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Compadre de Lula
nega ter feito caixa
dois para petistas
ADRIANO CEOLIN
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Convocado para falar sobre as
denúncias de irregularidades em
prefeituras administradas pelo PT
na década de 90, o advogado Roberto Teixeira detalhou ontem à
CPI dos Bingos sua amizade de 25
anos com o compadre e presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Teve
de explicar ainda a atuação de seu
escritório de advocacia na defesa
de empresas como a Varig, a Brasil Telecom e a Transbrasil, cujo
ex-dono também é seu amigo.
Para a oposição, apesar de
"morno", o depoimento de Teixeira reforçou as suspeitas de que
a prática de caixa dois no PT funcionava há mais de uma década e
tinha o aval de Lula. "Agora são
dois [sic] Okamottos, duas pessoas que se completam, que têm
interação com o presidente", disse o senador Tasso Jereissati
(PSDB-CE), citando o presidente
do Sebrae, Paulo Okamotto, outro amigo do presidente Lula.
A oposição quer quebrar os sigilos bancários de Teixeira em busca de irregularidades que envolvam Lula. "Os sigilos dele são necessários porque é uma relação
mais íntima do que o apontado
aqui na CPI", disse Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).
Durante cinco horas, Teixeira
praticamente só falou de questões
pessoais e detalhou episódios de
sua amizade com o presidente.
Confirmou ter cedido uma casa
em São Bernardo do Campo (SP)
a Lula e que ajudou a comprar o
atual apartamento do presidente.
Protegido por uma liminar do
Supremo Tribunal Federal que
lhe assegurava o direito de não
responder a perguntas que poderiam incriminá-lo, o advogado
também rebateu as denúncias do
ex-militante do PT Paulo de Tarso
Venceslau, que o acusa de intermediar contratos sem licitação
entre a empresa Cpem (da qual
seu irmão Dirceu Teixeira é advogado) e prefeituras do PT com o
objetivo de fazer caixa dois para o
partido nos anos 90.
À época das denúncias, o caso
foi investigado por uma comissão
interna do PT formada por Paul
Singer, Helio Bicudo e José
Eduardo Martins Cardozo. O relatório final considerou-o culpado, mas Teixeira recorreu ao Diretório Nacional do PT, que o absolveu. O documento que isentou
Teixeira foi assinado pelo deputado cassado José Dirceu (SP), então presidente nacional da sigla.
Essa informação gerou críticas
do pefelista José Jorge (PFL-PE).
"É realmente muito difícil a gente
acreditar que não tenha ocorrido
um jogo de cartas marcadas", disse. "Hoje ele [Dirceu] é considerado pelo Ministério Público o chefe
de uma organização criminosa."
Questionado sobre seu vínculo
com a Cpem pelo relator da CPI,
Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), Teixeira negou ter sido dono
ou representante da empresa.
"Nunca pus os pés naquela empresa e nunca atuei como seu representante", disse. "Desafio
qualquer pessoa que possa trazer
qualquer tipo de prova razoável."
Contudo, não rebateu a versão
de Venceslau de que ele apresentou os serviços da Cpem à Prefeitura de Campinas numa reunião
em 1990 com então prefeito Jacó
Bittar e o próprio Venceslau, que
era secretário de finanças: "Ele
[Bittar] me levou para eu ver uma
série de obras. Passados 15 anos,
não consigo me lembrar de tudo
que conversei e assisti na cidade".
Teixeira disse que emprestou
uma casa a Lula em 1988, depois
de ter sido procurado por integrantes da cúpula do PT. Entre
eles, citou Luiz Gushiken, atualmente chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência.
O advogado contou que os dirigentes petistas argumentaram
que, por questões de segurança,
Lula não poderia continuar vivendo numa casa popular comprada pelo BNH (Banco Nacional
de Habitação): "Nesse ínterim, a
nossa amizade havia crescido bastante. Quando nasceu Luis Cláudio [filho caçula do presidente],
eu fui convidado para ser o padrinho. O nordestino tem um apreço
a relação de compadrio que não
existe em outro lugar", explicou
Teixeira: "Me orgulho disso".
Apesar da amizade, o advogado
afirma que nunca foi beneficiado
pelo fato de Lula ser presidente.
As suspeitas se dão principalmente por causa das companhias aéreas, já que Teixeira prestou serviços à Transbrasil e à Varig.
Teixeira negou ter influência na
Infraero: "Hoje sou persona non
grata na Infraero. Quem tem poder lá dentro é a Gol. Não outras
empresas". Essa declaração fez
com que o senador Heráclito Fortes (PFL-PI) aventasse a possibilidade de chamar Teixeira para falar na Comissão de Infra-Estrutura. O advogado admitiu ainda ter
assinado contrato com a Varig,
mas o mesmo acabou não vingando porque a primeira parcela
pelos serviços não foi paga.
Teixeira contou que advogou
também para a Brasil Telecom.
No entanto, afirmou que, ao assinar contrato com a empresa de telefonia, incluiu cláusula que o
proibia de atuar em causas de advocacia administrativa. Sobre a
Transbrasil, Teixeira disse ter
atuado em diversas ações judiciais, mas negou ter feito lobby.
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