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Com informação de "isca", FBI investigou 12 pessoas no Brasil
Polícia federal americana confirma em documento que radialista enviado ao país era informante e elogia sua ação
"Como resultado dessa viagem, 12 pessoas foram identificadas", escreve agente encarregado de lidar com blogueiro radical
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
O FBI, a polícia federal norte-americana, confirma em documento apresentado a um tribunal de Nova York que o radialista e blogueiro radical de
direita Harold "Hal" Turner
era seu informante, foi enviado
ao Brasil e, como resultado dessa viagem, doze pessoas de interesse foram identificadas no
país e tiveram seus nomes enviados à Embaixada dos EUA
em Brasília e à unidade antiterror na sede, em Washington.
Na comunicação interna,
com data de julho de 2006, um
agente do FBI elogia a atuação
do informante e elenca dez feitos recentes de Turner. No décimo item, ele fala da ida do informante ao Brasil. "Em fevereiro de 2005, a fonte viajou
com um funcionário do governo de Nova Jersey" para o país,
escreve o agente Stephen Haug,
que era um dos encarregados
de lidar com Turner.
"Como resultado dessa viagem", continua ele, "doze pessoas foram identificadas, incluindo um árabe, que foi identificado completamente e falou
de fazer negócios com a fonte e
o funcionário que ao fim resultariam em fornecer suprimentos para a resistência iraquiana". No domingo passado, a Folha revelou que Turner se encontrou em Curitiba com o sírio naturalizado brasileiro
Mouthi Ibrahim, presidente da
Sociedade Árabe Brasileira.
Procurado pelo jornal, ele
confirmou o encontro, mas nega veementemente o teor da
conversa conforme narrada
por Turner e, agora, pelo agente. Afirma que Turner, que se
apresentava como representante do grupo racista branco
National Alliance, lhe disse
apenas que queria estabelecer
uma filial no Brasil e que buscava o apoio da comunidade árabe local. Ibrahim disse não ter
concordado com ele porque as
ideias do norte-americano
eram muito racistas.
No documento do FBI (veja
reprodução nessa página), o
agente diz que "notificações
apropriadas" sobre os doze
identificados foram enviadas
para o adido legal em Brasília e
para a Unidade de Operações
Antiterrorismo Doméstico, em
Washington, da polícia federal.
O relatório do agente do FBI
revela ainda que Turner, de 47
anos, presta serviços à força pelo menos desde 2003 e foi à
Austrália com objetivo semelhante ao da viagem para o Brasil, de atrair a público e identificar grupos extremistas antiamericanos. Afirma também
que o informante tem posição
privilegiada por ser uma personalidade pública de mídia e por
ser famoso no meio do movimento supremacista branco.
"Na verdade, a fonte tem status
de "celebridade" entre todos os
membros", escreve Haug.
O documento, apresentado
como prova pela defesa do radialista, foi obtido junto aos arquivos públicos do Tribunal
Distrital Leste de Nova York,
onde Turner está sendo julgado
por ter pedido em seu blog a
morte de três juízes federais
que mantiveram a proibição de
armas em Chicago, Illinois.
Turner afirma que agia em
combinação com o FBI e sua
defesa diz que se trata de caso
de liberdade de expressão; para
a promotoria, no entanto, o radialista de 47 anos não passa de
um "terrorista doméstico".
É sabido que o FBI tem a prática polêmica de se infiltrar em
grupos suspeitos e em alguns
casos incitar que cometam crimes; a novidade é que isso tenha acontecido também em
outros países, como o Brasil.
Turner e Haug não podem falar sobre o processo, que corre
em segredo de Justiça em Nova
York. Procurada pela Folha, a
Embaixada dos Estados Unidos em Brasília disse apenas
que não tem informações adicionais sobre o caso.
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