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FGV põe na web mais retratos da era Vargas
Aos 65 anos, fundação amplia acesso e colaboração do público ao principal acervo sobre história brasileira do século 20
Mais de 10 mil fotos dos álbuns de Alzira, filha e colaboradora do presidente, poderão ser consultadas e identificadas pelos usuários
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
A fotografia de 1952 tem ares
de anos dourados, e nela nada
prenuncia o suicídio, dois anos
depois, do personagem central,
o presidente Getúlio Vargas.
Sentado à ponta de uma chaise longue nos jardins da granja
Comary, antiga propriedade da
família Guinle na região serrana do Rio, o governante que deu
nome a uma era e mais tempo
ficou no poder no século 20 está cercado por cinco mulheres,
três delas na grama, a seus pés.
A primeira à esquerda é sua
filha e colaboradora, Alzira
Vargas do Amaral Peixoto
(1914-1992). As demais são senhoras do jet set da época. Entre os retratados no segundo
plano, o milionário Didu de
Souza Campos documenta o
encontro com uma filmadora.
A imagem é uma das 10.407
reunidas nos 102 álbuns de família da "rapariguinha", como
Getúlio chamava Alzira.
A maioria inédita, elas foram
digitalizadas e serão liberadas à
consulta hoje, na nova versão
eletrônica do acervo do
CPDOC (Centro de Pesquisa e
Documentação de História
Contemporânea do Brasil), a
escola de ciências sociais e história da Fundação Getulio Vargas e sigla fundamental a quem
busca informações sobre o período republicano.
A remodelagem da página,
agora no endereço http://
cpdoc.fgv.br/, comemora os
65 anos da FGV, neste domingo, e traz três novidades.
A primeira é o mecanismo de
busca, agilizando o acesso a 198
arquivos, 5.000 horas de gravação da série História Oral e aos
verbetes do "Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro".
Outra inovação é o tamanho
do conjunto digitalizado, que
passará de cem mil para 480
mil páginas de documentos e
de 80 mil para 160 mil fotos.
Por fim, haverá um mecanismo de "anotação colaborativa",
explica Suely Braga, coordenadora de documentação do
CPDOC. O usuário poderá sugerir adendos à classificação ou
apontar equívocos. Se confirmada, a informação será incorporada ao arquivo.
As fotos de Alzira, que vão
dos anos 20 ao governo Juscelino Kubistchek (1956-1961), são
um caso em questão. No início,
ela marcava data e local, sem
identificar todos os retratados.
Nos últimos álbuns, deixou bilhetes com notas em vermelho,
à modo de legenda.
A classificação das imagens
foi quase toda feita por Regina
Luz, "memória viva" da família
Vargas no CPDOC, como brinca Celso Castro, estudioso das
Forças Armadas e diretor do
centro. Com 32 anos de casa, a
pesquisadora organizou o arquivo do cacique do PSD fluminense Ernani do Amaral Peixoto (1905-1989), marido de Alzira, e editou os dois volumes dos
"Diários de Getúlio Vargas".
Então presidente (governador) do Rio Grande do Sul e logo do Brasil, após a revolução
que pôs fim à República Velha e
iniciou a modernização do país,
Vargas seria ditador no Estado
Novo (1937-1945) e voltaria,
eleito, à Presidência, em 1951.
Com tantos personagens,
nem a memória de Regina pôde
completar todas as legendas.
Na foto da granja Comary, uma
das cinco mulheres que conversam com o presidente aparece
apenas como "Jenny".
Essas lacunas poderão ser
preenchidas pelo público. "O
"Dicionário" e a História Oral
foram marcos de como fazer
história recente. Este é mais
um momento de inovação",
disse Celso Castro.
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