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Operação da PF investiga venda de sentenças em SP
Quadrilha envolveria desembargadores, juízes e procurador da Fazenda Nacional
Polícia cumpre mandados de busca e apreensão no Tribunal Regional de SP e em casas e escritórios de magistrados e advogados
FREDERICO VASCONCELOS
LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Federal e o Ministério Público deflagraram ontem
uma ofensiva contra uma suposta quadrilha que negociava
a venda de sentenças judiciais.
Batizada de Operação Têmis
-nome da deusa grega da Justiça-, ela resultou no cumprimento de mais de 80 mandados
de busca e apreensão em São
Paulo, Rio de Janeiro e Campo
Grande (MS) em escritórios de
advocacia e contabilidade, residências e gabinetes de juízes e
de desembargadores do TRF
(Tribunal Regional Federal) de
São Paulo e de um procurador
da Fazenda Nacional.
As casas de policiais civis, de
lobistas e de uma funcionária
da Receita Federal também foram vasculhadas.
Embora tenha extrapolado
os limites da capital paulista, o
foco da operação é São Paulo.
Todos os mandados foram
executados com autorização do
STJ (Superior Tribunal de Justiça). A PF e o Ministério Público solicitaram também a prisão
das 43 pessoas investigadas,
mas o STJ negou a solicitação.
Até as 17h de ontem, a operação não havia sido finalizada. A
PF não divulgou um balanço
parcial do que foi apreendido.
Ao todo, 400 policiais de São
Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina
participaram das buscas. Durante todo o dia de ontem, diversos veículos da PF chegaram
à sede do órgão na capital paulista com malas, papéis e computadores apreendidos. Apenas três carros e duas motos
dos investigados estavam no
estacionamento da polícia.
O esquema
O esquema teria começado
em meados de 2006, para investigar a suspeita de vendas de
sentença por meio de uma suposta quadrilha que intermediava decisões de juízes federais paulistas e de desembargadores do TRF-3, com sede em
São Paulo. Essa operação eclodiu ontem, associada à Hurricane (deflagrada na sexta-feira
da semana passada), porque alguns magistrados investigados
tinham proferido decisões que
favoreciam bingos. A Têmis é
bem maior que a Hurricane.
"O bingo, pela nossa investigação, não era o prioritário. Era
mais um componente. O forte
foi a compensação de créditos
tributários. Isso lesou a Fazenda Nacional muito", disse Geraldo José de Araújo, superintendente da PF em São Paulo.
Segundo Luiz Roberto Ungaretti de Godoy, delegado da PF,
"a organização criminosa consistia basicamente na atuação
de lobistas junto à Justiça Federal e, paralelamente, havia
uma frente na Receita Federal
e uma na Polícia Civil. A quadrilha conseguia favores, benefícios em decisões".
De acordo com o delegado,
houve pagamento mensal de
dinheiro para magistrados em
troca de decisões judiciais.
O superintendente da PF em
São Paulo, chegou a brincar e
dizer que o suposto esquema
era uma espécie de "bingão".
Um dos principais alvos das
investigações da Operação Têmis é o juiz federal Manoel Álvares, titular da 4ª Vara de Execuções Fiscais, convocado pelo
TRF-3, em abril de 2003, para
substituir o desembargador
Roberto Haddad. Ele é investigado em inquérito sigiloso no
STJ. Não houve busca em sua
residência, ontem, porque o
MPF já levantara, em 2006, indícios de provas suficientes.
Foram realizadas busca e
apreensão na residência de
Haddad. O desembargador havia sido afastado do cargo por
decisão do STJ, ao receber denúncia sob acusação de falsificação de documentos.
Em agosto, Álvares deixou o
cargo de juiz convocado do tribunal. Haddad reassumiu em
janeiro, depois que o STF trancou ação penal, em julgamento
de habeas corpus relatado pelo
ministro Gilmar Mendes.
Quando Haddad obteve a decisão favorável no STF, trancando a ação penal, as investigações que corriam em São
Paulo subiram para o STJ. Foi
instaurado o Inquérito nº 547,
que tramita sob sigilo, com as
iniciais M.A. (Manoel Álvares)
e tendo como relator o ministro
Félix Fischer, que autorizou as
escutas. Em março, a PF e o
MPF fizeram os pedidos de prisão, negados por Fischer.
Outros magistrados investigados são os juízes federais Maria Cristina Cukierkorn e Djalma Moreira Gomes, os desembargadores Nery da Costa Júnior e Alda Basto. Também é
suspeito o procurador da Fazenda Nacional Sérgio Ayala.
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