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Jobim descarta compra de aviões dos EUA
Ministro diz que americanos oferecem modelos impressionantes, mas caros demais e sem transferência de tecnologia
Projeto de recomposição do esquadrão de caças da FAB está focado nos Rafale e nos Sukhoi; na área naval, país busca submarino pequeno
ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A WASHINGTON
O ministro da Defesa, Nelson
Jobim, descartou ontem a compra de equipamentos militares
dos Estados Unidos, principalmente os aviões de caça F-35
Joint Strike Fighter, da fábrica
Lockheed Martlin, alegando
que o país veta a transferência
de tecnologia e o custo/benefício não interessa ao Brasil. Cada exemplar custa de US$ 50
milhões a US$ 60 milhões.
"Não estou interessado [no
F-35], com esse preço, sem
transferência de tecnologia e
com alto grau de sofisticação,
muito acima das nossas necessidades", disse o ministro, que
passou toda a quarta-feira na
base aeronaval de Norfolk, onde assistiu a filmes sobre os caças e visitou um submarino nuclear USS Scranton.
O projeto de recomposição
do esquadrão de caças da FAB
(Forca Aérea Brasileira) concentra o foco nos Rafale, da
França, e nos Sukhoi, da Rússia. O ministro já visitou os dois
países neste ano, e um dos objetivos é adquirir em torno de 30
aviões para substituir o obsoleto esquadrão dos franceses Mirage, cuja primeira leva chegou
ao Brasil na década de 1970.
Jobim reconheceu que o F-35 "é impressionante", um jato
de quinta geração mais arrojado que os concorrentes: "Não
tem comparação com os Sukhoi e os Rafale". Mas, segundo
ele, o F-35, de ataque, é bom demais para a expectativa brasileira: "Um dos problemas é a
incompatibilidade dos aviões
com as nossas necessidades".
Dirigindo-se ao comandante da
Aeronáutica, Juniti Saito, que o
acompanhava, Jobim perguntou: "Não é, Saito?" Desconfortável, o brigadeiro foi reticente
e pareceu discordar: "Bem... O
Brasil teria uma capacidade
dissuasória maravilhosa..."
Além do F-35, que tem versões com um ou dois lugares, os
americanos expuseram a Jobim e Saito o F-22, um projeto
com apoio da Otan (Organização do Tratado do Atlântico
Norte), com participação de
nove países. Cada um custa por
volta de US$ 180 milhões, mas
já há 3.000 encomendas fechadas. Se o F-35 está acima do que
o Brasil pode pagar, o F-22 é
simplesmente impossível.
Quanto aos submarinos, há
dois problemas: os americanos
só têm modelos nucleares de
grande porte (o que Jobim visitou tem três andares), e o projeto brasileiro prevê a compra do
Scorpene, modelo francês convencional (diesel-elétrico), para servir como molde para o futuro submarino de propulsão
nuclear "made in Brazil".
A intenção é ter exemplares
pequenos e rápidos para fiscalizar a imensa costa brasileira e
exportar para outros países, especialmente da América do Sul.
A Alemanha também oferece
submarinos convencionais ao
Brasil e tem insistido para Jobim visitar as instalações militares do país, mas a compra de
modelos alemães está praticamente descartada. A decisão
pela parceria com a França na
área está cada vez mais sólida.
Jobim, porém, disse ontem,
em entrevista na Embaixada do
Brasil em Washington, que não
bateu o martelo a favor nem
contra nenhum dos projetos.
Ontem o ministro participou
da tradicional cerimônia de colocação de flores no Túmulo do
Soldado Desconhecido, teve almoço de trabalho com o secretário de Defesa, Robert Gates, e
foi ao Pentágono. Hoje Jobim
vai se reunir com a secretária
de Estado, Condoleezza Rice.
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