São Paulo, quarta-feira, 21 de março de 2007

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Na Câmara, governo pára CPI do caos aéreo

Com a vitória da base do Planalto na CCJ, instalação de comissão de investigação depende de decisão do Supremo

Votação de recurso foi tumultuada, com bate-boca e quase agressão física entre deputados, e se arrastou por cerca de sete horas


Alan Marques/Folha Imagem
Deputados da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara durante votação na tarde de ontem


LETÍCIA SANDER
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo conseguiu aprovar na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara, por 39 votos a 21, recurso do PT que pretende anular a criação da CPI do Apagão Aéreo. A disputa com a oposição tumultuou a sessão, que se transformou em uma troca de insultos, quase com agressão física.
O recurso, que pedia anulação da CPI por falta de fato determinado, teve a votação protelada por sete horas pela oposição. Votaram contra o governo deputados de PV e PDT, que quer assumir a Previdência.
PFL e PSDB queriam evitar que a CCJ deliberasse sobre a CPI na esperança de que o Supremo Tribunal Federal julgasse se ela deve ser instalada. Temem que a decisão da CCJ, que deve ser reafirmada hoje no plenário, influencie o Supremo.
A oposição vê na CPI chance de abrir uma frente de problemas para o governo. Os governistas querem abafar as investigações por receio de temas incômodos, como acusações de superfaturamento em aeroportos. O embate paralisa a Câmara há quase duas semanas.
"A CPI causa terrível medo no governo. Vai mostrar sua omissão, além de revelar esquemas muito similares aos que sustentaram o mensalão", disse o líder do PFL, Onyx Lorenzoni (RS). "O governo quer averiguar. O governo não quer é criar mais um palanque", afirmou o líder do governo, José Múcio Monteiro (PTB-PE).
Ontem, a oposição se voltou contra o presidente da CCJ, Leonardo Picciani (PMDB-RJ). Em certo ponto, os deputados interromperam o debate e, batendo na mesa, gritaram: "golpista, golpista". Os governistas aplaudiram Picciani.
O momento mais tenso ocorreu quando Júlio Redecker (PSDB-RS), líder da oposição, criticou Picciani. O presidente da CCJ alertou que Redecker poderia cometer "leviandades", pois não vira todas as sessões.
O tucano levantou irritado e partiu em direção a Picciani. "O senhor não pode chamar ninguém de leviano, não tem autoridade moral para isso", disse, já segurado por colegas.
Picciani, de 27 anos, rebateu: "Desde a semana passada, o senhor faz acusações sobre a minha conduta e a minha idade. Se houve ofensa, eu retiro a palavra leviandade. Mas não tenho medo de cara feia".
No fim da tarde, a sessão da CCJ foi interrompida devido ao início do período de votações no plenário. Mas o governo se valeu da tática de "obstrução" usada nos últimos dias pela oposição. Seus deputados não registraram presença em plenário e derrubaram a sessão para que a CCJ discutisse a CPI.
O governo fez uma proposta ontem que não foi aceita pela oposição: criar uma comissão especial (sem poder de convocação ou de quebra de sigilo) no lugar da CPI.


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