São Paulo, quarta-feira, 21 de abril de 2004

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BRASIL PROFUNDO

Saída de policiais foi no fim de 2003; Bastos sabia de riscos

Sem verba, PF abandonou área meses antes do conflito

Antonio Gauderio/Folha Imagem
Policiais descarregam placas que serão instaladas em postos de fiscalização próximo à reserva


EDUARDO SCOLESE
LUIS RENATO STRAUSS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Por falta de verba, no final do ano passado um grupo de dez policiais federais coordenados pela direção da corporação, em Brasília, foi retirado da terra indígena Roosevelt, em Rondônia. Eles eram remanescentes de uma operação especial da PF no local para evitar um confronto entre índios cinta-larga e garimpeiros.
Na mesma época, a CPI do Garimpo da Assembléia Legislativa de Rondônia e o governador do Estado, Ivo Cassol (PSDB), pediram ao ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) uma "intervenção federal" para impedir conflitos na área. Cassol, também por meio de ofício, fez o mesmo pedido ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, falando em risco de "derramamento de sangue".
Em conflito ocorrido no dia 7, na disputa pela extração de diamantes, pelo menos 29 garimpeiros foram mortos por cinta-larga.
Ontem, o ministro admitiu que o governo federal já sabia dos riscos de conflito na região. "O governo tem há muito tempo informações das dificuldades e dos problemas dos riscos do garimpo Roosevelt. É uma situação séria. É uma situação que veio de outros governos e agora nós temos um trabalho constante feito ali [na reserva, em Espigão d'Oeste, 534 km de Porto Velho]."
Em seguida, Bastos reafirmou que o trabalho do governo na região tem sido constante desde o início da gestão. "Nós tínhamos consciência da dificuldade que havia naquele garimpo. Mas estamos trabalhando constantemente desde o primeiro dia que assumimos o governo."
De acordo com o coordenador-geral de defesa institucional da PF, delegado José Milton Rodrigues, a presença de policiais federais na região de conflito ajudava a "inibir" a entrada de garimpeiros na terra indígena. "É evidente que apenas a presença da Polícia Federal na região não seria suficiente para evitar os conflitos. Mas o grupo permanente que atuava na área ajudava a inibir a entrada dos garimpeiros", disse.
Segundo ele, os policiais federais foram retirados por causa da falta de verbas para sua manutenção. Entre janeiro, quando a PF enviou agentes para a retirada de 5.000 garimpeiros, e o final de 2003, a presença da PF na área foi permanente. "Por causa da falta de recursos, em novembro tivemos de retirar os policiais [oriundos de diferentes superintendências regionais da corporação]."
O Sindicato dos Servidores da Polícia Federal de Rondônia e a Fenapef (Federação Nacional dos Policiais Federais) afirmam que há 60 dias a PF retirou dois postos que eram mantidos na região -um em Pimenta Bueno e outro próximo à reserva indígena. Assim, o efetivo foi reduzido para cinco agentes no início do ano e, finalmente, desmontado.
Segundo as entidades, o governo foi informado também em fevereiro pelo Serviço de Inteligência da PF que a área precisava de reforço. Procurada pela Folha, a superintendência da Polícia Federal em Rondônia não ligou de volta para falar sobre o caso até a conclusão desta edição.
A reportagem teve acesso a ofícios enviados ao governo. No documento direcionado a Bastos, Cassol afirmou que a situação na reserva indígena era "triste, de revolta e de miséria". No ofício enviado a Lula, solicitou "providências para evitar um novo conflito com derramamento de sangue".


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