NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

O Iraque exige que as transmissões ao vivo de Bagdá sejam feitas do ministério da informação. Mas elas parecem vir de todo lado, menos do tal ministério.
E se ouve aqui e ali que, enquanto não derrubarem as câmeras, elas seguirão transmitindo bravamente.
O problema é que não mostram nada. As primeiras horas da madrugada e depois quase todo o dia de ontem foram sem movimento no céu de Bagdá.
As únicas TVs que mostraram explosões foram as que tiveram sorte.
Foi o caso da Sky News, que teria saído na frente. (Para registro, a Sky News é a versão britânica da Fox News. Ambas de Rupert Murdoch.)
O fato é que a guerra "ao vivo", de videogame, não aconteceu. O mais que se viu foi fogo antiaéreo.
Questionada sobre o que havia de diferente entre a primeira Guerra do Golfo e esta, Christiane Amanpour, da CNN, não titubeou:
- As imagens.
Não há imagens.
Ou melhor, as imagens de maior conflito dramático vêm de outra parte -das manifestações contra a guerra, sobretudo nos EUA.
 
Os canais se prepararam para um ataque aéreo de "choque e pavor" que iluminaria o céu de Bagdá. E ele não veio.
O que veio foi o que a TV americana chamou de ataque a "alvos de oportunidade", depois "alvos de liderança", por fim "ataque de decapitação".
Foi a tentativa de assassinar Saddam Hussein. Encerrada a tentativa, todos ficaram à espera da confirmação da morte. E ela não veio. O que veio foi o pronunciamento do próprio na TV iraquiana.
Começou aí a confusão em Washington. O porta-voz Ari Fleischer correu a declarar que talvez não fosse o verdadeiro Saddam.
Mas era. Pelo menos foi o que indicou a oficialista Fox News, no fim da tarde:
- A Casa Branca acredita que era Saddam na TV.
E surgiram então os esforços para afirmar que, apesar da falha no assassinato, a operação havia sido um sucesso, porque "agora ele não pode mais confiar em seu círculo" ou porque "ele não estava tão feliz quanto nos dias anteriores".
Isso, na Fox News. A CNN entregou os pontos:
- O ataque foi malsucedido. Obviamente não funcionou.
E a TV ainda ficou sem as imagens que tanto queria -e com as imagens das manifestações de San Francisco, Nova York, Chicago etc.


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