São Paulo, quarta-feira, 21 de abril de 2004

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TODA MÍDIA

Ciro, o discreto

NELSON DE SÁ

- O senhor tem sido muito discreto.
Era a Globo, durante longa e inusitada entrevista com Ciro Gomes, ministro da Integração Nacional, duas vezes candidato a presidente -e eleito pela revista "Time", há exatos dez anos, um dos cem "líderes emergentes" do mundo.
Ele falou longamente sobre o que a emissora descreveu como "um projeto tão grandioso quanto o tamanho do rio: a transposição das águas do São Francisco".
Ciro disse que não se trata de transposição, que a expressão "é um equívoco", e sim:
- O que pode ser feito é a manipulação de 0,5% da água que sobra, que vai para o mar.
É nisso que está trabalhando agora, parte de um projeto para décadas, de desenvolvimento do semi-árido. Mas ele avisa que, sem a "manipulação de 0,5% da água" do rio:
- Vai faltar água em curto prazo para abastecimento humano. O colapso do abastecimento já está no universo de cinco a sete anos.
Mas Ciro não deixou sua "discrição" para falar somente do São Francisco.
Em resposta à pergunta sobre se apóia ou não a proposta de Aloizio Mercadante, de "rever a inflação de 2004 para 5,5% e não 4,5%", ele antes defendeu com veemência a política econômica de Antonio Palocci:
- Quando o presidente Lula tomou posse, a inflação extrapolava 30%; nós vamos agora a 6% ao ano. O câmbio estava em R$ 4 por dólar e está estabilizado há oito, dez meses em R$ 2,90. Você tem juro ainda alto, há uma queixa justa e procedente, mas é o juro real mais baixo dos últimos nove anos. O país consolidou US$ 200 bilhões de rombo em transações correntes nos oito anos do governo passado; e agora tivemos, pela primeira vez em 11 anos, um superávit em transações correntes.
Mas não é o bastante, diz ele, o governo quer "que o país produza empregos e gere renda". E enfim Ciro respondeu:
- Eu tenho absoluta concordância com a idéia do senador Aloizio Mercadante.

AUTO DOS 99%

Voz de uma jovem sedutora:
- Conte a história do Brasil...
E um homem:
- Mas é muito triste.
E a jovem:
- Ah, eu sou masoquista.
É o início do "Auto dos 99%", musical de Vianinha, Marco Aurélio Garcia (assessor de Lula) e vários outros que fez história no Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes. Em 1º de abril de 64, a sede da UNE foi queimada e a gravação do musical sumiu.
Sobraram poucas cópias. Uma delas ficou com o então presidente da UNE, José Serra, que repassou a gravação a Franklin Martins, que jogou no ar em sua página na Globo.com.
Tem cerca de 32 minutos, com inteligência e ironia -até cinismo- difíceis de imaginar nos protagonistas daqueles anos de engajamento.
Coincidência ou não, a fita apareceu no site quase ao mesmo tempo em que Serra se autodescrevia como "à esquerda" do PT -apesar do PFL e dos oito anos de Fernando Henrique e Pedro Malan.

Voz
Eleito uma das cem pessoas mais influentes pela revista "Time", Lula fez ontem um pronunciamento, reproduzido nos canais de notícia e sites, pedindo "diálogo" nas relações internacionais, até para não causar ciúmes. Mas pede mais:
- Queremos nossa voz ainda mais ouvida e respeitada.

Parceria
A voz de Lula está sendo ouvida na China. Ele declarou anteontem que seu governo "está dando grande atenção ao desenvolvimento da parceria estratégica com a China" -e o "Diário do Povo" e a agência Xinhua destacaram de pronto.
Destacaram também o agradecimento do governo chinês pela "firme oposição do Brasil à independência de Taiwan".

Passo a passo
Na última semana, fontes diversas como a revista "Forbes", a agência Dow Jones e outras vêm seguindo passo a passo a aproximação Brasil/China.
No G-20, no petróleo, na soja, na indústria aeronáutica, na infra-estrutura etc.

África
O sul-africano "Business Day" segue outra aproximação. Noticiou para "logo" um acordo entre Mercosul e os países da Sacu -a união aduaneira dos países do sul da África.

Café
O "Valor" noticiou e prontamente o colombiano "El Tiempo" reproduziu a notícia de que o Brasil identificou o mapa genético do café tipo arábico.
Para um empresário brasileiro, citado na Colômbia, com isso o Brasil assume a liderança na investigação científica no setor.

Bush x Kerry
O "Washington Post" fez as contas e acusou: os canais de notícia americanos (CNN, Fox News e MSNBC, este uma união de Microsoft e NBC) estão dando mais espaço para o presidente George W. Bush do que para o democrata John Kerry.
Em pouco mais de duas semanas, foram 12 horas e 11 minutos de transmissão ao vivo para Bush, contra 3 horas e 47 minutos para Kerry. Sem contar comerciais, para os quais Bush tem muito mais dinheiro.

Fox News/Reprodução
GREENSPAN DERRUBA O presidente do banco central americano surgiu na Fox News (acima, no centro da imagem) e em outros canais para afirmar que a banca americana "está preparada para juros mais altos". E o UOL noticiou em seguida: "Greenspan derruba mercados". Subiu o dólar, caiu a Bolsa, aumentou o risco Brasil.


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