São Paulo, sexta-feira, 21 de abril de 2006

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Compadre de Lula nega ter feito caixa dois para petistas

ADRIANO CEOLIN
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Convocado para falar sobre as denúncias de irregularidades em prefeituras administradas pelo PT na década de 90, o advogado Roberto Teixeira detalhou ontem à CPI dos Bingos sua amizade de 25 anos com o compadre e presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Teve de explicar ainda a atuação de seu escritório de advocacia na defesa de empresas como a Varig, a Brasil Telecom e a Transbrasil, cujo ex-dono também é seu amigo.
Para a oposição, apesar de "morno", o depoimento de Teixeira reforçou as suspeitas de que a prática de caixa dois no PT funcionava há mais de uma década e tinha o aval de Lula. "Agora são dois [sic] Okamottos, duas pessoas que se completam, que têm interação com o presidente", disse o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), citando o presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, outro amigo do presidente Lula.
A oposição quer quebrar os sigilos bancários de Teixeira em busca de irregularidades que envolvam Lula. "Os sigilos dele são necessários porque é uma relação mais íntima do que o apontado aqui na CPI", disse Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).
Durante cinco horas, Teixeira praticamente só falou de questões pessoais e detalhou episódios de sua amizade com o presidente. Confirmou ter cedido uma casa em São Bernardo do Campo (SP) a Lula e que ajudou a comprar o atual apartamento do presidente.
Protegido por uma liminar do Supremo Tribunal Federal que lhe assegurava o direito de não responder a perguntas que poderiam incriminá-lo, o advogado também rebateu as denúncias do ex-militante do PT Paulo de Tarso Venceslau, que o acusa de intermediar contratos sem licitação entre a empresa Cpem (da qual seu irmão Dirceu Teixeira é advogado) e prefeituras do PT com o objetivo de fazer caixa dois para o partido nos anos 90.
À época das denúncias, o caso foi investigado por uma comissão interna do PT formada por Paul Singer, Helio Bicudo e José Eduardo Martins Cardozo. O relatório final considerou-o culpado, mas Teixeira recorreu ao Diretório Nacional do PT, que o absolveu. O documento que isentou Teixeira foi assinado pelo deputado cassado José Dirceu (SP), então presidente nacional da sigla.
Essa informação gerou críticas do pefelista José Jorge (PFL-PE). "É realmente muito difícil a gente acreditar que não tenha ocorrido um jogo de cartas marcadas", disse. "Hoje ele [Dirceu] é considerado pelo Ministério Público o chefe de uma organização criminosa."
Questionado sobre seu vínculo com a Cpem pelo relator da CPI, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), Teixeira negou ter sido dono ou representante da empresa. "Nunca pus os pés naquela empresa e nunca atuei como seu representante", disse. "Desafio qualquer pessoa que possa trazer qualquer tipo de prova razoável."
Contudo, não rebateu a versão de Venceslau de que ele apresentou os serviços da Cpem à Prefeitura de Campinas numa reunião em 1990 com então prefeito Jacó Bittar e o próprio Venceslau, que era secretário de finanças: "Ele [Bittar] me levou para eu ver uma série de obras. Passados 15 anos, não consigo me lembrar de tudo que conversei e assisti na cidade".
Teixeira disse que emprestou uma casa a Lula em 1988, depois de ter sido procurado por integrantes da cúpula do PT. Entre eles, citou Luiz Gushiken, atualmente chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência.
O advogado contou que os dirigentes petistas argumentaram que, por questões de segurança, Lula não poderia continuar vivendo numa casa popular comprada pelo BNH (Banco Nacional de Habitação): "Nesse ínterim, a nossa amizade havia crescido bastante. Quando nasceu Luis Cláudio [filho caçula do presidente], eu fui convidado para ser o padrinho. O nordestino tem um apreço a relação de compadrio que não existe em outro lugar", explicou Teixeira: "Me orgulho disso".
Apesar da amizade, o advogado afirma que nunca foi beneficiado pelo fato de Lula ser presidente. As suspeitas se dão principalmente por causa das companhias aéreas, já que Teixeira prestou serviços à Transbrasil e à Varig.
Teixeira negou ter influência na Infraero: "Hoje sou persona non grata na Infraero. Quem tem poder lá dentro é a Gol. Não outras empresas". Essa declaração fez com que o senador Heráclito Fortes (PFL-PI) aventasse a possibilidade de chamar Teixeira para falar na Comissão de Infra-Estrutura. O advogado admitiu ainda ter assinado contrato com a Varig, mas o mesmo acabou não vingando porque a primeira parcela pelos serviços não foi paga.
Teixeira contou que advogou também para a Brasil Telecom. No entanto, afirmou que, ao assinar contrato com a empresa de telefonia, incluiu cláusula que o proibia de atuar em causas de advocacia administrativa. Sobre a Transbrasil, Teixeira disse ter atuado em diversas ações judiciais, mas negou ter feito lobby.


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