São Paulo, domingo, 20 de dezembro de 2009

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Com informação de "isca", FBI investigou 12 pessoas no Brasil

Polícia federal americana confirma em documento que radialista enviado ao país era informante e elogia sua ação

"Como resultado dessa viagem, 12 pessoas foram identificadas", escreve agente encarregado de lidar com blogueiro radical

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

O FBI, a polícia federal norte-americana, confirma em documento apresentado a um tribunal de Nova York que o radialista e blogueiro radical de direita Harold "Hal" Turner era seu informante, foi enviado ao Brasil e, como resultado dessa viagem, doze pessoas de interesse foram identificadas no país e tiveram seus nomes enviados à Embaixada dos EUA em Brasília e à unidade antiterror na sede, em Washington.
Na comunicação interna, com data de julho de 2006, um agente do FBI elogia a atuação do informante e elenca dez feitos recentes de Turner. No décimo item, ele fala da ida do informante ao Brasil. "Em fevereiro de 2005, a fonte viajou com um funcionário do governo de Nova Jersey" para o país, escreve o agente Stephen Haug, que era um dos encarregados de lidar com Turner.
"Como resultado dessa viagem", continua ele, "doze pessoas foram identificadas, incluindo um árabe, que foi identificado completamente e falou de fazer negócios com a fonte e o funcionário que ao fim resultariam em fornecer suprimentos para a resistência iraquiana". No domingo passado, a Folha revelou que Turner se encontrou em Curitiba com o sírio naturalizado brasileiro Mouthi Ibrahim, presidente da Sociedade Árabe Brasileira.
Procurado pelo jornal, ele confirmou o encontro, mas nega veementemente o teor da conversa conforme narrada por Turner e, agora, pelo agente. Afirma que Turner, que se apresentava como representante do grupo racista branco National Alliance, lhe disse apenas que queria estabelecer uma filial no Brasil e que buscava o apoio da comunidade árabe local. Ibrahim disse não ter concordado com ele porque as ideias do norte-americano eram muito racistas.
No documento do FBI (veja reprodução nessa página), o agente diz que "notificações apropriadas" sobre os doze identificados foram enviadas para o adido legal em Brasília e para a Unidade de Operações Antiterrorismo Doméstico, em Washington, da polícia federal.
O relatório do agente do FBI revela ainda que Turner, de 47 anos, presta serviços à força pelo menos desde 2003 e foi à Austrália com objetivo semelhante ao da viagem para o Brasil, de atrair a público e identificar grupos extremistas antiamericanos. Afirma também que o informante tem posição privilegiada por ser uma personalidade pública de mídia e por ser famoso no meio do movimento supremacista branco. "Na verdade, a fonte tem status de "celebridade" entre todos os membros", escreve Haug.
O documento, apresentado como prova pela defesa do radialista, foi obtido junto aos arquivos públicos do Tribunal Distrital Leste de Nova York, onde Turner está sendo julgado por ter pedido em seu blog a morte de três juízes federais que mantiveram a proibição de armas em Chicago, Illinois. Turner afirma que agia em combinação com o FBI e sua defesa diz que se trata de caso de liberdade de expressão; para a promotoria, no entanto, o radialista de 47 anos não passa de um "terrorista doméstico".
É sabido que o FBI tem a prática polêmica de se infiltrar em grupos suspeitos e em alguns casos incitar que cometam crimes; a novidade é que isso tenha acontecido também em outros países, como o Brasil.
Turner e Haug não podem falar sobre o processo, que corre em segredo de Justiça em Nova York. Procurada pela Folha, a Embaixada dos Estados Unidos em Brasília disse apenas que não tem informações adicionais sobre o caso.


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