São Paulo, terça-feira, 21 de abril de 2009

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Polícia ouve membros do MST após confronto em fazenda de Dantas

Conflito no Pará entre sem-terra e seguranças da propriedade deixou 9 feridos

EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A XINGUARA (PA)

A Polícia Civil do Pará começou ontem a colher depoimentos de integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) no inquérito que apura o confronto do último sábado com seguranças de uma fazenda, em Xinguara (792 km de Belém), que tem o banqueiro Daniel Dantas entre os proprietários.
Os advogados da Agropecuária Santa Bárbara prometeram entregar à polícia um vídeo do conflito, que deixou nove feridos a bala -oito sem-terra e um funcionário da empresa de segurança privada da fazenda.
Um dos feridos do MST, Valdeci Castro, permanece internado em Marabá. Hoje ele deve ser transferido para Belém, onde passará por uma cirurgia para a retirada de uma bala alojada próxima ao coração.
O delegado Luiz Paulo Galrão disse que usará as imagens para identificar os atiradores de ambos os lados. Com base no que já foi divulgado pela TV, a polícia desconfia que, entre os homens armados da fazenda, havia não apenas seguranças mas também vaqueiros. A polícia requisitou aos advogados da fazenda as armas usadas no conflito. Elas serão periciadas.
Pelo lado dos sem-terra, está prevista uma revista no acampamento, na entrada da fazenda, às margens da rodovia PA-150, entre as cidades de Xinguara e Eldorado do Carajás.

Tranquilidade
O clima ontem era de tranquilidade no acampamento e na entrada da fazenda. As estradas da região foram todas liberadas.
Na manhã de sábado, algumas horas antes do conflito, quatro jornalistas de Marabá viajaram à fazenda num voo fretado pela Santa Bárbara. No domingo, retornaram da mesma forma, usando uma pista dentro da propriedade.
A Folha conversou com um dos jornalistas, o repórter Vítor Haor, da TV Liberal (afiliada da Rede Globo). Questionado se permaneceu como refém, Haor afirmou: "Na medida em que nós estávamos dentro da fazenda, sem poder sair, com medo de uma nova invasão, me senti ali acuado".
Sobre ter sido usado como "escudo", ele disse que foi uma "imposição" dos sem-terra que os jornalistas caminhassem à frente deles até a entrada da fazenda. Indagado se essa imposição prosseguiu na troca de tiros, disse: "Já tínhamos saído da frente [dos sem-terra]".
O governo do Pará e o MST afirmam que nenhum jornalista foi feito refém.

Nota da ANJ
Ontem, a ANJ divulgou nota sobre o conflito no Pará na qual afirma:
"A Associação Nacional de Jornais (ANJ) repudia com veemência a ação criminosa de integrantes do MST do Pará, no sábado, dia 18, que mantiveram quatro jornalistas como reféns e os usaram como escudos humanos no enfrentamento com seguranças da Fazenda Castanhais, em Xinguara.
É injustificável e condenável sob todos os aspectos que se atente dessa forma contra a integridade física das pessoas, num revoltante descaso com a vida humana. Além disso, os integrantes do MST atentaram contra o livre exercício do jornalismo, aterrorizando profissionais que cobriam o evento com objetivo de informar à sociedade. Felizmente, ninguém saiu fisicamente ferido dessa ação criminosa.
A ANJ espera que as autoridades do Pará cumpram com sua obrigação, investigando com rapidez e eficiência o crime cometido contra os jornalistas e a sociedade, identificando seus autores e levando o caso à Justiça, para a devida punição. A democracia é o regime da ordem, do respeito à vida humana e da valorização da liberdade."


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