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BRASIL PROFUNDO
Saída de policiais foi no fim de 2003; Bastos sabia de riscos
Sem verba, PF abandonou
área meses antes do conflito
Antonio Gauderio/Folha Imagem
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Policiais descarregam placas que serão instaladas em postos de fiscalização próximo à reserva |
EDUARDO SCOLESE
LUIS RENATO STRAUSS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Por falta de verba, no final do
ano passado um grupo de dez policiais federais coordenados pela
direção da corporação, em Brasília, foi retirado da terra indígena
Roosevelt, em Rondônia. Eles
eram remanescentes de uma operação especial da PF no local para
evitar um confronto entre índios
cinta-larga e garimpeiros.
Na mesma época, a CPI do Garimpo da Assembléia Legislativa
de Rondônia e o governador do
Estado, Ivo Cassol (PSDB), pediram ao ministro Márcio Thomaz
Bastos (Justiça) uma "intervenção
federal" para impedir conflitos na
área. Cassol, também por meio de
ofício, fez o mesmo pedido ao
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, falando em risco de "derramamento de sangue".
Em conflito ocorrido no dia 7,
na disputa pela extração de diamantes, pelo menos 29 garimpeiros foram mortos por cinta-larga.
Ontem, o ministro admitiu que
o governo federal já sabia dos riscos de conflito na região. "O governo tem há muito tempo informações das dificuldades e dos
problemas dos riscos do garimpo
Roosevelt. É uma situação séria. É
uma situação que veio de outros
governos e agora nós temos um
trabalho constante feito ali [na reserva, em Espigão d'Oeste, 534
km de Porto Velho]."
Em seguida, Bastos reafirmou
que o trabalho do governo na região tem sido constante desde o
início da gestão. "Nós tínhamos
consciência da dificuldade que
havia naquele garimpo. Mas estamos trabalhando constantemente
desde o primeiro dia que assumimos o governo."
De acordo com o coordenador-geral de defesa institucional da
PF, delegado José Milton Rodrigues, a presença de policiais federais na região de conflito ajudava
a "inibir" a entrada de garimpeiros na terra indígena. "É evidente
que apenas a presença da Polícia
Federal na região não seria suficiente para evitar os conflitos.
Mas o grupo permanente que
atuava na área ajudava a inibir a
entrada dos garimpeiros", disse.
Segundo ele, os policiais federais foram retirados por causa da
falta de verbas para sua manutenção. Entre janeiro, quando a PF
enviou agentes para a retirada de
5.000 garimpeiros, e o final de
2003, a presença da PF na área foi
permanente. "Por causa da falta
de recursos, em novembro tivemos de retirar os policiais [oriundos de diferentes superintendências regionais da corporação]."
O Sindicato dos Servidores da
Polícia Federal de Rondônia e a
Fenapef (Federação Nacional dos
Policiais Federais) afirmam que
há 60 dias a PF retirou dois postos
que eram mantidos na região
-um em Pimenta Bueno e outro
próximo à reserva indígena. Assim, o efetivo foi reduzido para
cinco agentes no início do ano e,
finalmente, desmontado.
Segundo as entidades, o governo foi informado também em fevereiro pelo Serviço de Inteligência da PF que a área precisava de
reforço. Procurada pela Folha, a
superintendência da Polícia Federal em Rondônia não ligou de volta para falar sobre o caso até a
conclusão desta edição.
A reportagem teve acesso a ofícios enviados ao governo. No documento direcionado a Bastos,
Cassol afirmou que a situação na
reserva indígena era "triste, de revolta e de miséria". No ofício enviado a Lula, solicitou "providências para evitar um novo conflito
com derramamento de sangue".
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