São Paulo, sexta-feira, 21 de abril de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

500 ANOS
Carta de Caminha (1500) e manto tupinambá (séc. 17) estão na mostra que é inaugurada domingo
Vedetes do Descobrimento chegam a SP

CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

Batedores, escoltas, carros fortes, segurança máxima. Foi esse o tom da chegada da carta de Pero Vaz de Caminha a São Paulo. O documento histórico que marca o achamento do país em 1500 é uma das vedetes da Mostra do Redescobrimento, evento que os presidentes Fernando Henrique e Jorge Sampaio, de Portugal, inauguram no próximo domingo, no parque Ibirapuera. Para o público em geral, o evento começa na próxima terça.
A Carta deveria chegar ao aeroporto de Cumbica às 5h20, mas o vôo 1569 da TAP atrasou cerca de uma hora. Do aeroporto, com um esquema de segurança digno de chefes de Estado, o documento foi levado ao Pavilhão Manoel da Nóbrega, no parque Ibirapuera, onde será exposta. Ali foi recebida pelo banqueiro Edemar Cid Ferreira, presidente da Associação Brasil 500 Anos, que organiza a Mostra do Redescobrimento.
"A carta é um símbolo que o país escolheu para comemorar seus 500 anos. Trata-se da primeira reportagem feita sobre o país. Estamos tratando-a com toda a responsabilidade, com todo o controle de luminosidade, umidade e segurança. Nosso compromisso técnico com a Torre do Tombo é que suas páginas sejam expostas em sistema de revezamento, de duas em duas", explicou Edemar Cid Ferreira.
Do pavilhão, a Carta seguiu para um cofre climatizado da Bradesco Seguros, em Osasco, onde será mantida até o domingo.
O documento histórico nunca será exibido em sua totalidade durante sua estadia no país. Por questões de conservação, serão sempre exibidas duas páginas, em sistema de revezamento. Seis homens estarão alocados constantemente para a segurança do documento.
Segundo a historiadora Maria Luiza Macedo, que acompanhou o documento de Lisboa até São Paulo, a Torre do Tombo não empresta seus documentos por mais de três meses, mas, excepcionalmente, a carta ficará no Brasil por quase um ano.
O escrivão de Pedro Álvares Cabral, Pero Vaz de Caminha, escreveu a carta entre os dias 22 de abril e 1º de maio de 1500 e dirigiu-a ao rei d. Manoel 1º de Portugal. Nela descreveu o primeiro contato dos portugueses com os índios, as características físicas dos habitantes locais e as maravilhas da natureza que encontrou.
Sobre os índios, por exemplo, escreveu: "A inocência desta gente é tal que a de Adão não seria maior". A carta permaneceu obscura por séculos, mas foi identificada em 1817 pelo padre Manuel Aires do Casal, que a publicou no Rio de Janeiro.
Apesar de a Torre do Tombo não ter registro de qualquer saída da carta de Portugal, não é a primeira vez que ela vem ao país (leia texto abaixo). A última vez foi em São Paulo, em 1954, quando foi exibida na "Exposição de História", no Quarto Centenário de São Paulo, trazida pelo professor Jaime Cortesão, curador da mostra.
Depois de São Paulo, a carta será exibida em outras quatro cidades: Brasília, Rio de Janeiro, Salvador e Recife.

Manto tupinambá
Outra vedete da exposição que também chegou ontem pela manhã à cidade, mas só desembarcou no parque Ibirapuera às 17h, foi o manto tupinambá, a obra mais esperada do módulo Artes Indígenas.
Proveniente do Museu Nacional da Dinamarca, em Copenhague, a obra de 1,2 metro de comprimento, realizada com fibras naturais e penas de guará, chegou em uma caixa de alumínio lacrada. Segundo a curadora Anne Lisbeth Schmidt, a caixa permaneceria fechada pois necessita de 24 horas de estabilidade climática (adaptação da peça às condições de umidade, temperatura e iluminação local).
O manto foi levado de Pernambuco para a Europa por Maurício de Nassau durante a ocupação holandesa do Nordeste, entre 1637 e 1644, e foi presenteado ao rei da Dinamarca.


Texto Anterior: Governo Garotinho: Irregularidades levam crise à Uerj
Próximo Texto: Documento já veio ao Brasil no séc. 19
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.