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Mendes diz que teve mérito de reduzir "espetáculo na PF"
Presidente do STF diz que estado policial era pior e mais grave do que imaginava
Ao ser questionado sobre críticas que sofreu durante
o ano, Mendes considerou que a maioria delas foi feita por "pessoas de ficção"
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao fechar o polêmico ano de
2008, o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Gilmar Mendes, disse
ser o responsável pela diminuição da "espetacularização das
prisões" realizadas pela Polícia
Federal e considerou que não
errou quando externou sua
"preocupação" sobre o chamado Estado policialesco.
"Tenho impressão que isso [a
espetacularização] mudou e
não recuso os méritos", afirmou Mendes, ao conceder a última entrevista coletiva do ano.
O presidente do Supremo fez
duras críticas, na ocasião da
Operação Satiagraha, em julho,
às prisões do banqueiro Daniel
Dantas, do ex-prefeito de São
Paulo Celso Pitta e do investidor Naji Nahas, que foram televisionadas em rede nacional.
As imagens mostraram Pitta
sendo preso vestindo pijama.
Já em relação aos supostos
abusos da Polícia Federal, os
primeiros ataques foram feitos
em 2007, quando divulgou-se o
nome de Gilmar Mendes como
integrante de uma lista de políticos que receberia brindes da
empresa Gautama, investigada
na Operação Navalha. Soube-se
depois que se tratava de um homônimo do presidente do STF.
Ontem, citando especificamente as relações entre a PF e a
Abin (Agência Brasileira de Inteligência) -"estavam criando
um supersistema e de forma
anárquica"-, ele disse que a situação é "até mais grave do que
se imaginava".
"Não acho, portanto, que tenha falado demais. Talvez tenha havido muitas condições
para que eu me pronunciasse,
tendo em vista as situações que
se colocaram", afirmou.
"Infelizmente, também em
relação aos meus temores, eu
não errei. Aquilo que eu apontara, por exemplo, quanto ao
estado policial era pior e mais
grave do que eu imaginara e do
que todos nós imaginávamos."
Sem citar nominalmente Daniel Dantas, o presidente do Supremo rebateu críticas de que o
tribunal só concede habeas corpus para pessoas "ricas", ao
afirmar que mais de 300 habeas
corpus foram concedidos em
2008. "A tentativa de timbrar o
tribunal como um tribunal de
ricos é realmente uma atitude
leviana, maldosa e irresponsável", disse.
Ao ser questionado sobre críticas que sofreu durante o ano,
Mendes considerou que a
maioria dos "protestadores"
são "pessoas de ficção". "Essas
pessoas não existem, são pessoas de ficção na maioria delas.
Eu disse: esses protestantes, esses protestadores, não conseguem encher uma Kombi."
Números
De acordo com um balanço
estatístico do tribunal, neste
ano houve uma redução de
41,7% dos processos analisados
pelos ministros em relação ao
ano passado.
Em números absolutos, os 11
ministros do Supremo receberam 65,8 mil processos em seus
gabinetes, contra 112,9 mil em
2007.
A diminuição se deve às 13
súmulas vinculantes aprovadas
do ano passado para cá e à implementação dos recursos com
a chamada repercussão geral,
mecanismo que permite ao tribunal analisar milhares de
ações julgando apenas um caso-referência.
Os dados apresentados ontem também mostram um fato
curioso. De 5.300 comentários
enviados ao Supremo pela população, 52% deles (ou 2.759)
referiram-se às duas decisões
de Gilmar Mendes de mandar
soltar em menos de 48 horas o
banqueiro Daniel Dantas.
O presidente do STF também disse ontem que o tribunal
deverá retomar o julgamento
sobre a reserva indígena Raposa/Serra do Sol em fevereiro de
2009, além de tratar de outros
temas "importantes". Apesar
de ter havido uma votação majoritária favorável à demarcação contínua da reserva indígena, o debate foi interrompido
por um pedido de vista do ministro Marco Aurélio Mello.
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