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Brecha mantém emendas "rachadinhas" no Orçamento
Governo chegou a comemorar em 2007 o fim dos projetos genéricos de parlamentares
Essas emendas estão na origem do escândalo dos sanguessugas; deputados e senadores podem dividir a verba destinada ao Estado
ADRIANO CEOLIN
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Encaminhado na terça-feira
para sanção presidencial, o Orçamento deste ano não pôs fim
a uma prática que abre espaço
para corrupção e que o governo
comemorou ter eliminado em
2007: emendas feitas por bancada de parlamentares, de forma genérica, com características típicas de "rachadinhas".
Segundo levantamento feito
pela Folha com auxílio de consultores do Congresso, há pelo
menos 43 emendas dessa natureza, com valor de aproximadamente R$ 900 milhões.
Por não especificarem que
cidades ou projetos seriam
atendidos, as emendas de bancada genéricas permitem que
deputados e senadores de um
mesmo Estado dividam os recursos de modo a ampliar o
atendimento às suas bases eleitorais, sobretudo em ano de
eleições municipais.
"São rachadinhas "PO", puras
de origem", disse o senador
Sérgio Guerra (PE), presidente
do PSDB, ao analisar algumas
das emendas levantadas pela
reportagem.
O escândalo dos sanguessugas (venda de ambulâncias por
meio de licitações fraudadas)
teve sua origem em emendas
de bancada genéricas. Na liberação dos recursos, os congressistas definiam informalmente
para quais cidades o dinheiro
deveria ser destinado (é quando se dá o "racha"). Em muitos
dos casos, os prefeitos já faziam
parte do esquema e direcionavam as concorrências em benefício da Planam (principal empresa da quadrilha).
As emendas de bancada genéricas facilitam a corrupção
porque, ao contrário das emendas individuais, não deixam expostas as digitais dos parlamentares que as apadrinharam. Numa tentativa de acabar
com as "rachadinhas" e evitar
casos como o dos sanguessugas, o governo patrocinou a
aprovação no Congresso da Resolução n.º 1/2006, que veda a
designação genérica de emendas. A resolução só entrou em
vigor na elaboração do Orçamento deste ano.
Para o deputado Ricardo
Barros (PP-PR), vice-líder do
governo e um dos autores da
resolução, as emendas levantadas pela Folha têm características de "rachadinhas". "São genéricas e não deveriam ser acatadas. Essas emendas não são
ações estruturantes como determina a resolução", disse.
A resolução deixou uma brecha para a inclusão de "rachadinhas" no Orçamento de forma regular. Determinou que a
definição de projetos estruturantes seria estabelecida no parecer preliminar do relator do
Orçamento. No parecer do relator, deputado José Pimentel
(PT-CE), projetos estruturantes são aqueles que, "além de
propiciar benefícios sociais e
econômicos duradouros, criam
condições para gerar projetos
complementares". Segundo os
consultores do Orçamento ouvidos pela Folha, nessa definição cabe qualquer projeto, ainda que não defina municípios
ou região metropolitana, o que
permite a divisão da emenda.
Isto é, as "rachadinhas".
Nesses moldes, as bancadas
de Goiás (R$ 10 milhões), Minas (R$ 18 milhões), Pernambuco (R$ 15 milhões), Rondônia (R$ 12,671 milhões), Amazonas (R$ 12,267 milhões), Mato Grosso (R$ 12,078 milhões),
Pará (R$ 39 milhões), Piauí (R$
12,669 milhões) e São Paulo
(R$ 13,783 milhões) conseguiram emendas para "aquisição
de patrulha mecanizada".
"São rachadinhas, sim. Não
há como negar", disse o senador Heráclito Fortes (DEM-PI). "Eu pergunto: que patrulha é essa? E para quem é? Tem
de estar claro", afirmou.
Ainda assim, muitas das
emendas de bancada aprovadas no Orçamento não encontram respaldo nem mesmo no
parecer preliminar. Ou seja,
contrariam a resolução. Das 43
emendas genéricas levantadas
pela reportagem, 14 (R$ 230,7
milhões) ferem a legislação.
A bancada da Bahia emplacou, por exemplo, uma emenda
de R$ 10 milhões para "projetos de desenvolvimento sustentável", sem discriminar município, região metropolitana
ou projeto específico.
Em defesa do Orçamento
aprovado, o deputado José Pimentel disse que as emendas
coletivas "foram devidamente
analisadas e aprovadas pelo
Comitê de Admissibilidade, cujo relatório foi apreciado e
aprovado por unanimidade pela CMO [Comissão Mista do
Orçamento]".
Coordenador da bancada de
São Paulo na comissão do Orçamento, o deputado Devanir
Ribeiro (PT-SP) negou que as
emendas de bancada genéricas
para o Estado sejam "rachadinhas". Contudo, deu a seguinte
declaração: "São uma pulverização [dos recursos] que nós fizemos e entregamos para os
ministérios e os governos estaduais executarem".
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