se souber ficar quietinho". Afirmou também que não voltará ao Congresso.
Sobre a eventual candidatura de Dilma, foi taxativo: "Ela é extremamente gabaritada [para ser presidente]. Mas só isso não basta. Estou observando, vendo como ela se comporta, como os partidos reagem".
Como sugestão para que a ministra decole, Lula disse que ela deveria falar mais com a imprensa. As declarações do presidente foram dadas em café da manhã com jornalistas.
Informado da pouca paciência da ministra com entrevistas, desconversou: "Nunca entrevistei a Dilma. Comigo ela sempre foi simpática".
Lula se esquivou de falar em um plano B à sua sucessão, mas disse que "nomes não faltam, porque todo mundo quer sentar aqui [na sua cadeira]". Lula disse que ainda não conversou com a petista sobre ela ser candidata, porque, quando o fizer, "vai ser definitivo".
Ele tratou como absurda a tese de que concorrerá a presidente em 2014. Disse esperar "estar vivo até lá" e sair do governo em posição privilegiada, de modo que aliados queiram sua presença na campanha.
"Não trabalho com a hipótese absurda de alguns companheiros de sair agora [2010] e voltar em 2014. Juscelino Kubitschek [1956-1961] pensou que iria voltar e não voltou. Ex-presidente não deve dar palpite sobre governo, só deve falar quando for consultado, porque ex-presidente tem telhado de vidro", declarou.

CONGRESSO
"Eu pensei que o jogo já estivesse definido", disse, em referência às candidaturas de Tião Viana (PT-AC), à presidência do Senado, e de Michel Temer (PMDB-SP), à presidência da Câmara. Em seguida, criticou o lançamento de vários nomes. Lula afirmou que, "do ponto de vista das liberdades individuais", todo mundo pode concorrer. Mas "poder", reforçou, é uma coisa. Outra é que os escolhidos precisam ter "credibilidade" para liderar. "Não podemos incorrer no mesmo erro do passado, quando o resultado da falta de bom senso levou à eleição do Severino [Cavalcanti]. Quando pulveriza muito, dá problema, não se pode sair atirando para tudo que é lado."
Severino foi eleito presidente da Câmara em 2005, quando o PT se dividiu em duas candidaturas. Poucos meses depois, renunciou sob acusação de recebimento de propina de um servidor da Casa. Em março deste ano, Lula afirmou que a oposição foi a responsável pela queda do deputado. "Elegeram o Severino. Não levou muito tempo e perceberam que ele não era oposição, e trataram de derrubar o Severino com a mesma facilidade com que o elegeram. Aquela parte da elite paulista e do Paraná, [aqueles] que te convidavam para fazer palestra toda semana para falar mal de projetos, hoje, se te encontram na rua, não cumprimentam. (...) Continuo tendo o mesmo respeito hoje que eu tinha por você há muito tempo", disse o petista em março.
Quanto a Garibaldi Alves (PMDB-RN), que busca a reeleição no Senado, Lula disse que consultou juristas e que ele não pode concorrer.

VEREADORES
O presidente se mostrou contrário à PEC (proposta de emenda constitucional) que aumenta o número de vereadores. A emenda foi aprovada no Senado e, depois, barrada na Câmara. "Não são 7.000 vereadores que vão resolver os problemas das cidades."

SAPATADA
Lula brincou com a possibilidade de que os presidentes passem a lançar sapatos contra os repórteres quando fizerem perguntas inconvenientes. Depois, soltou uma gargalhada e respondeu que não jogaria sapato em ninguém. "Se a moda pegar, as empresas vão ter que fazer sapatos mais leves e cheirosos. Ou então teremos que conceder entrevistas protegidos por vidros blindados."

POPULARIDADE
Lula disse que não é um "insensível", mas que procura não comentar resultados das pesquisas porque não se deixa "seduzir" quando aparece com índices favoráveis. "Meu ego não cresce um milímetro, porque se o ego cresce quando sobe pode bater o desespero quando cai."


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