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Após inaugurações, obras de Lula voltam a ser canteiros
De 22 realizações entregues por petista e Dilma desde outubro, 13 não funcionam efetivamente
Barragem inaugurada em janeiro em Minas Gerais, por exemplo, não tem licença ambiental nem previsão
para entrar em operação
SIMONE IGLESIAS
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com a ministra e pré-candidata petista Dilma Rousseff na
garupa, o presidente Lula viaja
pelo país para "inaugurações"
que, logo após a desmontagem
do palanque oficial, voltam a
ser canteiros de obras.
Uma das estratégias do governo é fatiar ações para que
determinada etapa receba o
status de "concluída" e possa
então ser "inaugurada" pelo
presidente e pela ministra.
Em geral, esses eventos são
recheados de discursos elogiosos à chefe da Casa Civil, marcados pelas aparições lado a lado de Lula e Dilma e têm como
gancho obras que não funcionam efetivamente ou têm a
execução retomada logo após a
saída da comitiva.
Há exemplos em São Paulo,
no Rio de Janeiro, em Goiás, no
Rio Grande do Sul e em Minas
Gerais. São obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e de áreas como educação, transporte, saneamento,
habitação e recursos hídricos.
Levantamento feito pela
Folha em 22 "inaugurações"
de obras públicas realizadas
por Lula desde outubro do ano
passado encontrou exemplos
dessas práticas em 13 delas, o
que representa 60% dos casos.
Foi justamente em outubro,
no início da contagem regressiva de um ano para as eleições,
que Lula passou a encarar uma
maratona de viagens com Dilma a tiracolo. Naquele mês, levou a ministra para vistoriar
obras da transposição do rio
São Francisco, o que motivou a
oposição a acusá-lo de usar a
máquina de olho nas eleições.
Na semana passada, o Tribunal Superior Eleitoral multou
Lula em R$ 5.000 por propaganda antecipada a favor de
Dilma por conta de evento do
PAC em maio de 2009 no Rio.
Apelo
Sobre a tática das "inaugurações", um caso emblemático
ocorreu em janeiro. Segundo a
agenda oficial, Lula esteve em
Jenipapo de Minas (MG) para
inaugurar uma barragem.
Na cerimônia, não faltaram
apelos eleitorais. Dilma chorou
ao lembrar de sua origem mineira, enquanto Lula falou da
importância de inaugurar "o
máximo de obras possível" para
"mostrar quem foram as pessoas que ajudaram a fazer as
coisas neste país".
"Inaugurada" por Lula e Dilma na ocasião, a barragem segue sem prazo para entrar em
funcionamento, já que não conta nem mesmo com a licença de
operação do Ibama (órgão ambiental da União). "A obra hoje
está praticamente concluída",
afirma o engenheiro responsável, Fernando Corrêa.
Segundo ele, ainda não foram
concluídos o desmatamento e a
recuperação de estradas ao redor da barragem, o sistema de
drenagem e o reassentamento
de famílias afetadas. Além disso, admite: "Como o regime de
chuva está diminuindo, a gente
não pode operar a barragem".
Outra agenda nesses moldes,
e que inclui o fatiamento de
ações, ocorreu no início de fevereiro. Em Teófilo Otoni
(MG), Lula e Dilma participaram da "inauguração de prédios" do campus local da Universidade Federal dos Vales do
Jequitinhonha e Mucuri.
Segundo a assessoria da universidade, porém, os dois prédios estavam prontos desde
agosto do ano anterior. Além
disso, outro cinco prédios estão
em construção e outros três,
em fase de projeto. Não estão
concluídos refeitório, quadra e
dormitório dos alunos.
A estratégia do fatiamento fica clara em inaugurações do
PAC no Rio. Em dezembro, Lula e Dilma "inauguraram" 192
unidades habitacionais no
Complexo do Alemão, sendo
que outras 416 só serão entregues em dezembro deste ano.
Da mesma forma em Manguinhos: naquele dia, presidente e ministra entregaram 416
unidades habitacionais, com
outras 672 ainda em construção, segundo o Estado.
Há também exemplos de
inaugurações de obras incompletas. Somente em junho começa a operar a estação de tratamento de esgotos inaugurada
em fevereiro em São Leopoldo
(RS); e não foi construída ainda
a passarela que liga a comunidade da Rocinha, no Rio, ao
complexo esportivo inaugurado no início deste mês.
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