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Polícia ouve membros do MST após confronto em fazenda de Dantas
Conflito no Pará entre sem-terra e seguranças da propriedade deixou 9 feridos
EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A XINGUARA (PA)
A Polícia Civil do Pará começou ontem a colher depoimentos de integrantes do MST
(Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) no inquérito que apura o confronto
do último sábado com seguranças de uma fazenda, em Xinguara (792 km de Belém), que
tem o banqueiro Daniel Dantas
entre os proprietários.
Os advogados da Agropecuária Santa Bárbara prometeram
entregar à polícia um vídeo do
conflito, que deixou nove feridos a bala -oito sem-terra e
um funcionário da empresa de
segurança privada da fazenda.
Um dos feridos do MST, Valdeci Castro, permanece internado em Marabá. Hoje ele deve
ser transferido para Belém, onde passará por uma cirurgia para a retirada de uma bala alojada próxima ao coração.
O delegado Luiz Paulo Galrão disse que usará as imagens
para identificar os atiradores
de ambos os lados. Com base no
que já foi divulgado pela TV, a
polícia desconfia que, entre os
homens armados da fazenda,
havia não apenas seguranças
mas também vaqueiros. A polícia requisitou aos advogados da
fazenda as armas usadas no
conflito. Elas serão periciadas.
Pelo lado dos sem-terra, está
prevista uma revista no acampamento, na entrada da fazenda, às margens da rodovia PA-150, entre as cidades de Xinguara e Eldorado do Carajás.
Tranquilidade
O clima ontem era de tranquilidade no acampamento e
na entrada da fazenda. As estradas da região foram todas liberadas.
Na manhã de sábado, algumas horas antes do conflito,
quatro jornalistas de Marabá
viajaram à fazenda num voo
fretado pela Santa Bárbara. No
domingo, retornaram da mesma forma, usando uma pista
dentro da propriedade.
A Folha conversou com um
dos jornalistas, o repórter Vítor
Haor, da TV Liberal (afiliada da
Rede Globo). Questionado se
permaneceu como refém, Haor
afirmou: "Na medida em que
nós estávamos dentro da fazenda, sem poder sair, com medo de uma nova invasão, me
senti ali acuado".
Sobre ter sido usado como
"escudo", ele disse que foi uma
"imposição" dos sem-terra que
os jornalistas caminhassem à
frente deles até a entrada da fazenda. Indagado se essa imposição prosseguiu na troca de tiros, disse: "Já tínhamos saído
da frente [dos sem-terra]".
O governo do Pará e o MST
afirmam que nenhum jornalista foi feito refém.
Nota da ANJ
Ontem, a ANJ divulgou nota
sobre o conflito no Pará na qual
afirma:
"A Associação Nacional de
Jornais (ANJ) repudia com
veemência a ação criminosa de
integrantes do MST do Pará, no
sábado, dia 18, que mantiveram
quatro jornalistas como reféns
e os usaram como escudos humanos no enfrentamento com
seguranças da Fazenda Castanhais, em Xinguara.
É injustificável e condenável
sob todos os aspectos que se
atente dessa forma contra a integridade física das pessoas,
num revoltante descaso com a
vida humana. Além disso, os integrantes do MST atentaram
contra o livre exercício do jornalismo, aterrorizando profissionais que cobriam o evento
com objetivo de informar à sociedade. Felizmente, ninguém
saiu fisicamente ferido dessa
ação criminosa.
A ANJ espera que as autoridades do Pará cumpram com
sua obrigação, investigando
com rapidez e eficiência o crime cometido contra os jornalistas e a sociedade, identificando seus autores e levando o caso à Justiça, para a devida punição. A democracia é o regime da
ordem, do respeito à vida humana e da valorização da liberdade."
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